A preocupação com a segurança de voo na terceirização da instrução de voo do GRPAe
03 de janeiro de 2019 6min de leitura
03 de janeiro de 2019 6min de leitura
VITOR Hugo Gomes Guarinon
Capitão PM, Piloto Policial de Helicópteros. Atuou no CTAv do GRPAe de 2011 a 2018. Atualmente trabalha na BRPAe Piracicaba.
Na incessante busca pelo aprimoramento profissional, o Centro de Treinamento de Aviação do GRPAe vislumbrou ser possível a redução de custos na formação inicial do Piloto Policial de Helicóptero, desde que a formação inicial teórica e prática fosse realizada através de contratação de Escola de Aviação/ Centro de Treinamento/Empresa Prestadora de Serviço. Uma empresa especializada poderia formar o piloto policial desde as primeiras aulas teóricas, até a realização do exame de proficiência prática para a obtenção da carteira de Piloto Comercial de Helicóptero, requisito legal indispensável para a tripulação das aeronaves de Segurança Pública, em tempo muito menor do que o GRPAe conseguia executar.
Além disto, tal ação reduziria custos operacionais com manutenção de aeronaves de instrução, deslocamento de equipes, combustível, seguro aeronáutico, etc. Seria possível, ainda, realocar aeronaves e pessoas envolvidas para as operações aéreas de segurança pública e defesa civil, buscando o objetivo final da unidade, que é a diminuição dos riscos inerentes aos policiais militares e à sociedade durante as ações policiais, bem como a diminuição no tempo de resposta para atendimento de ocorrências que requeiram efetivo especializado.
Tão importante quanto a aquisição de helicópteros é a preparação de pilotos que operam este sofisticado equipamento. Questão que deve ser tratada com atenção.
A primeira turma de pilotos policiais do GRPAe recebeu formação mista para a pilotagem de helicópteros, tendo realizado parte do curso em escolas civis e outra parte na Força Aérea Brasileira e Marinha do Brasil. Essa opção, na época, apresentou-se como oportuna, considerando a compressão de tempo para preparar pilotos policiais e os baixos custos da iniciativa.
Contudo, especificamente as Forças Armadas que já possuíam experiência vasta na aplicação de aeronaves de asa rotativa, tinham no seu emprego ações propriamente militares e suas atividades de treinamento acompanhavam essa natureza.
Formada a primeira turma de pilotos policiais de helicóptero havia a necessidade de ser criado um processo de preparação dessa mão de obra especializada, que não demandava apenas o investimento de recursos econômicos ou materiais, mas de tempo, que sempre foi um recurso parco no contexto de preparação de pilotos policiais.
As demais turmas de pilotos policiais não foram formadas nas Forças Armadas e cada uma passou por um método de formação diferente valendo-se de escolas civis de aviação nos seus cursos práticos e teóricos.
Em maio de 1996 o comando do GRPAe, preocupado com a fluidez dos processos de formação e procurando aditar maior qualidade às instruções teórica e prática de voo, certificou a Escola de Aviação da Polícia Militar do Estado de São Paulo – PMESP.
A nova Escola de Aviação – EsAv – da PMESP começou suas atividades com a aplicação dos cursos teóricos de Piloto Privado de Helicóptero e Piloto Comercial de Helicóptero, habilitações necessárias para que o piloto policial pudesse desenvolver a atividade de piloto de helicóptero policial.
Até a quarta turma de pilotos policiais, os pilotos realizavam a fase teórica na EsAv do GRPAe e a fase prática de voo utilizando aeronaves e instrutores de escolas civis.
Buscaram-se alternativas e, em meados de 2001, o GRPAe locou duas aeronaves tipo Schweizer CB300 da Escola Edra Aeronáutica, passando a desenvolver sua própria instrução prática e utilizando seus pilotos mais antigos como instrutores. Foram formados nessa nova estrutura os oficiais da quinta e sexta turmas de pilotos.
Esse processo se concretizou em 2008, com a aquisição do primeiro Schweizer CBi300 (PR-MIL). Alguns anos depois, em 2011, chega o segundo Schweizer CBi300 (PR-REL), reforçando a capacidade de formação de pilotos policiais.
Assim, o Centro de Treinamento de Aviação passou a desenvolver os cursos de Piloto Privado de Helicóptero e Piloto Comercial de Helicóptero, na versão teórica e prática, além de agregar outras certificações de interesse organizacional, tais como a formação teórica e prática de instrutores de voo, formação teórica e prática de pilotos de avião, formação teórica de voos por instrumento, bem como os Programas de Treinamento Operacional das aeronaves HU30, H350, EC35 e A19S.
Terceirização é o processo pelo qual uma empresa deixa de executar uma ou mais atividades realizadas por trabalhadores diretamente contratados e as transfere para outra empresa.
Embora a terceirização não seja recente na história do Brasil, a adoção deste processo foi intensificada e disseminada no âmbito da reestruturação produtiva que marcou os anos 90, quando o tema ganhou destaque na agenda de governos, trabalhadores e empresários e tornou-se objeto de inúmeras análises.
É sabido que a terceirização pode reduzir os custos da atividade e essa é uma de suas principais vantagens. O custo operacional desta atividade é reduzido drasticamente e existe uma previsibilidade muito maior dos gastos mensais que são estabelecidos através do contrato firmado. O dispêndio de pessoal e recursos materiais para manter aeronaves próprias para instrução na frota do GRPAe seria excluído (inclusos aqui custos com manutenção de proficiência técnica dos instrutores, seguro aeronáutico, contratos de manutenção e de combustível, etc.).
Além do mais, uma empresa terceirizada especializada tem maiores conhecimentos sobre os processos, permitindo maior produtividade ou ganhos de escala, seja com a aplicação de procedimentos e treinamentos específicos e/ou com a utilização de instrutores padronizados, proficientes naquele modelo de aeronave.
O passar dos anos e a profissionalização da atividade de instrução aérea fizeram com que as empresas que provém tal atividade desenvolvessem uma instrução de melhor qualidade.
Além disto, a convergência da atenção para a atividade fim do GRPAe foi outro bom ponto na hora de decidir optar pela terceirização da atividade de instrução básica. Tal convergência acontece visto que, quando se contrata um serviço terceirizado, as preocupações com serviços secundários são eliminadas. Assim, torna-se possível guardar toda a energia e dedicação de tempo da unidade para voltar para as áreas de atuação de segurança pública e defesa civil.
A empresa Master Escola de Aviação Civil LTDA., conhecida como Go Air, foi a vencedora do certame licitatório da PMESP no ano de 2017. E, em um primeiro momento, isto acendeu um sinal de alerta no GRPAe.
A Go Air registrou cinco acidentes durante voos de instrução em menos de dois anos, em São Paulo. Entre 2010 e 2012 a instituição perdeu aeronaves e teve duas vítimas fatais.
Assim que o contrato foi assinado iniciou-se a fase de reuniões para a formatação e realização do treinamento contratado. O treinamento prático teve início no dia 09 de outubro de 2017, sendo que os quatro pilotos obtiveram a licença de Piloto Privado (40 horas de voo) em dezembro do mesmo ano, e retornaram às aulas práticas para o curso de Piloto Comercial em março de 2018 (60 horas de voo), concluído em maio.
A Divisão de Segurança Operacional, juntamente com o Centro de Treinamento de Aviação, realizaram uma vistoria técnica na empresa em meados de novembro de 2017 e encontraram uma empresa madura, que aprendeu com seus acidentes e que apresentou uma preocupação latente com a segurança na instrução.
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