Mulheres são destaque em aeronaves da PM
08 de março de 2016 4min de leitura
Bahia – Há 20 anos, quando foi aprovada no concurso para ingressar na Polícia Militar, a subtenente Natália Monteiro, 42, precisou fazer ajustes para que o fardamento coubesse em seu corpo. Não era somente uma questão de vaidade: a roupa era a mesma disponibilizada aos homens e, por causa do tamanho grande, prejudicava os movimentos da policial.
Hoje, Natália atua na unidade financeira do Grupamento Aéreo da PM-BA e exibe com orgulho o macacão devidamente ajustado às suas medidas. No rosto, o batom compõe a produção de uma mulher que não perdeu a ternura, mesmo tendo que endurecer para conquistar o espaço onde as mulheres são minoria – 87% da corporação é composta por homens.
A possibilidade de vestir um uniforme feminino é apenas uma das conquistas das mulheres da PM-BA. Hoje, elas são apenas 13% do total de funcionários, mas, nos últimos anos, têm assistido ao crescimento do ingresso de mais policiais do sexo feminino.
Enquanto, em 2013, apenas 22 mulheres entraram na Polícia, em 2014, o número saltou para 249. O cenário atual da PM-BA ilustra uma tendência apresentada pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatística (IBGE): o aumento do número de mulheres no mercado de trabalho na Bahia e na ocupação de funções que, tradicionalmente, eram dominadas por homens.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), de 2012 para 2014, apontam que a participação de mulheres, na Bahia, cresceu em setores como indústria (de 2,26% para 2,43%), indústria de transformação (de 2,2% para 2,36%), construção (de 0,19% para 0,26%) e nos cargos de gerência (de 2,09% para 2,13%).
Para o economista Marco Antônio Tavares, embora o crescimento seja tímido, a tendência é que a participação das mulheres nesses setores seja ainda mais expressiva ao longo dos anos. A previsão do especialista é compartilhada por Natália: “Tenho certeza que, daqui a alguns anos, estaremos sendo comandadas em alto grau por mulheres”.
Voando alto
Se depender da determinação das demais colegas, a previsão da subtenente poderá ser concretizada em breve. Este ano, quando a PM-BA completou 26 anos do ingresso de mulheres na corporação, as capitãs Danusa de Oliveira, 34, e Maíra Galindo , 33, assumiram o cargo de comandantes de operações do Graer.
É a primeira vez que mulheres ocupam o comando dos helicópteros do Graer. Para tanto, além de provas teóricas, elas foram submetidas a exames físicos, psicológicos e específicos. Após serem aprovadas na seleção, que teve a participação de homens e mulheres, as duas se dedicaram exclusivamente a um treinamento de um ano e meio.
“É uma atividade desafiadora, embora seja de bastante risco. Ela requer atenção, e bem-estar físico e psicológico, independentemente do sexo. Mas, antes de ser militar, sou uma mulher que quer desempenhar a atividade com êxito e crescer ainda mais na profissão”, disse a capitã Danusa, que tem 15 anos de PM-BA.
Para Maíra, tamanho empenho implica, ainda, adiar alguns sonho, como o de ser mãe: “Na atividade de piloto policial, há uma demanda forte do corpo. Assim que engravida, a mulher passa a realizar serviços internos. Podemos deixar os filhos para mais tarde”.
Entre os homens, o sentimento é de igualdade. “Claro que existem casos de preconceito, que tentamos combater. Hoje, as duas dividem o espaço igualmente e desempenham com muito êxito as funções”, afirmou o major Cesar Ricardo, coordenador de planejamento operacional do Graer.
Qualidade de vida
As capitãs Danusa de Oliveira e Maíra Galindo são solteiras, sem filhos e têm nível superior. Tal perfil de mulher, segundo a socióloga e pesquisadora da Universidade Estadual da Bahia (Uneb) Antônia Barreto, está diretamente ligado às recentes mudanças na sociedade que implicaram um empoderamento.
“Empoderar mulheres é, de acordo com a Organização das Nações Unidas, garantia para promover a qualidade de vida do gênero. Por isso, muitas têm driblado os obstáculos culturais para investir na carreira profissional, por exemplo”, disse.
A socióloga atribui o comportamento aos dispositivos da lei, como a Maria da Penha, e às redes de atendimento à mulher municipal e estadual: “Se avaliarmos de forma isolada, sim, temos grandes deficiências no atendimento às mulheres, sobretudo às vítimas de violência. Mas, pelo contexto histórico, podemos afirmar que elas são, hoje, melhor amparadas e orientadas para serem livres para estar onde quiserem”.
Mercado de trabalho
Por causa desse tipo de investimento pessoal, o economista Marco Antônio Tavares acredita que, nos próximos anos, o número de mulheres que ocupam cargos de gerência ou alta gerência vai subir.
“Em 2015, uma pesquisa realizada por uma plataforma virtual de empregos, constatou que o número de mulheres em cargos de alta gerência passou de 12,89%, em 2002, para 27,06%, em 2015. Isso significou um aumento de cerca de 109%, número considerável se avaliarmos o papel da mulher no mercado de trabalho há 10 anos, por exemplo”, afirmou.
Fonte: A tarde.
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