O legado dos Grandes Eventos no combate ao crime organizado: sistemas de imageamento embarcado
13 de setembro de 2021 3min de leitura
13 de setembro de 2021 3min de leitura
A instituição “Crime Organizado S.A.” se tornou uma eficiente máquina de gerar resultados, através de processos e responsabilidades bem definidos, uma forte estrutura hierárquica que remete às organizações militares, uma alta adaptabilidade nas operações e agilidade nas decisões, além de um plano de carreira atraente, mesmo que a expectativa de vida dos integrantes seja baixa.
Por outro lado, as organizações de segurança públicas, submetidas a processos menos ágeis e sem o devido investimento em ferramentas modernas de inteligência, não conseguiram evoluir na mesma velocidade que o crime organizado, abrindo o flanco para a estruturação dos negócios criminosos de forma tão organizada e distribuída no território brasileiro.
O combate convencional, necessário, mas que expõe a tropa a riscos cada vez maiores e, por vezes, tem a forca policial em condição de inferioridade de equipamentos, informações, coordenação e efetivo, precisa ser complementado por métodos mais eficientes e atuais.
As modernas forças policiais voltaram esforços para frentes de inteligência, integração e coordenação, com resultados expressivos na redução da letalidade policial, baixas na tropa e perda de equipamentos. O investimento vale!
Os equipamentos de imageamento se tornaram um grande diferencial da polícia no combate ao crime organizado, que detém por muitas vezes muito armamento e privilégio por se situar em terrenos de difícil acesso.
Neste sentido, por ocasião da organização dos grandes eventos e pelas condições de segurança verificadas nos estados-sede, dada a exposição internacional dos eventos esportivos, a Secretaria Extraordinária de Segurança dos Grandes Eventos – SESGE, destinou recursos para investimento em modernas ferramentas de inteligência para utilização nos esforços de proteção das áreas dos eventos.
Os investimentos da SESGE nos sistemas de imageamento compreenderam a aquisição de 12 imageadores, 20 integrações com helicópteros policiais, treinamentos de mais de 130 operadores e mecânicos, em um investimento de mais de R$ 100 milhões.
Como legado dos grandes eventos, as forças policiais dos estados-sede estariam equipadas e treinadas para operar os modernos sistemas de imageamento aéreo multiespectral, integrados com mapas móveis no painel do operador, operando em condições de superioridade e fora de alcance do fogo inimigo. Este seria o ponto de partida para incorporação das modernas ferramentas de combate ao crime, na doutrina operacional dos 12 estados-sede dos jogos.
Estes equipamentos, integrados às forças policiais, poderiam contribuir definitivamente na melhoria da prestação dos serviços de segurança pública, sem que, no entanto, o estado houvesse investido na ferramenta. Talvez a gratuidade do equipamento tenha influenciado o que se seguiu…
Os sistemas em questão são considerados produtos controlados pelo ITAR, por seu uso militar restrito.
O custo total do ciclo de vida de um equipamento complexo, militar ou não, consome recursos muito superiores ao seu próprio custo de aquisição, todavia, esta realidade não é plenamente entendida por alguns operadores. A título de exemplo, a operação de uma aeronave policial típica, com 400h de voos anuais, consome recursos da ordem de 10% de seu custo de aquisição, somente com manutenções programadas.
Quando se consideram todos os custos incorridos na operação, além da própria depreciação do equipamento, a percentual supera o montante de 25% do valor de aquisição do equipamento.
O exemplo não pretende estabelecer referências de custo para a manutenção do sistema de imageamento, mas sim, fazer correlação sobre os princípios que deveriam ser aplicados à manutenção de um sistema complexo e que pode afetar a aeronavegabilidade da aeronave.
Além disso, equipamento complexos tem sua vida também influenciada por questões de obsolescência dos seus componentes que, cedo ou tarde, deixarão de ser produzidos e que inviabilizarão a operação do sistema.
No caso específico dos sistemas de imageamento em questão, quando os consideramos um ativo financeiro com vida limitada, e que incorre em depreciação ao longo do tempo, o melhor modo de se aproveitar os benefícios do equipamento é usá-lo ao máximo!
A falta de zelo e manutenção dos equipamentos implica na perda, pelas organizações policiais, desta importante ferramenta para fazer frente ao crime organizado.
Ao gestor público, é atribuída a responsabilidade por zelar pelo patrimônio e tomar adequadas ações para manter a máquina, assegurando o bom nível do serviço prestado.
Não faltam, todavia, exemplos de emprego pleno das capacidades destes complexos sistemas, em ambiente urbano, com excelentes resultados, à exemplo do GAM/PMERJ, um grande usuário do sistema.
Enviar comentário