Operação policial aérea noturna – um exemplo de sucesso
13 de setembro de 2009 7min de leitura
13 de setembro de 2009 7min de leitura
PREÂMBULO
Esse artigo apresentado pelo autor, RICARDO GAMBARONI, trata de fato ocorrido em 1995, na cidade de São Paulo, entretanto, não é exclusivo, pois está publicado no site da Cidade de Oakland, Califórnia, EUA, um processo de “dispensa de licitação” de 22 de maio de 2007, para aquisição de um equipamento FLIR 8500XRT e um Broadcast Microwave System Downlink (BMS) no valor total de US$ 296,497,09 (com impostos), em substituição ao FLIR 2000 existente, pois se encontrava danificado, além de ser, atualmente, um equipamento obsoleto.
Na justificativa apresentada pelo Departamento de Polícia, ao Prefeito da Cidade de Oakland, foram apresentados alguns argumentos interessantes e conhecidos por aqueles que atuam na Aviação Policial no Brasil, como por exemplo: auxiliar nos acompanhamentos, a fim de minimizar os riscos de acidentes de trânsito com as viaturas policiais, localizar suspeitos, auxiliar os policiais no solo na prisão de marginais sem correrem risco de morte, localizar armas descartadas pelos marginais na fuga, controle de distúrbios civis, auxiliar o Corpo de Bombeiros em incêndios na cidade e em incêndios florestais, em acidentes automobilísticos, acompanhar suicidas sem que percebam que estão sendo monitorados, bem como facilitar o acesso dessas viaturas para evitar o trânsito e chegar logo ao local, etc.
Mais impressionante do que a transparência dos atos administrativos da Cidade de Oakland, é a preocupação com o que denominamos, aqui no Brasil, de Responsabilidade Social, ou Oportunidades de Desenvolvimento Sustentável, onde, além das questôes técnicas, a aquisição desses equipamentos é também justificada com base em outros três aspectos fundamentais, quais sejam:
– Econômico: O FLIR aumenta a eficiência da Unidade de Apoio Aéreo à noite, por sua vez, aumenta a eficiência dos policiais no solo. Este intercâmbio proporciona aos policiais maiores oportunidades para responder as chamadas de emergência, tornado a conduta mais pró-ativa dos policiais, engajando-se na solução de problemas. Todas estas atividades ajudam a polícia em controlar ou reduzir a criminalidade, tornando a cidade mais segura para nossos cidadãos. A cidade mais segura tem um maior oportunidade de crescer economicamente.
– Ambientais: Com o auxílio do 8500XRT FLIR câmera, as tripulações de vôo podem identificar rapidamente incêndios e reportarão diretamente ao Oakland Fire Department. Ao identificar e responder rapidamente aos incêndios, os danos à propriedade são diminuídos, resultando em uma diminuição de poluentes tóxicos na atmosfera.
– Eqüidade Social: a tecnologia FLIR aumenta a eficácia da Unidade de Apoio Aéreo, tornando o helicóptero mais eficiente em buscas aéreas, o que reforça a prevenção da violência e ajuda a facilitar a segurança dos moradores em todas as áreas de Oakland. Nesse assunto o Dartamento de Polícia chega ao detalhe de se preocupar com os idosos e pessoas com necessidades especiais ao afirmar que com o helicóptero equipado com modernas câmeras seria capaz de localizar rapidamente essas pessoas durante uma emergência e auxiliar no socorro delas.
Como vimos esses equipamentos em conjunto vão além da tecnologia e avançam na área da inteligência policial, minimizando riscos e gerenciando melhor a ocorrência, seja ela policial ou de bombeiro.
O ano era 1995. O Grupamento Aéreo da Polícia Militar estava ainda em fase de consolidação das operações aeropoliciais noturnas. Era a primeira vez que uma organização policial na América Latina fazia uso do FLIR, que havia sido levado ao conhecimento do grande público havia menos de dois anos, com a divulgação de imagens de combatentes americanos e bombas de precisão na Guerra do Golfo guiados por imageadores térmicos.
Apesar de já estar operando regularmente no período noturno, o Grupamento Aéreo era vítima de certo ceticismo por parte dos policiais no solo quando, por ocasião do apoio das aeronaves em uma busca noturna em áreas sem iluminação artificial, a tripulação da aeronave informava se havia ou não pessoas no local, após rápida visualização do perímetro de busca. Mesmo tendo sido informados de que as aeronaves, além do potente farol de busca, faziam uso de equipamento que permitia a transformação de ondas infravermelhas em imagem e, assim, podiam localizar pessoas e objetos pela diferença de temperatura em relação ao ambiente sem a necessidade de luz visível, havia um certo recato, para não dizer descrédito, na aceitação deste novo instrumento.
