MARCUS V. BARACHO DE SOUSA
EDUARDO ALEXANDRE BENI

Todos devem lembrar da crise americana no período de 2008 a 2011. Uma das atividades impactadas foi a aviação policial dos EUA. Nessa época muitas unidades de aviação policial reduziram custos, fecharam, venderam aeronaves e até se fundiram com outras. No Reino Unido o caminho foi semelhante, criando o Serviço Nacional de Aviação Policial (NPAS), cujo principal objetivo foi dar prioridade para a operacionalização do serviço e da efetiva cobertura de apoio entregue na melhor relação custo-benefício.

E no Brasil? Sabemos que muitas unidades aéreas sofrem com redução de recursos, problemas internos de gestão, e, por vezes, tem muita dificuldade em convencer as autoridades sobre a importância do emprego aéreo na atividade de segurança pública e de resgate aeromédico.

Então, para ajudar os gestores, um pergunta é importante ser feita e vamos tentar te ajudar a responder: Quanto custa a hora de voo em uma Organização de Aviação de Segurança Pública (OASP)?

Saber quanto custa a hora de voo em uma OASP pode ser um desafio para o Gestor, mas, qual seria a utilidade dessa informação? Considerando que as OASP não tem sobre si a finalidade de gerar lucros, como, tal conhecimento pode colaborar com os processos de gestão?

Entende-se que identificar o valor da hora voada em uma OASP, pode significar conhecer os custos da sua operação e quais fatores podem impacta-los, positivamente ou negativamente.

Pode ser que não se chegue a um valor absoluto para a hora voada em uma OASP, mas é possível sugerir algumas opções:

1) Verificação Basilar – consiste em considerar apenas o valor destinado a subsidiar os contratos de manutenção de aeronaves, seguro das aeronaves e combustível de aviação (QAV, AVGAS…), relacionando o valor total com a quantidade de horas voadas em determinado período, estabelecido pela OASP (trimestral, semestral, anual…).

Mas, somente esses itens são suficientes para manter uma Organização de Aviação de Segurança Pública Operacional? Entende-se que e outros aspectos, também, podem ser considerados para compor essa despesa.

2) Verificação Mediadora – essa opção para apurar valores, irá considerar os custos destacados acima (manutenção de aeronaves, seguro das aeronaves e combustível de aviação), somando outras despesas comuns nas OASP, como aquisição de materiais de informática, escritório, energia, água, gás, telefonia, viaturas, manutenção predial, combustíveis para veículos, conservação das edificações, segurança e outros.

O total apurado será relacionado à quantidade de horas voadas em determinado período. Com essa conta tem-se o valor de sua hora de voo.

3) Verificação Abrangente – essa metodologia considera uma reflexão, ou seja, seria possível operacionalizar sua OASP sem pessoas? As pessoas consistem na força de trabalho da Instituição, são elas que fazem tudo acontecer e sua ação ou omissão podem representar maior ou menor custo às Organizações.

Salários, formação, treinamento, direitos e vantagens, reúnem um grupo de despesas relevantes para o planejamento organizacional.

As pessoas poderão influenciar na sustentabilidade da OASP, atuando com boas práticas e potencializando o uso racional de recursos, ou desperdiçando investimentos e comprometendo a capacidade organizacional.

Saber quanto custa um indivíduo para realizar determinada tarefa conduz o Gestor ao pensamento sobre a quantidade de pessoas necessárias para realização dos trabalhos e o nível de capacitação que possuem, pois, com certeza, vão influenciar o desempenho e qualidade do serviço de uma OASP.

Oferta-se o dimensionamento da força de trabalho, como opção para sistematizar e otimizar a aplicação de pessoas nas tarefas da Organização Aérea de Segurança Pública. Significa dizer que um indivíduo pode atuar operacionalmente e administrativamente, por exemplo, ou no caso de um tripulante que também está habilitado como mecânico de voo.

Há também o entendimento que em razão da OASP não ser a Unidade Gestora dos recursos para custear as despesas com os funcionários, tal gasto não deveria ser considerado na composição do valor da hora de voo, porém, tal opinião, pode levar à banalização do emprego das pessoas na Organização, desconsiderando suas capacitações e aproveitamento nas atividades.

Assim, para identificar o valor da hora de voo em um OASP, considera-se oportuno somar as despesas decorrentes do emprego do efetivo, às demais indicadas acima.

Bons voos, com boa gestão!


Autores: Marcus V. Baracho de Souza e Eduardo Alexandre Beni são oficiais da Polícia Militar do Estado de São Paulo e pilotos policiais.