A importância do pré-voo nas Operações Aéreas
17 de junho de 2018 3min de leitura
Safety News Nº 27 – LÍDER Aviação
Brazilian Helicopter Safety Team (BHEST)
O checklist é uma prática muito comum entre os tripulantes, sejam eles profissionais de asas fixas ou rotativas. Trata-se de uma verificação – antes, durante e após o voo – de itens considerados críticos, como estado dos equipamentos a bordo, informações sobre inspeção de aeronave, entre outros, para evitar acidentes aeronáuticos e danos em equipamentos.
Esse processo, considerado minucioso, envolve a observação de cada um dos itens listados no checklist e a recomendação é que cada ação descrita seja lida por um profissional e repetida e executada por outro, de modo a manter uma comunicação bilateral, de forma clara e compreensiva.
Surgimento do checklist
Em outubro de 1935, um acidente fatal com uma aeronave militar Boeing modelo 229 (também conhecida como Boeing B-17), com quatro motores e considerada a mais sofisticada da categoria, mudou para sempre o futuro da aviação. Durante a decolagem, a aeronave sobrevoou alguns metros da pista e caiu, chocando seu nariz contra o solo e causando a morte dos dois tripulantes.
No início da investigação do acidente, o Boeing B-17 foi encontrado sem indícios de falhas estruturais ou mecânicas. Constatou-se que os tripulantes esqueceram de retirar as travas dos comandos – gust lock -, utilizadas para travarem as superfícies de comando da aeronave em solo, evitando a danificação por ação do vento.
Na época, a complexidade da aeronave fez com que os tripulantes esquecessem de verificar este item, direcionando sua atenção para outras atividades.
Com isso, a Boeing adotou uma medida a fim de evitar demais acidentes: a criação do checklist, que foi incorporado como item mandatório para todas as aeronaves da frota da empresa.
Surgimento da complacência
Complacência – na aviação – é o ato de relaxar e de diminuir a qualidade do padrão na execução de uma tarefa ou na tomada de decisão. É bastante comum entre profissionais que se se julgam experientes e profundamente familiarizados com o seu tipo de atividade, e contribui para a diminuição dos níveis de alerta e do cuidado com os detalhes.
Todo ser humano está sujeito à complacência. E com o passar do tempo e a repetitividade de atividades, itens importantes que necessitam de foco se tornam baixa prioridade. Mais um exemplo desta situação é o acidente com uma aeronave Gulfstream em maio de 2014.
Durante a corrida para a decolagem, o avião não conseguiu alçar voo e nem parar no fim da pista, chocando-se contra pequenos obstáculos e irregularidades no solo a 125kt.
A aeronave ficou totalmente destruída e ocasionou no falecimento de dois comandantes,
uma comissária e quatro passageiros que estavam a bordo. Na investigação, o órgão NTSB verificou que o acidente foi ocasionado pelo mesmo motivo da aeronave Boeing, de quase oitenta anos antes: o esquecimento dos gust locks.
Constatou-se, mais uma vez, que aquela tripulação não completou totalmente o checklist dos comandos de voo em 98% de todas as decolagens que executou.
Condições latentes da complacência
A realização do checklist se torna ainda mais importante para as ações de manutenção. Por meio da execução do pré-voo, é possível constatar, em solo, possíveis falhas do sistema em voo. Já durante o pós-voo é possível analisar se é preciso uma manutenção preventiva.
Ou seja, nenhum mecânico quer pensar que a aeronave inspecionada momentos antes do voo apresentou problemas quando em rota. Assim como nenhum tripulante deseja passar por situação de emergência quando em missão. Por isso, a execução do checklist em todas as etapas previstas deve ser planejada de modo com que os profissionais possam realizar a atividade com calma, no tempo estipulado.
A rotina nos leva a negligenciar (complacência) o tempo que precisamos e que deve ser considerado como ideal para executar as atividades e a prevenir que uma surpresa não esperada ocorra no momento mais crítico: em voo, sobre o mar, sem local para pouso.
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