EPI – Macacão de Voo e Luvas de Voo – Conheça algumas especificações técnicas dos tecidos
13 de março de 2017 11min de leitura
13 de março de 2017 11min de leitura
Esse artigo foi publicado originalmente em 29 de outubro de 2009, mas como a tecnologia dos tecidos melhorou e alguns fabricantes mudaram algumas especificações de seus produtos, atualizamos o texto.
O tecido Nomex ®, uma marca DuPont™, foi utilizado pela primeira vez pelos militares em 1965, quando a Marinha EUA utilizou o macacão de voo feito de fibra de Nomex ® brand. Hoje, a fibra Nomex ® é uma parte integrante dos trajes de voo militares, policiais, de bombeiros, além das balaclavas, coletes e luvas de voo. Seus benefícios são inúmeros. O principal é a segurança.
Além de outros tipos de tecidos, o Nomex® Comfort, Nomex® IIIA e Nomex® Flight Suit (N303) são utilizados na confecção dos macacões de voo para a Aviação de Segurança Pública e Aviação Militar no Brasil e no mundo.
A DuPont™, detentora da marca Nomex ®, produzem uma gama de tecidos de meta-aramida para utilizações diversas. Importante dizer que também produz fibras de meta-aramida a empresa Kermel, inclusive em vestimentas especiais utilizadas para os serviços de bombeiros, exército, polícia, indústria, etc. (Clique e leia o catálogo da Kermel)
Outra empresa que fabrica esses tecidos é a americana Westex by Milliken, que no final de 2015 adquiriu a Springfield LLC. Esta aquisição ampliou a presença global nos mercados de vestuário industrial e tecido militar.
Especificamente sobre a fibra Nomex®, esta possui diversas configurações e gramaturas, pois para cada tipo de utilização será usado um material específico. A DuPont™ possui uma página que apresenta todas as características técnicas do tecido desejado (Pesquise), mas fique atendo pois existem diferenças entre aqueles de aplicação industrial e de aplicação militar/segurança.
Como regra geral, o Nomex® Comfort e o Nomex® IIIA são utilizados como vestuário de proteção e possuem a composição de 93% meta aramida, 5% para aramida e 2% fibra antiestática de carbono. A gramatura também pode variar, podendo ter peso de 203 g/m², 153 g/m² ou ainda 165g/m². Aqui existe um ponto controverso em licitações públicas – a gramatura. Elas são variadas e vai depender daquilo que pretende adquirir. Veja que os catálogos da DuPont™ no Brasil ainda não apresentam a opção dos tecidos com gramatura de 165g/m², muito embora sejam produzidos, por exemplo, pela empresa espanhola Estambril, licenciada pela Dupont.
Outro tecido muito utilizado no mundo é o Nomex® Flight Suit N303, classificado como vestuário de proteção militar, muito utilizado pelas tripulações americanas. Ele possui composição diferente: 92% meta aramida, 5% para aramida e 3% fibra antiestática de carbono, porém, como via de regra, apresenta gramatura de 153 g/m².
Todos eles possuem ótimas gramaturas e composições, pois são leves e confortáveis, entretanto, importante alertar que se for comprar um macacão de voo, atente para as especificações, especialmente para a composição, gramatura e performance térmica e mecânica (peeling, resistência a tração e alongamento).
As gramaturas e composições mantém certo padrão, porém são dinâmicas e sempre há uma atualização tecnológica, assim os órgãos públicos que realizam licitações para compra desses equipamentos de proteção individual devem atualizar essas informações, tendo certeza do que realmente querem comprar e se há no mercado empresas que forneçam.
A tecnologia utilizada no Nomex® protege contra o calor extremo, especialmente quando há arco de explosão súbita. Este material é composto por uma mistura de fibras que ajudam a ter mais resistência térmica, além de oferecer leveza e conforto ao usuário, oferecendo extrema durabilidade.
Além desses materiais, há também disponível no mercado outros produtos, mas produzidos para uso industrial (Empresas de Energia Elétrica, Brigadas de Incêndio), para pilotos de carros de corrida, aviação desportiva, aviação civil, etc.
Sabe-se que em algumas atividades de risco é recomendado o uso de fibras que possuam propriedades antichama, assim, podemos dizer que a composição do Nomex® esta diretamente ligada ao tempo de exposição ao calor e a temperatura.
