Tempo de Padronizar os Helicópteros Policiais
11 de setembro de 2009 8min de leitura
11 de setembro de 2009 8min de leitura
Era uma vez o tempo em que o helicóptero policial no “estado-da-arte” era um Bell 47 equipado com um par de olhos e um rádio. Não mais. Hoje, as aeronaves policiais mais adequadas aproximam-se às aeronaves de combate em nível de sofisticação de equipamentos.
Uma missão policial típica com uma aeronave de alta tecnologia caracteriza-se pelo uso dos seguintes equipamentos:
a) um “pod” externo contendo um sistema de visão infravermelho;
b) uma câmera CCD colorida com alta capacidade de zoom ótico e digital;
c) um apontador laser;
d) um iluminador laser, possivelmente combinado com um intensificador de imagem (Óculos de Visão Noturna);
e) um sistema de congelamento de imagens para facilitar a visualização e coleta de detalhes, como uma placa de carro;
f) um sensor que mostre no mapa móvel para onde o sistema de busca por infravermelho e o farol de busca estão apontando e que permita também apontá-los na direção de um local escolhido no mapa, automaticamente;
g) um sistema de transmissão de imagens (downlink) que envie imagens, o qual já é considerado há tempos um equipamento mínimo de uma aeronave policial, só que contando hoje com outras “habilidades”, tais quais a transmissão de imagens para os veículos policias no local de ocorrências, mesmo em áreas urbanas onde há altos índices de interferência eletromagnética;
h) Mapas móveis digitais, que evoluíram para o que se chama Sistema de Gerenciamento de Missão, incluindo cartas aeronáuticas, guias de ruas e de estradas, tão detalhados quanto possível. Alguns possuem acoplamento com o FMS (Sistema de Gerenciamento de Vôo) a fim de permitir a navegação automática para o local;
i) O tradicional farol de busca permite integração com os sistemas de missão, sendo possível determinar o escaneamento de uma área, automaticamente, ou mantê-lo acoplado ao sensor infravermelho, apontando ambos sempre para a mesma posição;
j) Outro tipo de sensor que já é comum, mas tem sua capacidade aumentada com o tempo é o sistema de traqueamento de veículos roubados ou furtados, como os sistemas comerciais Lojack e Tracker. Consistem em transmissores escondidos no veículo e ativados quando um roubo ou furto é reportado, tendo a aeronave um receptor de tais sinais. Tal serviço, que pode ser subsidiado por empresas particulares, traz um grande retorno em localização e prevenção de tais delitos;
k) Sistemas múltiplos de radiocomunicação com interfaces mais fáceis de operar, que atualmente estão migrando para sistemas digitais truncalizados com capacidade de uso como telefonia móvel e ponto a ponto, dando capacidade ilimitada de comunicação;
l) alguns itens considerados de baixa tecnologia, como sistemas de alto-falantes e sirenes também são considerados úteis por grande parte das unidades aeropoliciais;
m) ainda, um helicóptero policial no chamado “estado-da-arte” deve ser capaz de operar com o uso de Óculos de Visão Noturna com informações da aeronave inseridas na imagem, como um HUD (Head up display) das aeronaves militares, além de um sistema que permite saber, no mapa móvel, para onde cada um dos tripulantes está olhando. Dando-se adequada atenção ao treinamento e aos procedimentos é muito mais fácil e seguro voar à noite com óculos de visão noturna do que sem eles;
n) alguns outros apetrechos tecnológicos em aeronaves policiais relacionados com a segurança de vôo são os detectores de obstáculo (Obstacle warning and collision avoidance systems), que incluem, além do usual TCAS, um sistema de detecção de fios e cabos de alta voltagem, e os assentos anti-crash, que protegem a cargas muito mais altas de impacto que os usuais.
Tais sistemas acima descritos, que parecem saídos de um filme policial de ficção científica, na realidade já estão em operação há alguns anos em muitas polícias do mundo, sendo que nos últimos nove anos houve uma gradual transferência de tecnologia dos equipamentos militares de operações especiais para as aeronaves policiais.
A cabine de pilotagem das modernas aeronaves policiais tem se transformado em locais altamente sofisticados em termos de comunicação, navegação e tecnologia de informação.
Os peritos internacionais em tecnologia apontam que tal área ainda tende a acelerar seu desenvolvimento, uma vez que cada fabricante está adicionando novas capacidades aos equipamentos existentes, integrando-os com outros, tornando-os mais leves e eficientes, com, às vezes, uma redução de custos de aquisição.
Um exemplo é a substituição dos Faróis de Busca Spectrolab SX-5 e SX-16 (como os do GRPAe de São Paulo) pelo modelo NightSun 2 que é mais leve, potente e ágil, além de ter possibilidade de integração com os demais sistemas de busca da aeronave, como visto.
