Ser Piloto…
12 de junho de 2011 4min de leitura
Os helicópteros possuem, normalmente, quatro comandos de vôo: manche cíclico ou simplesmente cíclico; manche coletivo ou simplesmente coletivo; pedais; e manete de combustível ou simplesmente manete.
Pilotar um helicóptero é agir, coordenadamente, sobre esses comandos de forma a conduzir a aeronave de uma maneira segura e com uma finalidade predefinida.
O piloto é quem comanda a aeronave, e não ao contrário, e é por isto que ele é chamado de Comandante.
A regra básica é antecipar-se às reações da aeronave; não se deixar surpreender pelas reações dela. Apesar de o helicóptero, às vezes, parecer ser uma coisa viva, o ser vivente a bordo é, sempre, apenas o piloto. Por isto, somente a ele cabem as ações. Ao helicóptero somente é permitido reagir às ações do piloto!
O helicóptero necessita de cuidados no manuseio e respeito, amor e carinho na utilização. Tratado desta maneira, ele retribuirá com vida longa, proteção à sua vida e docilidade como um animalzinho de estimação. Tratado sem esta preocupação, ele transforma-se em animal feroz e, ao mesmo tempo, frágil que adoece com freqüência, dá respostas mal-criadas e poderá até machucá-lo gravemente.
No começo da convivência, (é até um pouco desanimador), parece que o helicóptero é que o leva. Com o tempo e com o desenvolvimento da habilidade, você vai descobrindo, aos poucos, que é você que leva o helicóptero para passear. Mais um pouco, e você descobre que o helicóptero é como uma roupa que você veste e que, de início, é um tanto desconfortável, mas que com o tempo vai, devagarinho, ajustando-se ao seu corpo.
As etiquetas param de espetá-lo aqui e ali; os sapatos não apertam mais os pés, provocando calos; as calças não dependem mais de cintos apertados para não ficarem escorregando. É, simultaneamente, como uma roupa tão velha que você quase nem percebe mais que está usando e tão nova que continua vistosa o suficiente para você ter orgulho de exibi-la em qualquer ambiente, por mais sofisticado que seja.
Mas há, ainda, um estágio superior em que você e a aeronave transformar-se-ão em uma entidade única. O helicóptero não tem mais o trem de pouso. Você é que adquiriu pés mais robustos e que, mesmo assim, você os pousa, com o mesmo cuidado para não machucá-los, em locais inóspitos ou em lindas paragens. O rotor de cauda é apenas uma extensão do seu corpo e que lhe dá controle e dirigibilidade.
O rotor principal é como o pulmão que você estufa e infla o seu espírito, fazendo você chegar até onde a sua imaginação permitir. O motor e os sistemas (hidráulico, elétrico, combustível, etc.) que o fazem funcionar e o resto do helicóptero são o seu organismo que processa os alimentos e produz e consome a energia que lhe dá vida. O painel de instrumentos é o seu sistema perceptivo, os seus cinco sentidos! O radar permite ver “lá longe”; cada ponteirinho que “treme”, cada “luzinha” que “pisca”, uma buzina que toca pode ser uma simples vertigem sem conseqüências, uma mera dor de barriga ou o prenúncio de um enfarte fulminante.
Mas não se iluda! Há quem diga que o motor é o coração do helicóptero. Pode até ser! Mas é um coração sem emoções. Se assim for, este novo ente tem dois corações: um que faz funcionar e outro, o seu, que se emociona, sofre, ama, tem ilusões, angústias e alegrias. Nesta hora, temos de voltar lá atrás e começar a separar as coisas de novo: você e a máquina. As emoções são por sua conta e é necessário, mesmo fundamental, que você as controle.
Ah!, há, ainda, mais uma coisa e de transcendental importância! Esta “entidade” (meio você, meio máquina) só tem um cérebro! O seu. Quem pensa é você. E, por isto, quem analisa é você. E, definitivamente, quem decide é você. Para isto, é necessário planejar. Estude. Compreenda. Conheça. No aprendizado da pilotagem, é preciso automatizar muitas ações. Isto se faz com a mentalização dos procedimentos. É o que chamamos de “vôo mental”. Você ainda vai ouvir falar muito disto!
Pilotar tem muito de técnica e um pouquinho de arte. Como técnica, significa que todos podem aprender. Mas vai exigir muito estudo, dedicação e esforço. E vale a pena, porque o desenvolvimento da técnica permite fazer “bem-feito”. Neste caso, bem-feito significa com eficiência e, acima de tudo, com segurança. A parte relacionada com o lado “arte” da pilotagem também é muito interessante porque é ela que diferencia um piloto do outro. É o dom que cada um traz consigo desde o nascimento. O aperfeiçoamento da arte é que permite fazer o “belo”.
Fonte: Aviação PRF Brasil, por Comandante João Bosco Ferreira.
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