Uso de helicóptero contra arrastões divide especialistas
15 de outubro de 2010 4min de leitura
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Na semana passada, algumas ocorrências de “arrastões” pela cidade do Rio de Janeiro fez com que a PMERJ tomasse medidas específicas para conter esse tipo de atuação dos marginais. As aeronaves do GAM foram incluídas no planejamento e devem ter uma participação importante nessas operações. Veja abaixo um compilado das noticias publicadas:
O comando da Polícia Militar definiu que a partir desta sexta (08/10/10), helicópteros vão ajudar no combate aos assaltos nas ruas do Rio de Janeiro. A PM avisou, em nota oficial, que “a estratégia baseia-se na prevenção/repressão, através do mapeamento das áreas em que tal atividade criminosa vem acontecendo”. E o reforço não virá apenas do céu, a polícia avisou que também vai colocar mais segurança em terra, com mais motocicletas e viaturas.
Uso de helicóptero contra arrastões divide especialistas
A PM anunciou que vai concentrar na Zona Sul, no Centro, em São Cristóvão, no Maracanã e na Tijuca o novo tipo de patrulhamento aéreo. As regiões terão monitoramento aéreo realizado pelos três helicópteros da corporação. As aeronaves vão funcionar como uma plataforma de observação, mas PMs a bordo delas poderão atirar, caso sejam atacados e tenham oportunidade de revidar, destacou o major Daniel Queiroz, chefe do Núcleo Aéreo do Grupamento Aeromarítimo da PM (GAM):
– Sobre a área urbana, é complicado efetuar disparos. Se a aeronave for alvejada, podemos revidar, mas cada caso será avaliado. Pode ser mais vantajoso optar pela retirada do que por reagir, se isso colocar a população em risco.
O major contou ainda que a corporação enviou ao governo do estado um planejamento com um aumento considerável de sua frota de helicópteros até 2016, devido aos eventos esportivos que acontecerão na cidade, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas. O oficial, no entanto, não quis dizer quantos helicópteros a mais são considerados necessários. O aumento da frota ainda tem que ser aprovado pelo estado.
A expectativa é que o patrulhamento aéreo tenha efeitos imediatos, inibindo a ação de bandidos e transmitindo maior sensação de segurança à população. No ar, os policiais estarão ligados ao rádio do batalhão da área sobrevoada.
– Acontecendo qualquer crime que demande acompanhamento por helicóptero, partiremos em apoio ao policiamento em terra. Também estaremos atentos a situações suspeitas, mas essa é uma atuação mais subjetiva e menos eficiente – disse o major, informando ainda que o foco do policiamento aéreo é evitar delitos específicos, como roubos de carros e cargas, além de assaltos a estabelecimentos comerciais e financeiros.
O novo patrulhamento adotado pela Polícia Militar divide especialistas. Paulo Storani, ex-capitão do Bope e professor da Universidade Candido Mendes, considera a utilização de helicópteros bastante eficaz, quando a aeronave é aplicada no monitoramento de vias extensas.
– O Rio combina florestas com áreas urbanizadas sem planejamento prévio, além de contar com poucas áreas planas. Isso dificulta o patrulhamento em terra. Há ainda obstáculos à locomoção de viaturas, devido ao congestionamento das ruas. O uso de aeronaves como plataforma de observação é o que há de mais moderno, acontece em diversas partes do mundo – disse Storani.
Demanda por novos helicópteros deve aumentar
O ex-capitão do Bope ressaltou a importância da sensação de segurança que a novidade vai gerar na população, atualmente muito assustada com os recentes arrastões. Criminosos, por sua vez, devem se sentir intimidados diante da presença de helicópteros em pontos-chave da cidade. O especialista prevê uma diminuição imediata do número de crimes, mas aponta desafios a longo prazo:
– É possível que haja um deslocamento de criminosos para outras áreas que não estejam monitoradas pelas aeronaves. Isso deve criar inclusive uma demanda para a ampliação da frota de helicópteros da PM e de treinamento de oficiais como pilotos – disse Storani.
Ele, no entanto, é contra PMs fazerem disparos a bordo de helicópteros.
Para Ignacio Cano, sociólogo e pesquisador da Uerj, uma pessoa atirando de qualquer veículo em movimento representa insegurança para a população. Ele acredita ser improvável que a nova estratégia de patrulhamento funcione:
– Será muito difícil localizar arrastões de um helicóptero. A função desse tipo de aeronave é atuar quando há perseguição a carros em fuga. Seria mais eficiente investir em câmeras e no patrulhamento por meio de viaturas e motocicletas.
Lênin Pires, pesquisador do núcleo de estudos da UFF, concorda com Cano. A melhor saída, a seu ver, seria fazer com que as informações das investigações contribuíssem mais com o policiamento ostensivo, além de incorporar outras tecnologias às operações, como câmeras e até o uso do Twitter. Ele criticou a falta de integração entre as polícias Civil e Militar:
– A aposta nas aeronaves reflete interesses internos e externos de transformar o Rio na cidade do entretenimento. Para isso, é preciso mostrar que algo sensacional vem sendo feito.
Fonte : Agência O Globo
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