JOSÉ ALEXANDER DE ALBUQUERQUE FREIXO

INTRODUÇÃO

Para a realização de Operações Aeromédicas, diversas ações preparatórias devem ser desenvolvidas visando o cumprimento da missão dentro de um nível aceitável de segurança operacional. Estas ações englobam o estabelecimento de procedimentos operacionais padrão, treinamentos específicos e um constante gerenciamento do risco durante a execução dos voos.

Um voo de resgate envolve uma série de variáveis que o Comandante de aeronave deve gerenciar, como o peso da aeronave, quantidade de combustível e potência disponível para o voo, condições meteorológicas, entre outras. Mas os pontos mais críticos da operação, sem dúvida, são o pouso em área restrita e a segurança da aeronave no solo.

Quando ocorre o acionamento da equipe, a tripulação não sabe aonde realizará o pouso, essa análise é feita quando da localização da ocorrência, onde de uma maneira dinâmica, a equipe realiza o gerenciamento de risco, optando pelo local mais seguro, dentro de parâmetros pré-estabelecidos em um procedimento operacional padrão.

O RESGATE AEROMÉDICO

Atualmente o GRPAe realiza o serviço de resgate aeromédico nas Bases de Radiopatrulha Aérea (BRPAe) de São Paulo e Campinas, atuando diariamente no período diurno, mantendo aeronave e equipe das 06:30 h ao pôr do sol. Esta limitação operacional não é imposta pela regulamentação aeronáutica, ela ocorre por uma doutrina operacional do GRPAe, que privilegia a segurança do voo, tendo em vista os vários perigos presentes nas operações de resgate aeromédico, que no período noturno são potencializados.

A baixa luminosidade ou a sua ausência dificultam a visualização de obstáculos e também podem contribuir para a desorientação espacial do piloto, dentre outros problemas que o pouso e decolagem noturnos em áreas não preparadas para este fim podem ocasionar.

A possibilidade de pousar em áreas não homologadas ou registradas para este fim é fundamental para o cumprimento das missões de resgate. A autorização para a realização de algumas condições especiais de operação, tal como o pouso em locais não homologados, é prevista na legislação e regulamentação aeronáutica, para aeronaves em missões de segurança pública e/ou defesa civil, desde que o objetivo da missão seja a proteção e o socorro público ou o combate a incêndios florestais.

Além disso, o Órgão de segurança pública e/ou de defesa civil responsável deve ter estabelecido procedimentos padronizados de operação e de segurança de voo, com a finalidade de orientar a conduta das tripulações nestas condições especiais.

Atualmente o GRPAe utiliza a aeronave AS350- Esquilo, para as missões de Resgate Aeromédico. O helicóptero conta com os equipamentos exigidos para uma ambulância aérea e sua tripulação é composta por dois pilotos, um médico e enfermeiro.

Por contar com dois pilotos, um comandante de aeronave e um comandante de operações, a maca é instalada na transversal do aparelho, diferente da configuração de transporte inter hospitalar, onde a maca é montada na longitudinal, obrigando a retirada do assento do copiloto e os respectivos comandos de voo.

Durante todo o voo e em especial no pouso em área restrita, o enfermeiro e o médico devem orientar o piloto no posicionamento da aeronave.

A visão do piloto é muito limitada e somente com o trabalho da tripulação como uma equipe é possível efetuar um pouso nestas condições com segurança.

Com as portas traseiras abertas, o médico e enfermeiro tem visão das extremidades do rotor e da cauda da aeronave. A utilização da fraseologia operacional padrão é fundamental para uma comunicação clara, objetiva e precisa, não permitindo interpretações ou entendimentos equivocados, principalmente nas fases mais críticas.

A outra grande preocupação é a segurança da aeronave no solo. Assim que o helicóptero pousa, o copiloto, médico e enfermeiro desembarcam imediatamente e fazem o isolamento até a parada total dos rotores, evitando desta forma a aproximação de pessoas, animais e veículos.

