INTRODUÇÃO

Antes de iniciar esse breve relato agradeço a oportunidade de ter conhecido a pessoa que possibilitou escrever mais essa história – Comandante Cláudio Finatti. Leia também: Os heróis existem – O incêndio do Edifício Andraus.

Passados 39 anos dessa tragédia, depois das atuações heroicas no incêndio do Edifício Andraus, 2 anos antes, vimos que esses pioneiros reescreveram a história do salvamento aéreo no Brasil e no mundo e esses pilotos foram os desbravadores e os grande motivadores do uso de helicópteros nas operações de segurança pública e de defesa civil, que nesta época era apenas um sonho.

O INCÊNDIO DO EDIFÍCIO JOELMA – Relatos de Aviadores e Policiais Militares

O incêndio aconteceu no dia 01 de fevereiro de 1974. Um dos grandes prédios de São Paulo, o Edifício Joelma havia sido inaugurado em 1971, com 25 andares e 4 elevadores. Foram 188 mortos e cerca de 300 feridos. Após o incêndio o Joelma passou por reformas e reaberto 4 anos depois, em 1978, com o nome de Edifício Praça da Bandeira.

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O Joelma, situado na Av 9 de Julho, 255, não possuía heliponto e isso causou um final trágico, pois muitas pessoas, com a lembrança do incêndio do edifício Andraus, subiram em busca de salvamento e se depararam com uma laje e um telhado (feito com telhas de amianto) e não com um heliponto.

O único helicóptero que teve atuação efetiva na retirada de pessoas do teto do Joelma foi o helicóptero militar UH-1H da FAB. Também participaram várias aeronaves civis no transportes de queimados e suprimentos, dentre elas aeronaves civis da Pirelli, Papel Simão, DERSA, etc. O helicóptero UH-1H fazia pairado sobre o edifício e conseguia retirar as pessoas. Os feridos eram levados por ele ao heliponto do prédio da Câmara Municipal, onde ficaram pousados os demais helicópteros e seus pilotos civis, auxiliando as operações de salvamento, transportando-as aos hospitais.

edificio_joelma coberturaO helicóptero UH-1H da FAB era tripulado pelo, então, Maj Av Pradatzki, Ten Av Taketani e pelo Sgt Silva, mecânico da aeronave. O helicóptero decolou da Base Aérea de Santos, depois de prevoado e liberado pelo mecânico responsável, o então Sgt Maurici da Força Aérea.

Essa aeronave ainda levou ao topo do prédio o então Ten PM Nakaharada do COE, Sd PM Juvenal (COE), Sd PM Cid Monteiro (COE) e o médico civil Dr Wanderley. Segundo relatos essa foi a segunda equipe a desembarcar no topo do prédio. A primeira aconteceu de um helicóptero civil.

O Sgt PM Augusto Cassaniga do Batalhão “Tobias de Aguiar” da Polícia Militar de São Paulo, foi o primeiro a saltar no teto do edifício Joelma de um helicóptero civil (segundo relatos foi do helicóptero do DERSA, pilotado por Monteiro), coincidentemente, Cassaniga havia participado também no salvamento das pessoas no incêndio do edifício Andraus. Após várias tentativas, saltou da aeronave a uma altura de cerca de 4 metros e quando tocou o chão fraturou seu tornozelo, mesmo assim, esqueceu a dor e organizou o salvamento.

Como o helicóptero militar não conseguia pousar no teto do edifício, as pessoas se agarravam nos esquis do UH-1H da FAB e, com ajuda da tripulação, eram colocadas para dentro do helicóptero. Foi uma operação arriscada de embarque a baixa altura, mas que funcionou. Isso se deve certamente ao treinamento da tripulação em condições semelhantes.

Sobre o prédio da Câmara Municipal havia o heliponto e, ao lado, uma área de mesma dimensão, onde os pilotos civis (muitos deles haviam trabalhado no incêndio do Andraus) pousavam suas aeronaves e conduziam as vítimas aos hospitais, principalmente ao Hospital das Clínicas, pousando em um campo de futebol próximo. Nessa época o Hospital das Clínicas não possuía heliponto. Hoje ele possui dois helipontos e são diariamente utilizados pelos Águias da PM de São Paulo no resgate de pessoas.