Uma ocorrência que marcou esta fase do início da operação noturna com aeronaves e provou irrefutavelmente a importância de tal equipamento nas unidades aeropoliciais foi uma perseguição, naquele mesmo ano de 1995, de dois meliantes armados que haviam sido interceptados pela Polícia Militar Rodoviária na Rodovia Ayrton Senna e empreenderam fuga no sentido da Capital. Durante a perseguição, por diversas vezes, os marginais dispararam em direção às viaturas que os seguiam.
Havia pouco movimento na estrada devido ao horário (cerca de 23:00h); mesmo assim, os policiais militares rodoviários preferiram manter o acompanhamento do veículo em fuga, em vez de interceptá-lo, e solicitaram um bloqueio à frente e o apoio do helicóptero da polícia para melhor atuação. Tal procedimento visa evitar riscos, de uma perseguição em alta velocidade, aos usuários da estrada e aos próprios policiais, sempre que tais medidas são possíveis.
Quando avistaram o bloqueio montado próximo à divisa de municípios, entre Guarulhos e São Paulo, os meliantes abandonaram o veículo e embrenharam-se em matagal às margens da rodovia. Os policiais que efetuavam o acompanhamento iniciaram o cerco e informaram às outras viaturas e ao helicóptero que convergiam para o local. Em razão de a vegetação ser alta e espessa, os policias logo perderam a pista dos meliantes e efetuaram um cerco nos possíveis pontos de fuga, mas a área era relativamente extensa, o que complicava a operação.
Com a chegada do Águia 03, equipado com o FLIR, foi feito um rastreamento do terreno e rapidamente localizados os dois meliantes, que estavam a menos de 30 metros da rodovia, homiziados em depressões do terreno cercado por espessa mata. Foi feita coordenação com os policiais no solo, que se dirigiram ao local com cautela e o mais silenciosamente possível, e, quando já próximos acenderam lanternas e deram voz de prisão aos dois meliantes.
Na detenção dos marginais, foi encontrado somente um revólver, mas um dos policiais havia visto uma pistola na mão do outro meliante momentos antes de embrenharem-se na mata. Então, os policiais passaram à tarefa de tentar localizar a arma, o que sabiam ser como a busca de “uma agulha em um palheiro”. O Tenente da Polícia Militar Rodoviária que comandou a operação, ainda impressionado com a eficiente localização dos meliantes pela aeronave numa escura noite, utilizando-se unicamente do FLIR, informou à tripulação do Águia 03 da existência da segunda arma e indagou se era possível localizá-la.
Mesmo sendo um objeto de pequenas dimensões, a tripulação julgou que seria possível, principalmente se houvesse efetuado disparos, o que teria elevado consideravelmente a temperatura no cano da arma e facilitaria sua localização.
A aeronave manteve-se então em vôo estacionário sobre o local da busca e o Comandante de Operações, manejando o “joystick” do FLIR, passou a esquadrinhar minuciosamente o terreno, visualizando mais atentamente os pontos em que verificasse emissão de calor. Mas, antes mesmo que metade da área fosse vasculhada, avistou um ponto de calor bem acima da temperatura ambiente e, utilizando-se do efeito de zoom do FLIR, pode delinear seu contorno: era a arma.
O Tenente foi informado e conduzido até o local pelas informações da aeronave. Como a área era pouco iluminada, o Comandante de Operações informava ao Tenente a quantidade de passos e direção a seguir até colocá-lo junto à arma. Aí disse: “A arma localizada está defronte a você, a menos de um passo de distância”. Imaginem a surpresa e convicção gerada na utilidade do equipamento quando o Tenente abaixou-se e, tateando o terreno, localizou a arma que não havia ainda visto, mas que havia sido detectada pela aeronave em vôo.
Houve um contentamento geral, pois em questão de minutos o objeto do crime foi localizado. Caso contrário, haveria necessidade de preservação do local até o amanhecer e o início de buscas, o que geraria gasto de pessoal que poderia estar sendo empregado no policiamento da rodovia.
Essa ocorrência, seguida por inúmeras outras em que o equipamento de visão noturna representou o sucesso da operação, demonstrou a importância da dotação de equipamento tecnologicamente sofisticado no emprego policial, e que seu custo, se alto para aquisição e manutenção, economiza horas de trabalho policial, liberando policiais para outras missões e significando muitas vezes o salvamento de uma preciosa vida, como pode ser comprovado em diversas buscas de pessoas perdidas e na detenção de criminosos.
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