Os Reis do Céu – Voando com segurança (Parte II)
25 de janeiro de 2015 4min de leitura
A Mitigação de Riscos Absurdos para Pilotos como Nós
POR QUE NÃO DEMOS OUVIDOS?
PRECISAMOS ABORDAR PILOTOS AUDACIOSOS DE UM JEITO DIFERENTE
(CONTINUAÇÃO)
Então, como poderíamos ter aprendido de forma diferente? Bem, algumas escolas e alguns instrutores estão treinando os pilotos a gerenciar riscos, incorporando exercícios de gerenciamento de risco em cada instrução de pré-voo. Eles reservam um pouco de tempo com o piloto aprendiz para discutirem e identificarem os prováveis riscos do voo que está por vir. Alguns riscos são óbvios para um piloto aprendiz, mas outros não.
Por exemplo, se o tema da aula é manobras com a referência do solo, o instrutor pode ajudar o piloto aprendiz a identificar o risco insidioso e ‘contra-intuitivo’ de voar muito rápido ao tentar manobrar em torno de um ponto no solo. A alta velocidade requer ângulos de inclinação lateral mais íngremes para a aeronave ficar perto do ponto, e o fator de carga elevado aumenta a velocidade de estol. Uma vez que o risco é identificado, o instrutor pode ajudar o piloto aprendiz a avaliar as probabilidades e as consequências do dano causado pelo risco. No caso do fator de carga elevado durante a manobra, o instrutor poderia indicar que os acidentes relacionados com a rotação/o estol durante as manobras são o tipo mais comum de acidentes fatais. O instrutor e o piloto aprendiz poderiam, então, dar continuidade e discutir estratégias de mitigação, incluindo a seleção de uma velocidade razoável durante as manobras e um ângulo de inclinação lateral máximo.
Um piloto que passa, em todos os voos de treinamento, por um exercício de gerenciamento de risco semelhante a este tem uma chance muito maior de desenvolver o hábito de praticar um bom gerenciamento de risco quando estiver voando por conta própria. Se eu e John tivéssemos aprendido desta forma e, então, fôssemos abordados por um piloto preocupado que usasse esse mesmo vocabulário com a gente, provavelmente teríamos recebido a sua sugestão com muito mais abertura.
Baseado na minha experiência e na do John, acredito que nós da comunidade da aviação podemos fazer um trabalho muito melhor em relação a pensar sobre riscos e a falar sobre eles. Sugiro que mudemos nosso vocabulário, incluindo a proibição do uso das palavras “seguro” e “segurança”, por dois motivos. Primeiro, quando usamos essas palavras, geralmente não queremos expressar o real sentido delas. E segundo, elas não nos dão uma orientação verdadeiramente útil.
Nós dizemos coisas como: “A segurança é a nossa prioridade número 1″. Se segurança fosse nossa prioridade número 1, nós nunca voaríamos. Ou dizemos: “Nós nunca vamos fazer concessões à segurança.” Entrar em qualquer veículo em movimento, principalmente uma aeronave, é fazer concessão à segurança. A segurança absoluta é inatingível. Então quando dizemos essas coisas, elas não são literalmente verdadeiras.
Toda esta conversa clichê sobre segurança não passa de falsa hipocrisia. E mais, trata-se de um mau gerenciamento porque estamos estabelecendo metas inatingíveis. Desejar que alguém tenha uma viagem segura reflete um sentimento cortês e agradável, mas é algo que não pode ser realizado. É literalmente impossível e não oferece nenhum plano de ação que possa ser seguido. Melhor seria esperar por um bom trabalho de gerenciamento de risco do voo.
E claro, as outras palavras que usaram frequentemente conosco, e que eu acredito que não foram úteis, foram “discernimento” e “tomada de decisão.” Embora elas se referem a componentes do gerenciamento de risco, não acho que o uso destes termos será útil para outros pilotos também. Não acredito que essas palavras serão bem recebidas pelos recipientes e é improvável que produzam resultados positivos. A área da aviação tende a atrair pessoas competentes e bem sucedidas que naturalmente acreditam que já empregam um bom discernimento e uma boa tomada de decisão. É improvável que deêm atenção a um instrutor (frequentemente mais jovem) que lhes diz que irá ensiná-los a ter discernimento e a tomar decisões. A reação deles provavelmente será: “Acho que não, garoto.”
Além disso, o termo “decisão” tende a implicar que ao chegar a um cuzamento na estrada, toma-se uma decisão em seguida. Eu gostaria de nos ver mais proativos do que isto, antecipando o cruzamento antes de chegarmos até ele. Bem, você deve estar perguntado, se você não gosta dos termos “seguro”, “segurança”, “discernimento” e “tomada de decisão”, o que podemos usar? Eu gosto de focar em “gerenciamento de risco” porque este termo descreve o processo necessário para obtermos bons resultados. Gerenciar riscos envolve antecipar riscos, avaliá-los e desenvolver uma estratégia contínua para a mitigação deles. E é exatamente isto que precisamos fazer para obtermos melhores resultados.
Quando convertermos a cultura da nossa comunidade de aviação para o foco em gerenciamento de risco, os pilotos não terão mais que adquirir conhecimento colocando-se repetidamente em risco e acumulando uma longa lista de coisas que eles não farão de novo — como o John e eu.
Fonte: Para Ser Piloto/ Artigo: Martha King
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