O Comandante Cláudio Finatti, um dos heróis do incêndio do Andraus, descreve uma passagem surreal, quando tripulando o helicóptero SH1100 Hiller, Comandado por Silvio Monteiro tiveram, dentre outras, a missão de jogar 28 metros de corda de sisal no teto do edifício Joelma, pois era impossível aproximar com essa aeronave ou pousar no teto do Joelma, além da corda ser muito pesada e de difícil manuseio.

Finatti tentou o lançamento duas vezes, uma delas bateu no parapeito do prédio e caiu, na segunda as cordas se enroscaram no esqui. A terceira tentativa deu certo, mas infelizmente não teve muita utilidade para as pessoas que estavam ali. A ideia era que as pessoas amarassem as cordas no parapeito do prédio e descessem até que chegassem próximas das escadas “magirus”do bombeiro, ou conseguissem acesso a um outro andar.

Outro momento insólito e extremamente audaz foi o pouso do Comandante Carlos Alberto (o primeiro piloto de helicóptero do Brasil, confira a história), com a ajuda do Eng. Carlo de Bellegarde de Saint Lary, pousou um Bell Jet Ranger 206A, PT-HBN (SN 229 – 1967/68), da empresa Pirelli, sobre uma pequena laje de um prédio vizinho. Ali, os bombeiros passaram cordas, ligando os dois prédios e tentavam retirar as pessoas.

Segundo a história, atravessaram os prédios, utilizando-se da técnica “comando craw”, os então Cap PM Hélio Caldas do Bombeiro, o Ten PM Lisias do COE, o Sd PM antônio Benedito Santos (COE) e o Sd PM Osmar Iachelli (COE). Além desses, participaram do salvamento no edifício, o Cap PM Idalécio, Sgt PM Newton, Sd PM Fucile e Sd PM Santos. Certamente existem outros profissionais que atuaram nesse incêndio.

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Diante da ousadia de pilotos, tripulantes, bombeiros, policias militares, foram construídas “pontes”, utilizando cordas entre os prédios vizinhos, de onde vinham sacos de leite, água e barras de chocolate. Como aconteceu com o edifício Andraus, praticamente todos os helicópteros disponíveis na capital participaram das operações de salvamento, porém sem o mesmo sucesso, pois o Edifício Joelma não possui heliponto e sua arquitetura dificultava a aproximação de helicópteros no teto, face ao calor intenso e as chamas.

REFLEXÃO

Atualmente, em São Paulo e em outros estados no Brasil existem pouquíssimos hospitais públicos com helipontos registrados pela ANAC e preparados para receber vítimas graves. Para se ter uma ideia, na cidade de São Paulo, somente o Hospital das Clínicas, Hospital Santa Marcelina e o Hospital Municipal de M´Boi Mirim possuem essa estrutura. O Hospital do Mandaqui está em fase final para oferecer heliponto e estrutura para receber vítimas graves.

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O Hospital da Santa Casa de São Paulo teve seu heliponto interditado pela ANAC em 2008 e afetou muito o trabalho de resgate dos Águias da PM, pois o Hospital oferecia toda a estrutura e o heliponto era seguro e sinalizado. Na época a ANAC interditou alegando que a área não oferecia condições mínimas de segurança operacional, apesar de ser seguro e atender a população paulista.

Outro exemplo, o Hospital da Universidade Federal de São Paulo (Escola Paulista de Medicina) não oferece essa estrutura. Esse hospital possuía um heliponto adaptado para receber helicópteros até 1 tonelada e o Águia chegou a transportar vitimas para lá. Fazia-se o “pairado”, com toque leve dos esquis e desembarcava as vitimas. Parece absurdo, mas era assim que acontecia. Esse sim não oferecia nenhuma segurança. Isso não acontece mais. A decisão de não usar mais foi do próprio Grupamento Aéreo.

Confira o vídeo:


REFERÊNCIAS

– Revista Pirelli, Ano XXIII, N 118, de dezembro de 1978, pg 24, 10 anos no Ar;
– Fotos da Agência Estado, dos Jornais e do acervo pessoal do Comandante Finatti;
– Entrevista com o Cap Ref PM Newton Ferreira da Silva.
– São Paulo Antiga – SPa – www.saopauloiantiga.com.br, por Douglas Nascimento.


O Autor: Eduardo Alexandre Beni é Coronel da reserva da Polícia Militar de São Paulo e trabalhou no Grupamento de Radiopatrulha Aérea. É piloto comercial de helicóptero e instrutor de voo.


Nota do autor: As pessoas que possuirem mais informações, fotos, ou que sugiram alterações, correções no texto, favor enviar mensagem no e-mail: [email protected].