O nível de proteção elevado da fibra de aramida Nomex ® está na sua estrutura molecular e, portanto, não requer nenhum tratamento químico, isto significa que a resistência das roupas de proteção feitas com essa fibra é inerente e permanente, não sendo removida com lavagens, uso ou armazenamento.
Quanto às cores dos macacões de voo, como regra para a aviação militar e policial, o verde sávia (sage green-padrão 100%) é o mais utilizado, conforme a norma MIL-C-83429B e MIL-C-83429B (Amendment 2). Para os Bombeiros e Defesa Civil, o laranja é o padrão internacional do salvamento, porém outras cores são possíveis de encontrar no mercado, como a preta, azul, cinza, vermelho, caqui, etc. Algumas cores são utilizadas para aplicação industrial e outras para aplicação militar.
Recentemente, a Força Aérea Americana pediu a transição do Sage Green para o chamado Freedom Green. O Freedom Green é um protótipo desenvolvido para corrigir um problema de metamerismo (Muitas vezes, duas cores parecem idênticas à luz do dia, mas diferentes debaixo de outra fonte de luz) que a Força Aérea tem experimentado com o atual Sage Green. Um longo estudo da Força Aérea dos Estados Unidos identificou que o Sage Green tem muito menos refletividade solar do que o novo.
No processo de fabricação da fibra Nomex® é feita a tintura, denominada “tinto em massa”, onde é definida a cor e dada a proteção UV, cujo objetivo é evitar que o tecido desbote e mantenha a cor por muito tempo.
Neste processo, o fio é colorido com pigmentos especiais adicionados na massa antes de o fio ser fiado. Os fios tintos em massa apresentam maior uniformidade de cor, melhor solidez à luz, sublimação e lavagem, assim o tinto em massa elimina o processo de tingimento posterior.
Estima-se que os macacões de voo com tecido Nomex®, tinto em massa, e com proteção UV, iniciem processo de descoloração após o oitavo ano de uso, entretanto, não tira a validade do tecido, pois são processos diferentes, ou seja, a tintura é somente um processo “estético” na produção final do tecido.
Pode-se dizer que o tecido Nomex® NÃO possui prazo de validade, ou seja, suas propriedades antichama não se degradam com o tempo ou uso, desde que não haja exposição ao calor extremo.
O que há de recomendação do fabricante é quanto a estocagem, pois pode, conforme o caso, danificar o tecido. Assim o tecido estocado por mais de 2 anos deverá ser analisado, mas isso não significa que não possa ser utilizado, pois, como dito, vai depender de sua estocagem e análise.
Oportuno lembrar que na confecção do macacão de voo estão incluídos os zíperes, velcro® e a linha, que também devem receber tratamento antichama.
Importante dizer que o macacão de voo que desbota é aquele que não passou pelo processo de proteção UV ou foi tingido após a fabricação do tecido, e, por isso, com o tempo e lavagens sucessivas, ele pode ficar acinzentado ou amarelado, mas também, NÃO tira a validade da proteção antichama que o tecido proporciona, pois, como dito anteriormente, são processos diferentes.
O que ocorre e causa certa confusão aos desavisados é o processo denominado: Pyrovatex, que consiste num banho químico (sal especial) dado em qualquer tecido (algodão, sarja, brim, etc), com o objetivo de evitar a propagação do fogo e retardar as chamas.
Esse tipo de banho é dado, cumprindo normas de segurança, em cortinas, carpetes, uniformes industriais, macacões em geral (pode-se encontrar no mercado macacões de voo), etc, mas NÃO são certificados para uso na aviação policial ou militar.
Esse material, SIM, possui vencimento, pois com o uso e lavagens sucessivas (média de 100 lavagens industriais) vai perdendo suas propriedades de proteção, além de descolorir.
Em todo o mundo, as luvas de voo são fabricadas de acordo com as especificações militares dos EUA, norma MIL-DTL-81188C de 2001, a qual substituiu a norma MIL-G-81188B de 1979.
Essas luvas são elaboradas, em sua maioria em tecido Nomex® e oferecem excelente sensibilidade tátil, além de suportarem a chama. Seus tamanhos são padronizados, ou em letras (XS, S, M, L, XL ou XXL) ou em números (6 a 11 – curto e longo)
A confecção de luvas de voo militares seguem padrões pré estabelecidos na norma MIL-DTL-81188C e, dentre outras coisas, apresenta a seguinte composição: 92% meta aramida, 5% para aramida e 3% fibra antiestática de carbono. Portanto, fique atento na especificação do seu edital. Evite recursos desnecessários.
