NÁDIA TEBICHERANE

Abriu a porta em silêncio. A casa estava naquela penumbra de final de tarde. Amarrou o macacão de voo pelas mangas na altura da cintura. Tirou o bute como se tirasse as amarras…

As imagens do último pouso ainda estavam diante de seus olhos…Andou até a cozinha e olhou a geladeira na expectativa.

Abriu-a e começou uma busca implacável. De repente, lá estava ela: a última cerveja gelada.

Sorriu e pegou a latinha. Procurou algo para comer. Nada. Um pedaço de pizza do dia anterior caiu como um manjar.

Tomou um banho e enquanto sentia a tensão do dia esvair-se em água e sabão, revia cenas do céu e do movimento da cidade vista de cima… Vestiu uma roupa confortável e jogou-se na cama fria. De olhos fechados procurou algo que parecia de suma importância para sua sobrevivência.

Finalmente encontrou o controle da tv. Ligou a mesma e começou a ver o que tinha de bom. Não ficava nem trinta segundos em cada canal, mas isso não importava. O que contava era o poder de ver tudo e não ver nada…

As luzes da televisão começaram a se confundir com vários pontos de luz dentro da sua cabeça e em torno do seu campo de visão.

Sua autonomia durou algo perto de cinco minutos.

Quando a esposa chegou ele já estava em outro mundo, outro lugar…