Férias são ótimas. Carnaval então, sem palavras. Elas nos dão a chance de colocar as tensões do trabalho e das tarefas diárias de lado por algum tempo e relaxar. Ocupando sua mente com algo diferente do que voar às vezes pode ser uma coisa boa, mas quando você voltar à cabine, você certamente verá que a “ferrugem” aparece rapidamente.

Imagine o seguinte: você voltando para o serviço operacional depois de férias agradáveis, cumprimentando seu parceiro de serviço à qual você está rendendo, e quase que imediatamente recebe um chamado para uma ocorrência grave de uma vítima de acidente de carro.

Passado o “susto”, você perceberá que você leva alguns segundo extras para orientar-se sobre a partida e o monitoramento dos instrumentos da aeronave, mas você conseguiu evitar uma partida quente.

Você irá pousar no local sem maiores problemas, mas você não fez uma aproximação padrão e não lembrou do seu checklist de pouso de cabeça como fazia antes. Você nem mesmo considerou o que faria caso perdesse o motor (ou um dos motores).

O voo do local do acidente para o hospital será sensivelmente mais demorado até você ver e identificar o heliponto e seus pontos de referência para efetuar sua aproximação. Puxa, você estava tão atarefado fazendo uma boa aproximação que não se lembrou de novo do seu checklist de pouso.

De retorno à base, você sente seus músculos da panturrilha queimando, com se com eles você estivesse tentando dobrar os pedais do rotor de cauda durante o pouso.

Todas estas questões podem não ter sido observadas pelo resto da tripulação, mas você sabe que seu desempenho foi abaixo do seu melhor.

Uma verificação rápida no seu histórico de voo mostra que você está dentro dos requisitos legais para voo, que em poucas palavras, exigem que você tenha um recheque de voo a cada 12 meses, bem como ter realizado três pousos e decolagens nos 90 dias anteriores. Mas enquanto sua proficiência teórica está dentro da legalidade ou em conformidade com os mínimos estabelecidos, é a sua proeficiência prática que precisa de atenção.

Voar é uma habilidade perecível. Os problemas descritos acima mostram como sua habilidade varia com o tempo, e quando ela diminui, certamente você está cortando na sua margem de segurança.

Quando você está sem prática, você gasta mais atenção do que o normal para a realização das tarefas críticas de voo, como a decolagem e o pouso, e a quantidade de atenção que sobra para o julgamento e para a tomada de decisões é sensivelmente reduzida.

Se você não é capaz de realizar várias tarefas ao mesmo tempo, como efetuar checklists ou planejar mentalmente cenários alternativos para ocorrências críticas em pontos cruciais em seu vôo, então o seu limite de saturação pode estar mais perto do que você imagina, e em um caso real de emergência, sua capacidade de pensar e agir rapidamente pode vir a falhar.

É claro que certas habilidades são mais utilizadas do que outras. Os regulamentos foram criados em uma tentativa de ajudar a manter essas habilidades dentro de um mínimo aceitável. Mas a natureza imprevisível das missões de segurança pública significa que qualquer uma das suas habilidades mais específicas podem ser requeridas a qualquer momento.

É imperativo que as unidades aéreas dediquem um planejamento contínuo de horas de voo para uma contínua formação e manutenção da proeficiência prática de suas tripulações. Voar missões reais não exclui a necessidade de treinamento real. Não há dúvida que voos operacionais ajudam a reter o conhecimento, uma vez que a maioria das tarefas, muitas vezes repetidas, são relembradas.

Mas você adquire mais experiência do que habilidade durante as missões reais, principalmente nos cenários reais onde talvez você tenha mais dificuldades… realmente não é um bom local para ver se você ainda relembra como fazer.

Proficiência prática é melhor obtida em voos exclusivos e dedicados ao treinamento, onde a mente do piloto está aberta para receber informações e críticas, e a mente do instrutor está atenta para transmitir conhecimento e efetuar críticas construtivas durante o desenvolvimento do voo.

Se a sua unidade aérea se orgulha em dizer que suas tripulações são capazes de realizar uma grande variedade de missões especializadas e complexas, tais como desembarque tático, salvamento terrestre e aquático, operações aeromédicas, diga a seu chefe: Se nós não treinarmos com freqüência, e melhor não dizer que podemos fazer.

Unidades aéreas que estão compromissadas com programas de formação contínua dos seus integrantes, com padrões mais levados de verificação e manutenção de sua proficiência prática, tem melhor chance de conduzir suas operações com um grau elevado de segurança e estar apta a conduzir prontamente suas missões especializadas e complexas, bem como exceder quaisquer requisitos de proficiência de sua agência reguladora.

Idealmente, ao retornar de férias, depois de saudar e cumprimentar  nossos colegas de trabalho, todos nós devemos cumprimentar nosso outro parceiro de trabalho: nossa aeronave !

Abra o manual do piloto, faça alguns voo de nacele e reveja os procedimentos de emergência, solicite um voo para retomar sua proficiência prática, assim você irá retomar e relembrar suas habilidades antes que isso ocorra em uma situação real.


Texto: Artigo adaptado por Alex Mena Barreto para Piloto Policial, do texto de Frank Lombardi, publicado na Rotor&Wing.