Helicóptero Aeromédicos de Emergência em Buenos Aires: Uma Visão Operacional
29 de janeiro de 2019 13min de leitura
29 de janeiro de 2019 13min de leitura
Fernando Landreau, MD
Escuadrón Aéreo del Emergency Medical Care System, Buenos Aires
Oscar Valcarcel, MD; Juan Noir, MD; Guadalupe Pernía, MD
María L. Orzábal, MD; Sergio Martínez, MD; Alejandro Tobar, MD
Mariana Isola, MD; Mariano Núñez, MD; Pablo Martínez, MD
Cristian Cuellar, MD; Federico Villagrán, MD; Alberto Crescenti, MD
RESUMO
Como parte do sistema de atendimento médico de emergência, os serviços aeromédicos com helicóptero (HEMS) têm uma composição de tripulação diferente de uma equipe tradicional. A tripulação HEMS consiste de piloto, médico e bombeiro com habilidades de resgate e treinamento em suporte básico de vida a bordo de aeronave. Isso permite a adaptação a diferentes ambientes e aumenta as variedades de procedimentos normalmente executados em voo. A operação HEMS começou relativamente recente em Buenos Aires. No entanto, em 3 anos, seu uso cresceu tanto que triplicou em 2015 , e em 2016 o número de assistências médicas foi 4 vezes maior do que em 2014. Além disso, ao longo do período de estudo de 3 anos, 92% a 95% de vítimas assistidas foram vítimas de acidentes de trânsito que requerem cuidados primários. A tripulação do HEMS é informada sobre a disponibilidade de recursos nos hospitais gerais de cuidados agudos e pode, portanto, transferir os pacientes para o centro de trauma mais apropriado no menor tempo possível. No entanto, de 75% a 85% das vezes, a escolha do destino é fortemente influenciada pela disponibilidade de um heliponto e pela segurança operacional que ele proporciona.
Aproximadamente 1,2 milhão de pessoas no mundo morrem todos os anos de lesões relacionadas ao trânsito, e o número de feridos chega a 50 milhões [1]. Mais da metade das mortes por colisão no trânsito são pessoas de 15 a 44 anos [1,2]. Dados epidemiológicos sugerem uma razão de 1 morte por 15 lesões que requerem hospitalização e quatro vezes mais com lesões menores [1,3]. Os esforços para reduzir as taxas de mortalidade e melhorar os resultados concentram-se na redução do tempo para assistência médica e transporte para um hospital [4-7]. Além disso, o tratamento imediato de ferimentos depois da colisão é crucial para as chances de sobrevivência e qualidade de vida da vítima [4,6,7].
A Cidade Autônoma de Buenos Aires (CABA) está localizada na região centro-leste da Argentina, na costa oeste do Rio da Plata. O último censo oficial (2010) estimou sua população em 2.890.151 habitantes, ou 14.391.538 habitantes, considerando sua região metropolitana, tornando umas das 20 maiores cidades do mundo [8].
O sistema de saúde pública da CABA atende 21,9% da população, principalmente por meio de 34 hospitais públicos. Treze desses hospitais oferecem atendimento de emergência e traumatologia para toda a população da cidade, atendendo à definição de hospitais gerais de cuidados agudos (HGAs) [9].
O sistema de atendimento médico de emergência (SAME) é estruturado em torno dos HGAs, que servem como base das operações para ambulâncias terrestres, cujo número depende do tamanho de cada área de captação do HGA. As ambulâncias terrestres devem ser capazes de responder a uma emergência “código vermelho” (com risco de vida) em 8 minutos e são despachadas através de uma central de comunicação. As equipes das ambulância são lideradas por um médico responsável pela atenção e estabilização inicial no local, bem como pelos cuidados no transporte da vítima.
Cinco HGAs são designados como centros de trauma e trabalham 24 horas por dia com um neurocirurgião plantonista; no entanto, apenas um centro de trauma possui heliponto, tornando-o o destino preferido para todas as transferências HEMS. Quando necessário o acesso aos outros quatro centros de trauma é realizado o pouso da aeronave em uma via pública está disponível nos outros [10].
Embora as distâncias urbanas dentro de cada área de influência do HGA sejam curtas, essas áreas tendem a ser particularmente propensas ao congestionamento de veículos (especialmente durante o dia). A redução nos tempos de transporte pelo HEMS tem benefícios bem estabelecidos e amplamente documentados [5,11,12]. As aeronaves HEMS são projetadas para garantir a presença de uma equipe de resgate altamente especializada, início de tratamento no local e minimização de atrasos no transporte das vítimas para os centros de trauma.
