Relato do acidente com helicóptero Resgate 02: “Eles ficaram até me salvar”
06 de agosto de 2020 4min de leitura
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Distrito Federal – “Nós, cinco, conversamos, todos bem, felizes e contentes, dizendo que dia 30 de julho era a data do nosso segundo nascimento”. Esse é o relato do tenente-coronel Moisés Alves Barcelos, piloto do helicóptero do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal que caiu em Vicente Pires na quinta-feira (30/07).
A aeronave que levava três militares e dois profissionais da saúde do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) colidiu contra o prédio desativado de uma faculdade privada, o que ocasionou a queda e momentos de tensão. “Foi tudo muito rápido, um acidente de menos de 10 segundos. Saí do helicóptero, retirei todo mundo da cena para levar a um local seguro ali perto, e nossa equipe, que estava no solo, já começou o trabalho de montar a mangueira para jogar água com espuma, que esfria a gasolina e evita explosões”, relembra.
A dinâmica do acidente será esclarecida após a perícia, mas a experiência de Barcelos é reconhecida por toda a corporação. São 25 anos de atuação no Corpo de Bombeiros, sendo 13 na aviação, com mais de mil horas de voo e 15 mil pousos e decolagens. “Ingressei na aviação em 2007, ano em que tivemos um acidente aéreo com helicóptero da corporação e três pessoas morreram. Um dos que faleceu era meu chefe na época”, lamenta o tenente-coronel. Como nunca tinha passado por situação semelhante durante o trabalho, Barcelos diz que ficou pensando no que poderia ter feito de diferente para evitar a queda do helicóptero, mesmo tendo a consciência de que o pior não aconteceu.
“Saber que tivemos um acidente aéreo, com cinco pessoas na tripulação, e todos sobreviveram, é motivo de comemoração. Na nossa profissão, saímos para trabalhar e não sabemos se voltamos. Acidentes de pessoas de farda têm óbito quase certo. Então, só resta agradecer a Deus pelo milagre”, desabafa.
Ver a família, depois do ocorrido, ajudou a passar pelo trauma. Coincidentemente, a esposa de Barcelos estava sem celular durante aquela manhã, e os pais ainda não tinham recebido a notícia da queda. “Fui para casa logo depois do acidente, vi minha esposa e contei para ela o que aconteceu. Ela não acreditou. Como assim o helicóptero tinha caído, e eu estava ali? Mas ela pegou o telefone, viu as imagens e se desesperou, veio o baque. Com meus pais, eu também tive a chance de contar o que houve, ainda bem”, avalia.
Barcelos diz não lembrar de quantas vidas salvou em todos os anos de corporação, mas se preocupa, sempre, em levar socorro a quem precisa. Uma amiga comentou que, depois de tanto o militar resgatar outras pessoas, foi a vez de Deus fazer o mesmo com ele. “Agora, são dias de agradecimento. Fiz os exames de praxe, falei com todos que estavam na aeronave e conversei com toda a tropa do serviço aéreo para mostrar que estamos bem. Nessas horas, lembro o lema da corporação: ‘Vidas alheias e riquezas salvar!’”, define.
É com otimismo que o médico André Japiassú, 32 anos, prefere lembrar da queda do helicóptero do Corpo de Bombeiros (CBMDF), que ocorreu na manhã da última quinta-feira (30/7), em Vicente Pires. Ele era um dos cinco ocupantes da aeronave. “Tivemos muita sorte que não pegou fogo”, avalia.
O profissional de saúde trabalha no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) há sete anos – cinco deles, no atendimento aéreo com a equipe do CBMDF. Durante a queda da aeronave, ele sofreu um corte na cabeça e ficou desacordado.
O médico nunca havia sofrido um acidente como esse. “Eu lembro que estávamos descendo para o pouso quando subiu muita poeira. Depois, só deu para ver que ia bater, mas já não dava para evitar”, narra.
André relata que, após a queda, foi ajudado pelos colegas que estavam no helicóptero a deixar a aeronave. “O que mais me marcou foi que tanto a enfermeira quanto o sargento ficaram em pé no combustível, ensopados, tentando me acordar. Eles ficaram até me salvar. Devo muito aos dois, com certeza”, destaca.
Após os cinco se afastarem do helicóptero, a enfermeira do Samu Vanessa Rocha, que também era passageira, realizou os procedimentos de primeiros socorros em André. “Eu ainda demorei um tempo para entender o que havia acontecido. Agora eu sei como é estar do lado da vítima”, diz ele.
Após a chegada do socorro, André foi conduzido ao Hospital HOME, na Asa Sul.
O médico do Samu precisou levar pontos na cabeça e está afastado do trabalho por 10 dias. Após o susto, ele demonstra gratidão por todos terem saído do episódio com vida.
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