Assim, o tecido de fibra Nomex® que compõem os macacões de voo utilizados pelas Unidades da Aviação Policial ou Militar no Brasil e no mundo não possuem prazo de validade, claro que deve ser considerado seu estado de conservação em razão do uso e acondicionamento. Esse é o seu limitador como qualquer outra vestimenta e vai depender, única e exclusivamente, dos cuidados que a pessoa tem com seu equipamento de proteção individual (EPI).
Podemos dizer então que não há prazo de validade às suas propriedades de proteção, o que poderá ocorrer é o desgaste natural da vestimenta em razão do uso e armazenamento.
A forma de aquisição ou confecção dos macacões de voo será definida pela Administração, lembrando que é possível adquirir macacões prontos (importados) através de representantes, entretanto, como viu-se, a especificação técnica desse equipamento precisa ser bem analisada, conforme os modelos apresentados no mercado.
Você precisa saber se realmente eles atendem as especificações de composição, gramatura, performance mecânica e térmica e se realmente utilizam o tecido que anunciam. Por isso, o teste laboratorial pode ser uma boa solução. Comprar um tecido sem realizar esses testes pode colocar em risco pilotos, tripulantes e mecânicos.
Como dado histórico e relevante, o Grupamento de Radiopatrulha Aérea de São Paulo no final da década de 90 desenvolveu seu primeiro macacão de voo utilizando o tecido Nomex® e o modelo adotado pela histórica norma MIL-C-83141-A USAF de 1.969 e MIL-C-83141-A (Amendment) de 1977 – Força Aérea dos Estados Unidos da América.
Essa norma definiu esse modelo de macacão de voo e dele surgiram muitas variações. Lembre-se que além do modelo, há no mercado outros tecidos, como por exemplo o Kermel e outros modelos de macacão. Existem muitas empresas que vendem macacões de voo com esses e outros tecidos. A melhor forma de saber se está comprando um material certificado é pesquisando com o fabricante dos tecidos. Pesquise!
Com o passar dos anos outras Organizações de Aviação de Segurança Pública e Militar adotaram esse modelo de macacão, entretanto, o macacão de voo tem padrão internacional, pois o que muda de um para outro são detalhes de bolso, costuras, zíperes, tecido, cor, etc, conforme as necessidades dos usuários, o que os tornam muito parecidos e confiáveis.
É importante ressaltar que antes do início do processo licitatório a Administração Pública tem a total liberdade na escolha do modelo, podendo alterá-lo, substituí-lo, dependendo apenas dos interesses da própria Administração na escolha do modelo que melhor se adéqua às suas necessidades.
Há alguns exemplos de editais de licitações, contratos e regulamentos de uniformes que tratam, além do macacão de voo, de luvas de voo, capacete de voo e calçados de voo. Esses documentos estão publicados na Internet e é possível perceber uma certa padronização dos objetos (macacão de voo, luvas, capacete e calçados) especificados nas licitações e contratos, bem como a preocupação das Organizações de Aviação de Segurança Pública do Brasil com a segurança de seus Aeronavegantes.
Os tecidos melhoraram e alguns podem ter mudado suas especificações, então, antes de publicar seu edital certifique-se com os fabricantes do tecido se eles ainda são produzidos ou se mudaram sua gramatura, composição, performance, etc, tanto para luva, como para o macacão de voo. Pense também na possibilidade de realizar teste laboratorial, ele vai ajudá-lo na escolha do melhor produto – aquele dê proteção térmica, mecânica, conforto e durabilidade.
Hoje, como exitem no mercado diversos tecidos, cada um com sua gramatura e composição, preocupe-se com a correta especificação do produto que pretende adquirir, pois editais estão sendo impugnados por conta desses motivos, gerando muitos recursos desnecessários. Nessa onda de ficar copiando especificações técnicas de editais, muitos transtornos são causados. A especificação de um produto é dinâmica e deve ser estudada.
FIQUE ATENTO !
Bons voos, boa gestão, com segurança!
Autor: Eduardo Alexandre Beni / Piloto Policial
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