Além disso, as equipes da HEMS recebem atualizações frequentes durante o turno de serviço sobre a disponibilidade de recursos em todos os centros de trauma para otimizar o tempo de resposta, particularmente no caso de um acidente com várias vítimas. Aqui, descrevemos os dados de atuação do serviço aeromédico HEMS na cidade de Buenos Aires (CABA) incorporados em uma rede de centros públicos de trauma e com uma configuração única de tripulação.
Materiais e Métodos
O serviço aeromédico do sistema de atendimento médico de emergência (SAME HEMS) começou na cidade de Buenos Aires (CABA) em dezembro de 2010 com a contratação de um operador privado (Flight Express SA, Grupo de Modena, Buenos Aires, Argentina) fornecendo aeronaves (helicópteros Bolkow-105), pilotos e técnicos operacionais, enquanto o SAME fornece pessoal médico. As condições do contrato preveem a disponibilidade de 2 aeronaves, sendo uma em operação durante o dia e a segunda ficando como reserva. As condições meteorológicas podem limitar a capacidade operacional das aeronaves e o piloto tem autoridade para tomar decisões sobre as condições de voo. A aeronave Bo-105 é um helicóptero bimotor leve multimissão, tornando-o particularmente adequado para operar em áreas urbanas e pousos em áreas restritas.
Ao contrário das configurações usuais de tripulação em outros países [13,14], a configuração utilizada pelo SAME é de 3 membros, incluindo um piloto de helicóptero e um médico com certificação do conselho de medicina de emergência e qualificações adicionais em evacuação aérea pelo Instituto Nacional de Medicina Aeroespacial. O terceiro membro da tripulação é um bombeiro com certificação de suporte pré-hospitalar e trauma e treinamento básico de piloto; se o piloto for incapacitado por qualquer razão, ele ou ela devem ter capacidade pode fazer um pouso de emergência [15,16].
O bombeiro (designado como técnico operacional) é um técnico de multimissão que geralmente trabalha como membro da equipe médica, mas em situações de emergência pode assumir um papel como membro da tripulação aérea.
Pesquisamos os diários de operações do SAME HEMS no recorte temporal de 1º de janeiro de 2014 a 31 de dezembro de 2016, e resumimos a distribuição por tipo de evento, códigos de diagnóstico, demografia básica da vítima e seleção do centro de trauma de recepção.
Resultados
O Regulamento de Aviação Civil da Argentina 91, seção L (Regras para Operações Aeromédicas) classifica as atividades de transporte aeromédico em três tipos, a saber: evacuação aeromédica (ES), transporte aeromédico (STAS) e transporte de órgãos. A operação ES refere-se à transferência de uma vítima ou paciente do local do incidente para um hospital (transferência primária), enquanto a STAS refere-se a transferências entre dois hospitais (transferência secundária). O número de eventos de ES aumentou ao longo dos 3 anos do estudo, de 62 em 2014 para 187 em 2015 e 244 em 2016.
Até recentemente, o HEMS na Argentina estava limitado às operações de transporte aeromédcio (STAS) destinadas a melhorar o acesso das áreas rurais ou montanhosas. A introdução da evacuação aeromédica (ES) na área de Buenos Aires (CABA) resultou de uma expansão do sistema existência de primeira resposta a incidentes. As chamadas de emergência para o centro de operações SAME (telefone 107) são tratadas por operadores que despacham os helicópteros baseados em protocolos pré-estabelecidos. Um coordenador médico na base aérea em comunicação com a tripulação do helicóptero designa o hospital receptor e coordena a recepção da vítima. Os critérios de despacho do SAME HEMS incluem acidentes em rodovias urbanas com congestionamentos que impossibilitam o acesso de ambulâncias terrestres à cena, eventos com várias vítimas, incidentes com vítimas presa em ferragens ou transporte de órgãos para transplante.
Com base no tipo de incidente, as transferências são classificadas como vítimas de traumatismo por acidente com veículos, traumatismo não relacionado a acidente de trânsito e todos os outros (Tabela 1). As vítimas de trauma relacionado ao trânsito representavam mais de 90% do total anual de atendimento aeromédico no período do estudo. Não havia registro dos tipos de veículos envolvidos no acidente de trânsito em 48% dos atendimentos de 2016, enquanto que para 2014 e 2015, 35,5% e 40,6%, respectivamente, eram motociclistas e 40,3% e 23,0%, respectivamente, eram vítimas de acidentes de carro sem distinção entre os condutores e passageiros.