Nenhum helicóptero até hoje foi concebido, desde o projeto inicial, para ser um helicóptero policial. Assim, todos os helicópteros em uso pela Aviação Policial são modelos adaptados do mercado de aviação geral. No geral, os fabricantes de helicópteros tem mantido o foco de produzir aeronaves básicas, deixando a questão de integração de sistemas de missão policial para empresas especializadas, como McAlpine e Specialist Aviation Services no Reino Unido e Heli-Dyne nos Estados Unidos.
Por exemplo, no final de 2004, a Polícia de Luxemburgo comprou um MD902 que foi modificado pela Hely-Dyne, com a instalação e certificação de sensores, aviônicos e comunicação digital, permitindo uma eficiente recepção, análise e disseminação de informação e imagem, além de uma total compatibilidade com o uso de OVN. O sensor infravermelho dessa aeronave é o L3-Wescam modelo MX-15, com sistema de geodirecionamento integrado com o mapa móvel.
Ele possui um visor digital de alta definição na cabine e sistema de imagem com capacidade de transmissão e gravação. Sistemas adicionais incluem o Nightsun SX-16 com filtro Infravermelho escamoteável (para operações com OVN) e ponteira laser também com indicação no mapa móvel, sistema de direcionamento acoplado entre o farol de busca e o imageador térmico, luzes de pouso direcionáveis e compatíveis com OVN, protetor contra cabos, tanque de combustível auxiliar, alto-falantes de alta potência, além de instalações para operações especiais, como rapel e fast rope.
Demandas específicas como a vista anteriormente faz com que as soluções se tornem complexas e os custos, infalivelmente, subam à estratosfera. Assim, há uma demanda por um certo grau de padronização nas aeronaves policiais e seus equipamentos de missão. Isso já ocorre, sendo seu exemplo principal o modelo Robinson R44 Police, que é hoje, em todo mundo, a única aeronave policial já configurada de fábrica, vindo com todos os equipamentos já instalados, com ênfase no baixo peso total e volume reduzido.
Os equipamentos padrão do R44 Police são: Infravermelho FLIR Mark II, com sistema de giroestabilização e zoom de 7x no sistema de visão diurna CCD; Farol de Busca Spectrolab SX-5E, pequeno mas capaz de até 20 milhões de candelas de luminosidade, com o uso de uma lâmpada de 500 W de xenônio e um interior compatível com o pequeno tamanho da aeronave, possuindo um monitor de 10 polegadas escamoteável, a fim de não atrapalhar a visibilidade externa quando não em uso.
Além dos itens padronizados, o R44 Police pode receber uma série de opcionais que incluem: alto falantes e sirenes, sistema de downlink, mapa móvel e sistema Lojack.
A Eurocopter também tem dado passos importantes nesse sentido, com a criação de um pacote de sistemas de missão modular para os EC 135 e, no futuro, também para o EC 145. A idéia geral é de se criar uma frota de helicópteros que, a despeito da variedade de missões desempenhadas, serão ao menos 90% comuns em termos de equipamentos embarcados.
Os pacotes específicos de missão serão direcionados para os seguintes tipo de missão: Transporte aeromédico, Vigilância, Treinamento, Combate a Incêndios e Desastres Naturais, SAR, Transporte de Equipes Táticas e Transporte de Passageiros.
A inspiração para tal solução provavelmente veio do Reino Unido, através do desenvolvimento do chamado Helicóptero Policial Avançado, concebido pela McAlpine com base no EC135 e que está hoje em serviço com diversas unidades aeropoliciais naquele país. A característica mais marcante dessa aeronave é o pod ventral modular que, conectado à aeronave acomoda os equipamentos de visão térmica e farol de busca.
Em tal pod, contudo, não foram instalados os rádios policiais, de forma a permitir o uso da aeronave na missão policial básica sem o pod instalado, o que reduz em cerca de 500 kg o peso da aeronave. Esse equipamento modular, intercambiável em aeronaves devidamente preparadas pode tornar-se uma solução inteligente para frotas que desempenham múltiplas funções.
REFERÊNCIA
Este artigo é uma tradução adaptada, realizada por RICARDO GAMBARONI de matéria publicada pela Revista Defence Helicopter, vol 24, nº3, de Junho/Julho de 2005. A Defence Helicopter Magazine é a principal revista internacional para todos aqueles que voam na Aviação Pública. Esta publicação fornece uma qualidade incomparável de análise em profundidade de notícias, entrevistas, estratégias e avaliações atualizadas de equipamentos utilizados nos helicópteros das forças militares e de segurança pública no mundo.
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