Publicações técnicas e seu uso irregular
04 de dezembro de 2013 4min de leitura
DANI DAMASCENO
1º Sgt BMA
No ramo da aviação e manutenção de aeronaves, a capacitação, o treinamento e a atualização dos recursos humanos são fatores fundamentais para segurança de voo. Entretanto, é prática comum (e até aceitável) a utilização de manuais técnicos desatualizados como fonte de consulta durante os cursos de familiarização de aeronaves e treinamentos em geral.
Os manuais técnicos de aeronaves e equipamentos sofrem atualizações constantes, entretanto, os materiais didáticos, por serem apenas materiais de referência, muitas vezes acabam não sendo atualizados com a mesma frequência dos originais. Para os cursos de familiarização, as informações contidas nestes materiais de referência, muitas vezes, embora desatualizadas, atendem perfeitamente às necessidades e objetivos propostos.
Um fato preocupante que é verificado em inúmeras oficinas de manutenção diz respeito à utilização desse material desatualizado. Distribuído aos alunos como material didático de referência (somente), em cursos como os de familiarização, mantenedores e etc., ele acaba, por vezes, sendo utilizado nos serviços cotidianos de manutenção.
Essa utilização inadequada acontece principalmente quando o profissional não é familiarizado com a língua inglesa. Quase sempre, esse profissional opta por utilizar o material estudado nos cursos, pois, normalmente, este já foi traduzido para facilitar o seu entendimento.Isso acaba sendo um atalho perigoso quando usado diretamente na manutenção ou operação de uma aeronave.
Percebe-se, então, a importância da devolução deste material (fornecido para estudos durante os eventos de capacitação) aos Setores de Instrução e Treinamento locais após o término de sua utilização. É também importante que se fomente o desestímulo à produção de fotocópias e distribuição de cópias digitais, visando manter o controle do material didático utilizado.
A prática da utilização de apostilas de treinamento, como se fossem Publicações Técnicas, é desaconselhada e proibida pelos sistemas de segurança de voo mundiais, por entender-se que afetam a cultura de manutenção e segurança de voo de qualquer organização aérea.
O que leva à consulta da documentação imprópria??
Seguem abaixo os principais fatores que facilitam e levam à consulta inadequada:
1) O excesso de “confiança” no material didático que está à disposição em seu setor de trabalho e que já tenha sido usado para seu treinamento (apostilas), desprezando que aquele material não sofre atualizações;
2) O entendimento que aquele material didático “transmite” a segurança necessária, suficiente para seu trabalho, pois o mesmo que serviu para a construção de sua “base de formação” profissional;
3) A inexistência de uma doutrina de segurança fortalecida no setor, pela falta de maturidade profissional, permitindo que este colaborador faça uso de manuais não autorizados, mesmo sabendo que existem publicações técnicas oficiais à sua disposição nas Bibliotecas Técnicas;
4) A existência de certo grau de complacência do mantenedor, fazendo com que o uso destes manuais não autorizados, seja “doutrina” instaurada. Desta forma, acreditando que uma apostila poderá orientá-lo em seus trabalhos, tacitamente assumindo a responsabilidade pela execução de serviços que podem ser fatores contribuintes para ocorrências aeronáuticas;
5) A inexistência, em certos aspectos, da cultura de supervisão dos trabalhos executados, de modo que não seja cobrado o uso de manuais técnicos atualizados na oficina ou na linha de voo;
6) A falta de reconhecimento, pelos profissionais de manutenção, da figura do Gerente Setorial de Publicações, o qual seria o responsável pelo recebimento no setor das oficinas respectivas e certificação da atualização dos manuais para uso no seu setor de trabalho;
7)Falta de comprometimento com a manutenção da cultura de segurança de voo no seu setor de trabalho, assumindo o risco e colocando em segundo plano a aplicabilidade da segurança operacional;
8) A falta de orientação por parte dos coordenadores do setor de treinamento ao não orientarem quanto à proibição de uso destes materiais didáticos na manutenção;
9) A falta de dizeres claros na própria capa do material alertando sobre a responsabilidade do usuário e que tais materiais não sofrem atualizações;
10) A dificuldade de compreensão do inglês técnico, consequentemente optando por utilizar o material didático com tradução livre e não oficial;
11) A falta de controle sobre a distribuição do material didático fornecido para estudos e, também, a falta de cobrança da devolução do mesmo após a conclusão de cursos e eventos de treinamento;
12) O fornecimento de cópias do material utilizado para estudos, em mídia ou impressas, dificultando o controle efetivo sobre este material, disseminando a distribuição de “cópias não autorizadas”.
Ressalta-se que o combate à “pesquisa em manuais não autorizados”, é normalmente enfatizado no Programas de Prevenção a Acidentes Aeronáuticos (PPAA) das Unidades Aéreas (aulas, palestras e atividades afins). Entretanto, se não houver sinergia para aplicabilidade da filosofia SIPAER, por todos os profissionais envolvidos com a manutenção de aeronaves e atividade aérea, estaremos contribuindo não para prevenção e segurança, mas sim para que um dos “dominós” da cadeia de eventos continue aguardando sua queda anunciada.
“Na manutenção e operação de aeronaves, use somente manuais oficiais e atualizados”
Autor: 1º Sgt BMA Dani Damasceno
Colaboração e coordenação: Cap. Fernando de Almeida Silva
SSIPAA 5°/8°GAV
Crítica e Sugestões: [email protected]
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