ADRIANI JOSÉ DE SOUZA

Conforme informado na primeira parte deste artigo, trataremos agora sobre outros conceitos fundamentais para a correta e mais adequada forma de utilização das CORDAS DE SALVAMENTO.

Como sabemos, nas Corporações de Bombeiros Militares, Forças Policiais, Aviação de Segurança Pública e Forças Armadas, quando se trata de salvamento, são adquiridas as cordas semi-estáticas, com tecnologia Kernmantle, diâmetro de 12 ou 12.5 milímetros e carga de ruptura mínima de 4.000 kg.

A VIDA ÚTIL DAS CORDAS

A vida útil de uma corda não pode ser definida ou preestabelecida pelo tempo de uso. A sua duração depende de uma grande quantidade de variáveis, incluindo o cuidado individual, a freqüência de uso, os tipos de equipamentos utilizados, a velocidade de descida em rapel, a abrasão física, o clima, o tipo e intensidade de carga que é submetida, a degradação química, a exposição aos raios ultravioletas, entre outros.

Qualquer corda é vulnerável às forças destrutivas e pode apresentar falhas após ter sido descuidada ou submetida a condições extremas como cargas de impacto ou bordas afiadas (cantos vivos). A corda deve ser aposentada quando apresentar cortes, quando a abrasão tenha causado um desgaste significativo na capa, após uma queda forte (fator de queda maior que 0.25 em corda estática), quando existir suspeita de contaminação por agentes químicos ou em qualquer outra situação em que existam dúvidas a respeito.

Se todos os cuidados forem adotados, os usuários das cordas devem utilizar, como parâmetro, uma vida útil de 5 (cinco anos) para “aposentar” (descartar) uma corda de salvamento. Existem corporações que adotam tempo inferior a quatro anos. O mais importante é estar consciente que essa vida útil sempre dependerá das variáveis acima apresentadas.

CUIDADOS COM AS CORDAS

As cordas são construídas para suportarem grandes cargas de tração, entretanto, são sensíveis a corpos e superfícies abrasivas ou cortantes, a produtos químicos e aos raios solares.

bolsacordas

Modelo de bolsa para acondicionamento das cordas

É muito importante que se mantenha um registro da corda, pois não existe maneira não destrutiva de saber se a corda está boa ou não. Depende somente do responsável pelo uso conhecer sua corda e saber a quais esforços a mesma foi submetida. Nunca empreste sua corda; é aconselhável manter um registro com sua história.

Dessa forma os profissionais de salvamento em altura devem adotar os seguintes cuidados:

  • Evite superfícies abrasivas, não pise, não arraste e nem permita que a corda fique em contato com cantos vivos desprotegidos. Para tanto é essencial que sejam utilizados protetores de cordas específicos, vendidos no mercado, fabricados em borracha, couro ou pvc ;
  • Evite contato com graxa, solventes, combustíveis, produtos químicos de uma forma geral, pois os agentes químicos são os piores inimigos da corda. Gasolina, óleo, ácido de bateria, benzendo, tetracloreto de carbono e fenol (aquele dos limpadores com cheiro de pinho) podem debilitar e destruir a poliamida. Além disso, o concreto também possui alguns elementos destrutivos, por isso a corda não deve ser armazenada em piso de cimento;
  • Evite que a corda fique pressionada (“mordida”);
  • Não deixe a corda sob tensão por um período prolongado, nem tampouco a utilize para rebocar um carro ou para qualquer outro uso, senão aquele para o qual foi destinada;
  • Se houver necessidade de lavar a corda, utilize sabão neutro sem agentes químicos, nunca detergentes. Deixe-a secar ao ar livre, à sombra, em voltas frouxas, jamais ao sol, pois os raios ultravioletas danificam suas fibras.
  • Mantenha a corda limpa: as cordas também não devem ser armazenadas no chão, já que a sujeira pode danificá-las. Pequenas partículas de terra podem introduzir-se entre as fibras e na seqüência, quando for requerida a tensão à corda, podem cortar as fibras causando desgaste na capa e na alma. Pisar na corda com botas ou calçados sujos acelera e muito este processo.
  • Ao acondicionar a corda, dê preferência pelo acondicionamento em sacolas ou bolsas específicas, as quais têm diversas vantagens como proporcionar proteção à corda, facilidade de acondicionamento (bastando acomodar a corda no interior da sacola ou bolsa, sem qualquer cuidado especial), comodidade de transporte, além da garantia de que, uma vez lançada a sacola, não haverá risco de formação de cocas ou nós acidentais.

COMO INSPECIONAR UMA CORDA

As cordas de salvamento devem ser inspecionadas previamente em todas as situações em que houver necessidade de seu emprego.

A inspeção deve ser visual em toda a sua extensão, observando os seguintes aspectos:

  • Qualquer irregularidade, caroço, emagrecimento da alma, encurtamento ou inconsistência;
  • Sinais de corte e abrasão, queimadura, traços de produtos químicos ou em que os fios da capa estejam desfiados (felpudos);
  • O ângulo formado pela corda realizando um semi-círculo com as mãos, devendo haver uma certa resistência e um raio constante em toda sua extensão;
  • Se há falcaça (acabamento das extremidades), se a capa encontra-se acumulada em algum dos chicotes ou se a alma saiu da capa.

Nos próximos artigos trataremos sobre outros equipamentos de salvamento em altura. Aguardem…


Referências

MAS (Manual de Salvamento em Altura)
Coletânea de Manuais Técnicos – MTB26-Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo;
Catálogos New England
Catálogos PMI
Catálogo Roca
Catálogo Sterling
Revista NUS, Barcelona, Espanha, 1993
Vertical Caving, Meredith e Martinez, Lyon Equipment, UK
Catálogo Black Diamond
Catálogo Edelweiss
Catálogo Beal
Catálogo Climb High
Catálogo REI.


O autor é Capitão da Polícia Militar do Estado de São Paulo, comandante de aeronave do GRPAe/SP e especialista em salvamento em altura.