POUSO EM ÁREA RESTRITA

Para a realização do pouso em área restrita, a tripulação deve observar os seguintes critérios:

a) Operação entre o nascer e o pôr do sol;
b) Atentar para a presença de obstáculos;
c) Observar materiais que possam ser danificados ou deslocados pela ação do vento do rotor;
d) Atentar para dimensão de no mínimo 20×25 metros da área de toque (referência para aeronave AS350);
e) Identificar tipo de solo, prevendo a formação de nuvens de poeira;
f) Atentar para objetos que possam atingir o rotor de cauda; e
g) Caso as condições de segurança não existirem, escolher outro local nas proximidades e fazer nova verificação. CASO NÃO EXISTA UM LOCAL SEGURO, ABORTAR A MISSÃO.

EMBARQUE/DESEMBARQUE A BAIXA ALTURA

A técnica de desembarque e embarque a baixa altura é utilizada quando há a necessidade da extração e/0u infiltração de efetivo em um determinado local onde o helicóptero não tem condições de pousar (esquis no solo), devido às irregularidades no terreno, presença de pequenos obstáculos no solo ou vegetação alta.

Tal técnica não é considerada como um procedimento isolado e sim um meio para a realização de determinados procedimentos, tais como o desembarque de tripulantes e embarque de vítimas em encostas, desembarque de tripulantes em locais de difícil acesso por terra, como ilhotas, morros, matagais, lajes etc.

Igualmente a todas atividades desenvolvidas em “Operações Aéreas de Segurança Pública e/ou Defesa Civil”, se faz necessário e fundamental a realização prévia de treinamento com pessoal envolvido na missão, visando estabelecer padrões de segurança compatíveis com o risco assumido. Os objetivos a serem alcançados neste tipo de treinamento são:

a) Ambientação à cabine da aeronave;
b) Conhecimento das regras gerais de segurança em operações embarcadas; e
c) Execução com proficiência do embarque/desembarque a baixa altura.

Para a realização do referido treinamento é necessário apenas a instalação de alças de embarque para auxiliar os tripulantes na operação.

Vale lembrar que todas as atividades aéreas, ainda mais as de Segurança Pública, envolvem riscos, tais riscos podem ser reduzidos a níveis aceitáveis com o treinamento adequado dos envolvidos.

Em 2004 um helicóptero em operação de Segurança Pública teve perda total e duas pessoas tiveram ferimentos leves, após um acidente em uma missão de apoio à Polícia Federal, onde os Agentes não tiveram treinamento e, devido a característica da missão, foi necessário o embarque com a aeronave a baixa altura em uma área onde o pouso não era possível, sendo que um dos Agentes apoiou-se indevidamente na alça do cinto de segurança do Piloto, resultando numa atitude brusca no comando do helicóptero, vindo a colidir o rotor de cauda com obstáculo.

DESCIDA DE RAPEL DA AERONAVE

O rapel é uma técnica utilizada para o desembarque de tripulantes descendo até o solo por meio de cordas, partindo do helicóptero.

Esta técnica não é muito comum de ser empregada em operações aeromédicas, porém já ocorreram situações onde a equipe médica teve que descer de rapel da aeronave para acessar à vítima, por esta razão, é fundamental que os médicos tenham conhecimento dos procedimentos a serem utilizados neste tipo de missão, bem como pratiquem a técnica, permitindo uma familiarização com os equipamentos e o conhecimento das particularidades a serem executadas.

O treinamento de descida de rapel do helicóptero somente será realizado após um detalhado briefing com os pilotos e tripulantes lançadores e a realização de descidas em torre de treinamento.

CONCLUSÃO

A operação de resgate Aeromédico envolve vários perigos que devem ser identificados pela Organização de Aviação de Segurança Pública (OASP).

Características como a urgência, imprevisibilidade, voo a baixa altura, pousos e decolagens em áreas restritas e a pressão “auto-imposta” tornam esta atividade uma das mais críticas desenvolvida pelos operadores de Segurança Pública e/ou Defesa Civil.

Mais do que identificar as ameaças, a Organização deve ter a capacidade de gerenciar os riscos associados e estabelecer defesas para realizar a operação dentro de níveis aceitáveis de segurança de voo.

Uma missão segura pressupõe a existência de uma doutrina operacional, procedimentos padronizados e a capacitação dos tripulantes.


Autor: O Cap PM Freixo é Comandante de Aeronave e Chefe da Seção de Segurança de Voo do Grupamento de Radiopatrulha Aérea da Polícia Militar de São Paulo.