NÁDIA TEBICHERANE

O dia estava lindo. Um céu de brigadeiro muito azul convidava a voar, andar na praia, surfar ou só parar para olhar.

Estela olhava o mar pela janela e apesar das recomendações médicas decidiu andar pela areia. Aquele era um dia para se celebrar a vida e ela não ficaria trancada em casa.

Do outro lado da cidade, Marcelo, um piloto militar, pensava que estar de férias num dia como aquele era um presente. Havia sido convidado para o vôo de estréia do helicóptero novo de um amigo empresário. As três pessoas que formariam o pequeno grupo encontraram-se no heliporto. O helicóptero era demais e os três estavam ansiosos para voar. Decolaram e logo a cidade e as pessoas ficaram pequenas. E aquele céu… tudo ficava pequeno… Tomaram a rota das praias. Voavam baixo, admirando a paisagem fantástica.

Estela caminhava lentamente sentindo o vento do mar no rosto. Como era bom  sentir as ondas nos pés. Depois de tudo pelo que passou, estar ali era uma benção. Olhou para trás e percebeu que já havia se afastado bastante do centro da praia. Antes de voltar resolveu entrar só mais um pouquinho no mar. Com água pela cintura ela molhava o rosto e o pescoço. De repente, começou a sentir-se muito mal. Estava tão tonta que não conseguia ficar de pé. Caiu de joelhos. Pensava rápido e apesar da forte dor no peito sabia que precisava sair dali. Com grande esforço arrastou-se até a areia e lá ficou estendida olhando o céu. “Será que vou morrer nesse dia tão bonito?” Estela pensava quase inconsciente.

Marcelo, voando próximo a areia, avistou a mulher que num movimento muito lento levantou o braço. No mesmo instante ficou tenso e disse a Rodrigo, amigo e dono do helicóptero:

– Precisamos descer. Aquela mulher está muito mal.

– Não posso pousar aqui.- respondeu Rodrigo – A faixa de areia é muito pequena e eu teria que dar muitas explicações. Vamos acionar o resgate, afinal esse é o trabalho deles.

– O resgate pode chegar tarde. Você está mesmo sugerindo que a deixemos aqui para morrer? – Marcelo parecia não acreditar no que estava acontecendo.

– Você está certo. Vamos pousar.

A última coisa que Estela viu foi o helicóptero se aproximando.

Marcelo fez todos os procedimentos de primeiros-socorros. Estela foi colocada na aeronave e em poucos minutos era atendida no hospital próximo. Ela teve uma parada cárdio-respiratória, mas conseguira reagir e se recuperava. Marcelo entrou em seu quarto no hospital. Ela sorriu e perguntou:

– Você é o meu salvador? O que você faz? Como se chama?

– Meu nome é Marcelo e eu sou piloto da polícia…

– Não precisa responder. Na verdade não importa. Para mim você  será sempre o estranho que veio do céu e salvou a minha vida. Um brasileiro para quem faz diferença se o outro vive ou morre. Um estranho que entendeu e decidiu que todos os detalhes são menores do que a vida. Não deixe que ninguém de pensamento e coração menores que os seus lhe diga que você está errado. Acredite, haverá sempre alguém incomodado com o seu senso de humanidade e a grandeza do seu espírito. De onde você veio e em que organização você trabalha não contam em nada na hora que um coração está parando de bater. Que bom que você, estranho, sabe disso. Obrigada.