What3words: como um aplicativo está revolucionando a atividade de resgate
26 de outubro de 2019 5min de leitura
26 de outubro de 2019 5min de leitura
A polícia britânica pediu a todos que façam o download do aplicativo what3words para celular porque, segundo eles, várias vidas foram salvas graças ao programa disponível também no Brasil. Mas como ele funciona?
“Chutado. Convergido. Futebol”
Essas três palavras escolhidas aleatoriamente pelo aplicativo salvaram Jess Tinsley e seus amigos quando eles se perderam na floresta em uma noite escura e úmida na Inglaterra.
O grupo havia planejado uma trilha circular de 8 km na Hamsterley Forest, de quase 20 km², no condado de Durham, na noite de domingo, mas os amigos se perderam depois de três horas.
“Estávamos em um campo e não fazíamos ideia de onde era aquilo”, disse a jovem de 24 anos. “Foi horrível. Eu estava fazendo piadas sobre a situação, tentando rir para não chorar.”
Às 22h30 do horário local, encontraram uma área com sinal de telefone e ligaram para o serviço de emergência.
“Uma das primeiras coisas que o atendente nos disse para fazer foi baixar o aplicativo what3words, do qual nunca tinha ouvido falar”, disse Tinsley.
Um minuto depois do download, a polícia conseguiu descobrir onde o grupo estava. Eles foram resgatados pouco tempo depois.
Quando o CEP ou o GPS não dão conta
O aplicativo what3words, essencialmente, aponta para um local muito específico.
Seus desenvolvedores dividiram o mundo em 57 trilhões de quadrados, cada um medindo 3m x 3m e com um endereço exclusivo de três palavras, atribuído aleatoriamente.
A estação de metrô Faria Lima em São Paulo, por exemplo, tem duas entradas e saídas. Uma delas pode ser encontrada pelo trio de palavras “Gelar. Recuar. Levar” e a outra, “Falhar. Pirata. Aflita”.
O aplicativo surgiu de problemas ligados a correspondências do fundador da empresa, Chris Sheldrick, que cresceu na zona rural de Hertfordshire.
“Nosso CEP não apontava direito para a nossa casa”, disse ele.
“Nós nos acostumamos a receber cartas que eram para outras pessoas, ou ter que ficar na estrada acenando para motoristas de entrega.”
Dez anos trabalhando na indústria da música, que envolviam também a tentativa de fazer com que as bandas se encontrassem em entradas específicas dos locais de apresentação, também alimentaram sua frustração.
“Eu tentei orientar as pessoas a usarem longitude e latitude, mas isso nunca pegou de fato”, disse Sheldrick.
“Então, pensei: como comprimir 16 dígitos em algo muito mais amigável? Eu estava falando com um matemático e descobrimos que havia combinações suficientes de três palavras para cada local do mundo.”
Chris Sheldrick fundou what3words em 2013 após enfrentar problemas pessoais com entregas de correspondências e pontos de encontro de bandas nos locais dos shows
Na verdade, 40 mil palavras foram suficientes.
A empresa começou em 2013 e agora emprega mais de cem pessoas em sua base em Royal Oak, oeste de Londres.
Serviços de emergência e guias de viagem
A Mongólia adotou as palavras-chave para seu serviço postal, e o guia de viagens Lonely Planet sobre o país fornece endereços de três palavras para pontos turísticos.
A Mercedes Benz também incluiu o sistema em seus carros, e o what3words está sendo usado agora em 35 idiomas. O Airbnb também usa as três palavras para localizar imóveis oferecidos na plataforma.
Segundo Lee Wilkes, gerente do Cornwall Fire and Rescue Service, um dos 35 serviços de emergência ingleses e galeses que assinaram o sistema, o aplicativo “elimina toda a ambiguidade sobre onde precisamos estar”.
O sistema pode ajudar também a combater incêndios em grandes extensões rurais, por exemplo, disse Wilkes.
“Em vez de dizer ‘encontrem-se no portão e depois sejam orientados de lá’, podemos ser absolutamente específicos sobre onde a nossa equipe precisa chegar”, disse Wilkes. “Eu simplesmente não consigo ver uma desvantagem (no sistema).”
Caso as pessoas perdidas não tenham o aplicativo instalado, os serviços de emergência poderão enviar uma mensagem de texto contendo um link da web para seus telefones.
Essa alternativa exigiria um sinal de celular. No Brasil, a operadora com maior cobertura 3G do país , a Vivo, atende a 4.471 dos 4.635 municípios do país, seguida por Tim (3.195), Claro (3.966) e Oi (1.644), segundo dados da consultoria Teleco.
Mas o what3words não precisa dessa conexão de dados para determinar a localização de três palavras.
“Digamos que um membro de um grupo se feriu em uma montanha e não pode se locomover. Eles não têm sinal de celular para pedir ajuda, mas podem anotar as três palavras e avisar as equipes de resgate assim que conseguirem sinal e determinar exatamente onde está a pessoa ferida”, disse Sheldrick.
Foi o caso da polícia do Condado inglês de South Yorkshire, que usou as três palavras para encontrar um homem de 65 anos que ficou preso depois de cair em um aterro em Sheffield.
O Serviço de Bombeiros e Resgate de outro condado, North Yorkshire, encontrou uma mulher que havia batido o carro, mas não sabia onde estava.
E a polícia do Condado inglês de Humberside conseguiu resolver rapidamente um crime em curso envolvendo reféns depois que uma vítima conseguiu dizer aos policiais exatamente onde ela estava detida.
“Essa foi uma situação crítica e ser capaz de usar um endereço de três palavras significava que os policiais poderiam chegar lá muito mais rápido, resgatar o refém e prender um homem”, disse Sheldrick.
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