Os Reis do Céu – Voando com segurança (Parte I)
24 de janeiro de 2015 4min de leitura
A Mitigação de Riscos Absurdos para Pilotos como Nós
POR QUE NÃO DEMOS OUVIDOS?
PRECISAMOS ABORDAR PILOTOS AUDACIOSOS DE UM JEITO DIFERENTE
Muitos dos pilotos que têm voado por um tempo conhecem ao menos alguns pilotos que os espantam. Meu marido, John, e eu já fomos dois desses pilotos. Nós estávamos tão envolvidos com a ideia de usar a nossa aeronave como uma máquina de viagem pessoal e para divertimento que não deixaríamos nada — inexperiência, voo noturno, mau tempo, nem falhas no motor — nos atrapalhar. Recebíamos uma chamada atrás da outra até que o nosso inevitável acidente ocorreu.
Não foi, porém, pela falta de pilotos bem intencionados que tentaram abrir nossos olhos — como um rapaz em Albuquerque (EUA), que sugeriu que ao invés de fazermos uma viagem à noite sobre as montanhas durante uma tempestade de neve, seria mais prudente esperarmos até a manhã do dia seguinte.
Ou os vários pilotos, incluindo o tio do John, que sentiram que devíamos ter mais tempo de prática antes de trocarmos a nossa Cherokee por uma Comanhe, uma aeronave mais potente e complexa; ou, pelo menos, devíamos nos familiarizar um pouco mais com ela antes de partirmos para uma viagem de um dia da Califórnia à Indiana. Em ambos os casos, nós não apenas os ignoramos, como também nos sentimos ofendidos.
O que nos irritava era que eles diziam que o que estávamos fazendo não era “seguro”. Inclusive, chegaram a dizer que a nossa tomada de decisão e o nosso discernimento eram insatisfatórios.
O interessante é que esses pilotos estavam certos. O que estávamos fazendo, na verdade, não era judicioso.
Mas, por que não demos ouvidos?
Acho que a resposta é que por mais bem intencionados que esses pilotos estivessem, eles não usaram um vocabulário que causasse uma reação positiva em nós.
Por exemplo, até mesmo a palavra “seguro”, que é usada por quase todo mundo, não provocou uma boa reação em nós. Nós vínhamos mantendo um padrão de comportamento já por algum tempo e nunca tínhamos sofrido um acidente. Víamos a interferência de outras pessoas como uma reprimenda e uma tentativa de nos impedir de fazer o que queríamos fazer.
O problema com a palavra “seguro” é que é uma verdade absoluta. Segundo Merriam-Webster, a palavra “seguro” significa “livre de danos ou riscos”. Bem, nada na aviação está livre de perigo ou risco. É impossível ligar um motor sem riscos, assim como decolar sem riscos. Então, nossa reação era, ‘se o seu objetivo é estar “seguro”, você não pode fazer nada’. Considerávamos conversas sobre segurança como sendo algo pomposo e certinho.
Falar sobre segurança, de fato, não chegava a lugar algum conosco. Estávamos fechados, da mesma maneira, para assuntos sobre tomadas de decisão e discernimento. Estávamos cegos pelas auto-imagens positivas e considerávamo-nos empresários bem sucedidos. Não estávamos dispostos a conceber qualquer ideia de que não tomávamos decisões adequadas ou de que não tínhamos um bom discernimento.
Então, o que provocaria uma resposta positiva em nós? Receio que nada teria provocado algo positivo. Mas, o uso de um vocabulário diferente poderia ter ajudado. Se as pessoas que estavam preocupadas conosco tivessem dito algo como, “há riscos em tudo o que fazemos na aviação, mas a chave para resultados consistentemente bem sucedidos está no gerenciamento desses riscos”, talvez teriam gerado maior repercussão em nós.
Como todo mundo, sabíamos que estávamos correndo risco quando voávamos. Mas, acreditávamos que poderíamos nos livrar deles. Só não éramos bons ainda em identifcar todos os riscos, avaliá-los e desenvolver uma boa estratégia de mitigação.
A razão pela qual não éramos bons no gerenciamento de risco era porque nunca nos ensinaram como fazê-lo. Como muitos outros pilotos, a maneira como aprendemos a gerenciar riscos foi pela obtenção dos nossos certificados e pelas tentativas afora que fizemos. Se conseguíamos escapar de algo, colocávamos aquela experiência na categoria aceitável. Quanto mais vezes conseguíamos escapar, mais aquilo se tornava aceitável, sendo que em muitos casos, muito provavelmente, tivemos apenas sorte.
Por outro lado, se tentávamos algo e sentíamos medo, diríamos, “Uau, nós nunca mais vamos fazer isso” e colocaríamos aquela experiência na nossa crescente lista de coisas que havíamos decidido nunca mais fazer. Isso que é conhecido como aprendizagem por experiência. Mas, a experiência é uma professora cruel, porque primeiro ela aplica a prova e só depois ensina a lição. Fomos muito afortunados por termos sobrevivido às provas a fim de obtermos as lições.
Fonte: Para Ser Piloto/ Artigo: Martha King
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