Ele acordou de manhã, vestiu a farda de capitão com três estrelas e seguiu até a Base de Radiopatrulha Aérea (BRPAe) da Polícia Militar em Bauru, interior de São Paulo. Ao sair de casa, entretanto, o pequeno João Pedro Costa dos Santos, cadeirante de apenas 10 anos, nem imaginava que estava prestes a realizar o maior sonho de sua vida: voar com o helicóptero Águia da PM.

Piloto por um dia

O menino, que sofre de uma doença rara de pele chamada Epidermólise Bolhosa (aparecimento de bolhas em áreas de maior atrito do corpo e nas mucosas), conseguiu a façanha depois de sensibilizar a corporação através de um vídeo e uma carta, em que ele fazia o pedido nada comum. “Eu escrevi sozinho”, orgulha-se João, ao falar de seu poema.

A ideia partiu da assistente social Kátia Cristina Turato. Há anos, ela acompanha a criança em programas da Secretaria de Saúde. “Um dia, eu liguei na base e deu certo para agendar uma visita”, contou.

O que parecia ser algo impossível de acontecer, conforme reconheceu a própria mãe do menino, a cuidadora Marines da Costa, 48 anos, ganhou proporções reais durante o Arraia Aéreo deste ano, do astronauta Marcos Pontes.

João Pedro já havia visitado a base e foi convidado para o evento pelo capitão PM Fabiano Leon de Oliveira Thomassian, responsável pelo BRPA. “Encontramos com o comandante-geral da PM no Estado, Ricardo Gambaroni. Ele se sensibilizou com história e, após ler a carta, autorizou o voo. João ganhou na loteria porque, em todo Estado, ele é o terceiro civil que voa [como convidado] no Águia”.

Tudo já estava acertado para o grande dia, mas com um detalhe: João Pedro não sabia de nada. O menino havia sido presentado com macacão de voo, adaptado ao seu tamanho, que pertencia ao capitão Fabiano. “Disse que iríamos até a base só para mostrar como ficou a farda aos policiais”, contou a mãe. Ao chegar no hangar, o menino foi recebido por Fabiano, que perguntou: “O que um piloto faz”? “Voa”, respondeu João. “Então vamos voar”, rebateu o capitão. A emoção e alegria não cabiam no rosto da criança.

Piloto por um dia 2

Operação especial

“A gente está acostumado a lidar com situações das mais diversas, mas um caso desse é inexplicável. Hoje, sem dúvida, o Águia fará uma operação mais que especial”. Foi desta forma que o capitão Fabiano, muito emocionado, anunciou o voo, que durou 15 minutos. “O João Pedro será o terceiro piloto. Vou levá-lo para onde ele quiser”.

E assim foi. Devidamente fardado, com fones de ouvido e a targeta destacando seu nome no macacão, João Pedro subiu ao helicóptero. Além de Fabiano no comando, fizeram parte da “missão” o copiloto tenente PM Juliano Galhardo, capitão e médico do CPI-4 Fabiano Milan de Freitas e o sargento Reinaldo Mendonça.

Contudo, quem comandou o passeio foi o pequeno João Pedro. Fabiano contou que ele pediu para sobrevoar o Parque Vitória Régia e a Escola Municipal de Ensino Fundamental Maria Chaparro Costa, no Santa Edwirges, onde ele cursa a 5ª série. “Ele ficou o tempo todo sorrindo e bem à vontade. Um menino muito corajoso”, disse o comandante.

“Levava meu filho em São Paulo para tratamento e, sempre que ele via um helicóptero, dizia que queria voar. Pensei que isso nunca aconteceria, mas agora vi que tudo é possível. É só acreditar nos sonhos”, disse Marines, contendo o choro.

Já em solo e visivelmente emocionado, João Pedro foi recebido pela mãe e os dois se abraçaram para comemorar a façanha. “Deu um frio na barriga, mas olhei para baixo o tempo todo para não perder nada”, disse João, com sorriso largo.

Ao ser questionado sobre o que pretende fazer quando crescer, o menino que ousou sonhar alto não pensou duas vezes e, sem pestanejar, disparou: “Piloto de helicóptero, claro!”.

http://www.youtube.com/watch?v=hGUOWA3doo0

Doença rara

Não é de hoje que a cuidadora Marines da Costa trava uma luta contra o problema de pele do filho João Pedro. “É uma doença muito rara. Nós a descobrimos logo que ele nasceu”, contou.

Epidermólise bolhosa é o nome que se dá a um grupo de doenças não contagiosas de pele, de caráter genético e hereditário. A principal característica é o aparecimento de bolhas, em áreas de maior atrito e nas mucosas. Lesões profundas podem produzir cicatrizes semelhantes a queimaduras.

Desde março, João Pedro recebe tratamento à base de uma pomada comercializada somente nos Estados Unidos, segundo Marines. “Feridas que ele tinha há quatro, cinco anos, em uma semana cicatrizaram”, disse. Dez potes do medicamento, de acordo com ela, custam 35 dólares e duram 25 dias. “Estamos conseguindo por meio de doações”, disse.

Quem puder ajudar no tratamento de João Pedro com qualquer quantia pode fazer um depósito na Caixa Econômica Federal. Agência: 1996/Conta Corrente no nome de Marines da Costa: 01300024803-8.

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Fonte: JC Net