O maior número de vítimas atendidas recebeu diagnóstico de “politraumatismo”, enquanto o segundo código de diagnóstico mais frequente foi “traumatismo leve” (Tabela 2); Estes 2 diagnósticos combinados foram responsáveis por mais de 90% das
vítimas atendidas pelo HEMS nos 3 anos em estudo. A Tabela 3 fornece a distribuição das vítimas por idade e sexo.
A esmagadora maioria das vítimas transferidas pelo aeromédico HEMS foram levadas para o centro de trauma do Hospital HGA Santojanni, o único centro com um heliponto no local. A maioria das exceções eram vítimas de queimaduras ou integrantes da força policial que geralmente eram transportados para centros especializados (Tabela 4).
Discussão
A maioria do serviço aeromédico do sistema de atendimento médico de emergência (SAME HEMS) opera em rodovias urbanas e envolve vítimas de traumas relacionados ao trânsito. Quando engajada, a equipe do aeromédico HEMS é frequentemente a primeira equipe na cena do incidente. Nestes casos, o técnico operacional (bombeiro) é responsável pela segurança da cena e, em conjunto com o médico, pela extração e imobilização da vítima em maca especial com proteção para coluna e cervical e imobilizadores laterais, que é posteriormente travada no piso da aeronave. O médico fica embarcado atrás no compartimento de passageiros, mas devido à falta de liberdade de movimento devido à posição e ao espaço reduzido da cabine, procedimentos avançados de suporte à vida, como intubação endotraqueal, compressões torácicas ou drenagem torácica, devem ser realizados antes do embarque. Da mesma forma, a desfibrilação cardíaca não pode ser realizada em voo. Como o tempos de voo dentro da região de Buenos Aires varia de 5 a 15 minutos, o médico da tripulação deve avaliar a condição do paciente antes da decolagem. No entanto, como mostrado na Tabela 2, uma grande proporção de vítimas transportadas por via aérea sofreu apenas lesões traumáticas leves. Isso ocorre porque, durante os horários de pico, o congestionamento do trânsito impossibilita que as ambulâncias terrestres cheguem a cena do acidente dentro do prazo estipulado de oito minutos [17]. Nesses casos, a urgência é determinada pela avaliação da gravidade dos ferimentos da vítima [16,18]. A distribuição por idade e sexo das vítimas transferidas pelo HEMS na CABA durante o período do estudo (Tabela 3) corresponde aos dados publicados para fatalidades de vítimas de trauma relacionadas ao trânsito [1,2].
A escolha do hospital de referência é fortemente baseada na disponibilidade de heliponto em um único centro de trauma em Buenos Aires (CABA). Isso pode ser explicado pela segurança operacional da tripulação e dos pacientes. Aterrissar nas ruas da cidade requer coordenação com uma ambulância terrestre do hospital e policiais de trânsito em terra para garantir a segurança do pouso [16]. As razões identificadas nos dados pesquisados para se desviarem dessa preferência incluíram a falta de leitos de trauma no Hospital HGA Santojanni e a presença de queimaduras (requerendo atendimento especializado) ou vítimas policiais (transferidas diretamente para o hospital da polícia). Nossos dados cobrem as operações diurnas atendidas pelo atendimento aeromédico HEMS dentro da área metropolitana de Buenos Aires (CABA).
Resumo
Em resumo, este artigo descreve o desempenho do serviço aeromédico HEMS operando exclusivamente dentro de um ambiente urbano congestionado, as características básicas das vítimas transportadas por helicóptero e a escolha do destino da vítima pela equipe médica. Infelizmente, não tivemos acesso aos dados de resultados clínicos das vítimas transportadas, o que teria fornecido informações úteis.
Agradecimentos
Os autores agradecem a Dana Martinez e Belen Ladaga pela ajuda na edição do texto e ao Dr. Gabriel A. de Erausquin por seus conselhos, discussões úteis e revisão do manuscrito.
Referências Bibliográficas
1. World Health Organization and World Bank. Relatório Mundial sobre Prevenção dos Traumatismos Causados pelo Transito: Resumen. Genebra, Suíça: Organizacion Mundial de la Salud; 2004.
2. de Vigilancia B. Enfermedades não transmisibles y factors de riesgo. