“Não tem lógica julgar pelo sexo”, diz 1ª mulher de São Paulo a pilotar o Águia
08 de março de 2015 5min de leitura
08 de março de 2015 5min de leitura
São Paulo – Ela cresceu se dividindo entre bonecas e partidas de futebol, brincando nas ruas do Jardim América, na Zona Sul de Sorocaba (SP). Filha do meio, o primeiro contato de Lara Carolina Palhiari Duarte com a aviação foi com um avião de brinquedo de um dos irmãos. Depois disto, a vontade de correr pelos ares começou a falar mais alto.
Hoje, vaidosa e tímida – apesar de brincalhona -, a menina se transformou em uma integrante de um grupo seleto a pilotar os helicópteros Águia, da Polícia Militar, pelos céus de São Paulo. Primeira a ser aprovada para entrar no curso para copilotos, em 2012, a tenente Lara é uma dos integrantes das equipes que atuam em salvamentos e operações policiais do Águia no interior paulista. Além dela, existe apenas mais uma copiloto na capital e outra em formação na base de Piracicaba (SP).
Apesar da minoria, a tenente diz que a diferença entre gênero acaba quando as atividades operacionais começam. “Só o banheiro é diferente, quando toca a sirene é todo mundo igual. Desde a formação até a rotina no trabalho a gente não vê sexo. Não tem lógica julgar as pessoas por elas serem ou não mulheres”, opina a tenente.
Há 10 anos, hoje com 29, começou a carreira militar, sendo os últimos dois se dedicando a carreira dentro das equipes do Águia. Foram quatro meses de provas incluindo resistência física e emocional antes de conquistar o feito ainda inédito entre as mulheres e começar o treinamento para voar.
A aprovação para o curso de copiloto deixou Lara receosa, já que até então, o ambiente era majoritariamente formado por homens. “Era novidade para todo mundo. Me cobrava muito porque não queria decepcionar as expectativas. Desde o começo briguei para ser tratada da mesma forma. Eu tenho esse pensamento de que a gente tem que ser respeitado não por ser homem ou mulher, mas por ser ser humano”. A tenente espera se tornar piloto em dois anos após passar por uma nova série de testes e treinamentos.
O comandante da base em Sorocaba, Major Renato Martins, é enfático ao afirmar que Lara é tratada como qualquer outro policial. “A cobrança e o tratamento são os mesmos para todo mundo. Quando eu entrei para o Águia, há 18 anos, diziam que não era possível ter uma mulher atuando entre a gente. O preconceito era muito grande. No começo, quando a tenente entrou, tivemos um pouco de receio, até por ser uma novidade para todo mundo. Mas ela se saiu bem”. Ele, entretanto, não deixa de elogiar a tenente: “Só o helicóptero que ficou mais cheiroso”, brinca.
Reflexão e incentivo
Para a tenente, o Dia Internacional das Mulheres, celebrado neste domingo (8), é um lembrete para as conquistas femininas nos últimas anos. A data, continua ela, deve servir como reflexão. “Eu nunca sofri preconceito por estar nesta atividade, mas sabemos que essa não é a realidade de muitas mulheres, que sofrem isto e são tratadas de forma diferente. Temos muito o que conquistar. Não é o sexo da pessoa que vai fazer diferença.”
E foram essas conquistas que permitiram que ela chegasse ao cargo de tenente. “É um reflexo sim. Há 50 anos eu não conseguiria isto. Quando eu entrei na PM, em 2004, o quadro era dividido por sexo, só o fato de ocupar o mesmo quadro e em tão pouco tempo chegar até aqui já é uma conquista”, comenta.
A tenente afirma que nunca imaginou ser a primeira mulher a entrar para o Águia. “Eu me dediquei bastante para entrar, porque era o meu sonho, mas não tinha essa pretensão”, conta. Entretanto, ela considera um importante marco para as mulheres. “Muitas achavam que era impossível ser copiloto do Águia. As funções para as mulheres eram administrativas. E eu provei que é possível sim.”
Momentos marcantes
Apesar do pouco tempo de atuação, a tenente relembra que os momentos mais marcantes do trabalho são sempre os envolvendo o salvamento de vítimas em situações de díficil acesso. Um dos apoios a resgates que ela esteve envolvida foi o de uma jovem que caiu de uma altura de 30 metros em uma cachoeira na cidade de Votorantim (SP).
O acidente aconteceu enquanto a garota percorria uma trilha com um grupo de amigos em uma área de mata preservada e despencou de uma cachoeira conhecida como “Paradise”. Foi necessário o apoio do helicóptero Águia para ajudar no resgate, já que o local é de difícil acesso (veja o vídeo). “Eu acompanhei de perto o salvamento como copiloto, auxiliando o comandante. Foi um momento de muita aprendizagem para mim”, lembra. Antes disto, ela já havia atuado no Bravo, helicóptero da Polícia Militar destinado a resgates de urgências médicas na capital paulista.
Fora da base
Antes de ir embora, Lara vai até o dormitório feminino, onde já tem a sua roupa esticada em cima da cama, pronta para ir para casa. Lá espera o marido com quem é casada há seis anos. Até quem conhece a jovem acaba passando despercebido na rua. “Eu me arrumo e sou vaidosa como toda mulher. Vou ao cabeleireiro, gosto de sair, passar perfume”, confessa.
Agora ela espera a hora certa para realizar outro sonho: ser mãe. “Menino ou menina, tendo saúde está bom. Tento conciliar o trabalho com a vida pessoal, mas daqui uns dois anos eu pretendo ter um filho sim”, conclui.
Fonte: Por Jomar Bellini, do G1 Sorocaba e Jundiaí.
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