Deroci Barbosa Ximendes Júnior
Alda Lino dos Santos

RESUMO

Este artigo busca compreender os riscos à segurança de voo pela ausência do treinamento de entrada inadvertida em condições meteorológicas de voo por instrumento para pilotos de helicópteros da Polícia Miliar do Distrito Federal – PMDF, seja no processo de formação ou de manutenção de proficiência dos referidos pilotos.

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Faz uma breve apresentação sobre a aviação e o treinamento de pilotos de helicóptero na PMDF. Explica quais os sistemas que o corpo humano utiliza para se orientar e como a perda das referências visuais pode levar o piloto à perigosa condição de desorientação espacial durante o voo e, por fim, esclarece o que é uma entrada inadvertida em condições meteorológicas de voo por instrumento, suas consequências, como evitar e como se preparar para sobreviver a este evento, considerando o risco potencializado quando se trata de aeronaves que operam em missões policiais, pois os voos geralmente ocorrem em baixa altura.

A pesquisa foi exploratória e explicativa, com levantamentos bibliográficos, questionário aplicado a pilotos e experimento que reproduziu, de forma controlada, as reações dos pilotos durante os eventos, tendo sido possível comprovar a importância do treinamento de entrada inadvertida em condições meteorológicas de voo por instrumento para pilotos de helicópteros da PMDF, tanto na formação como na capacitação continuada.

INTRODUÇÃO

O tema “Treinamento de Entrada Inadvertida em Condições Meteorológicas de Voo por Instrumentos (IIMC) para Pilotos de Helicópteros da PMDF como Prevenção de Acidentes Aeronáuticos” está inserido na Área de Concentração Atividade Policial Reflexiva e dentro da Linha de Pesquisa Educação Policial, do Núcleo de Ensino e Pesquisa em Segurança Pública, Violência e Cidadania (NEPES).

A escolha do tema é relevante para a sociedade considerando que a desorientação espacial em pilotos, causada por uma IIMC, é responsável por grande parte dos acidentes aeronáuticos no mundo, inclusive em áreas habitadas. Portanto, o risco de vidas da tripulação e das pessoas em solo, bem como danos a equipamentos custeados pelos contribuintes, poderão ser minimizados com a adequada preparação das tripulações policiais.

Para a Polícia Militar do Distrito Federal, a relevância do tema apresenta-se na melhor capacitação de seus pilotos para a tomada de decisão correta em caso de uma entrada inadvertida em condições meteorológicas por instrumento durante um voo policial, aumentando o nível de alerta dos seus pilotos e as ações de prevenção de um acidente aeronáutico que, além das perdas materiais e das vidas, causaria uma imensa mancha na credibilidade da Corporação junto à comunidade aeronáutica e à sociedade em geral. Cabe ressaltar que o Batalhão de Aviação Operacional (BAvOp), antigo Grupamento de Operações Aéreas (GOA), em 17 (dezessete) anos de operação não registrou sequer um único acidente aeronáutico em sua história.

O pesquisador é piloto de helicópteros da PMDF e a escolha do tema se deu em razão de seu interesse pelo estudo de caso de acidentes aeronáuticos com helicópteros, especialmente em relatórios publicados pelo CENIPA (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos).

O Batalhão de Aviação Operacional da PMDF é a unidade responsável pelo policiamento aéreo na região do Distrito Federal, cumprindo missões desde o transporte de autoridades até o atendimento de ocorrências policiais em apoio às equipes de solo da Corporação, ficando suas aeronaves prontas para decolagem 24 (vinte e quatro) horas por dia durante os 07 (sete) dias da semana.

Desta forma, as operações estão sujeitas às condições climáticas adversas que nem sempre são passíveis de previsão, como o caso de uma decolagem para apoio em uma emergência policial, quando a tripulação busca a maneira mais rápida de chegar ao local da ocorrência.

Durante o deslocamento ou mesmo no local da ocorrência, em razão das condições meteorológicas degradadas, o piloto pode, inadvertidamente, ingressar em uma condição em que perca as referências visuais com o solo, passando a depender dos instrumentos da aeronave para o prosseguimento do voo com segurança.

Um piloto acostumado a voar somente com referências visuais, sem o treinamento para atuar em uma situação de entrada inadvertida em condições de voo por instrumento, ao ingressar nessa condição (IIMC), tem grandes chances de sofrer uma Desorientação Espacial (DE), o que pode ocasionar, na pior das hipóteses, uma colisão contra o solo em voo controlado (CFIT), ou mesmo contra outras aeronaves e outros obstáculos quaisquer, como antenas, torres ou redes de alta tensão.

A PMDF possui, atualmente, 24 pilotos de aeronaves (helicópteros e avião) em suas fileiras, sendo apenas 4 (quatro) habilitados para voo sob regras de voo por instrumento – IFR (Instrument Flight Rules). Mesmo com habilitação para voo por instrumentos, estes 4 (quatro) pilotos também não possuem treinamento para IIMC, que seria a transição de um voo visual para o voo por instrumentos inadvertidamente, ou seja, todos os pilotos da PMDF estão sujeitos a sofrerem uma desorientação espacial caso haja uma IIMC durante um voo policial, podendo levar a aeronave a uma colisão contra o solo em voo controlado.

Neste sentido, faz-se necessário questionar: o Treinamento de Entrada Inadvertida em Condições Meteorológicas de Voo por Instrumentos durante a formação e instrução continuada dos pilotos da Polícia Militar do Distrito Federal contribuiria para a prevenção de acidentes aeronáuticos na Corporação?

Há indícios de que o Treinamento de IIMC durante a formação e instrução continuada dos pilotos de helicópteros da Polícia Militar do Distrito Federal contribuiria, sim, para a prevenção de acidentes aeronáuticos na Corporação.

O objetivo geral da presente pesquisa é examinar a contribuição do Treinamento de Entrada Inadvertida em Condições Meteorológicas de Voo por Instrumentos durante a formação e instrução continuada dos pilotos de helicópteros da PMDF para prevenção de acidentes aeronáuticos envolvendo este tipo de evento, o qual estatisticamente é responsável pelo maior índice de fatalidades em acidentes de helicópteros no Brasil e no mundo.

Os objetivos específicos deste artigo são descrever um breve histórico da aviação na PMDF, citar as missões cumpridas pelo Batalhão de Aviação Operacional da PMDF e o treinamento de seus pilotos. Apresentar as causas, os efeitos e os tipos de desorientação espacial em pilotos. Identificar uma situação de entrada inadvertida em condições meteorológicas de voo por instrumento em um voo inicialmente autorizado para regras de voo visuais (VFR) e descrever o tipo de treinamento aplicado aos pilotos de helicóptero que aumentam as chances de sobrevivência e a condução do voo em segurança caso ocorra uma IIMC.

Autores:
Deroci Barbosa Ximendes Júnior
Capitão da Polícia Militar do Distrito Federal. Graduado em Segurança Pública pela Academia de Polícia Militar de Brasília. Pós-Graduado em Direito Público pela Faculdade Processus. Piloto de Helicóptero da PMDF.

Alda Lino dos Santos
Graduada em Pedagogia pela Universidade de Brasília. Mestrado em Educação. Pós-Graduada em
Psicopedagogia Institucional.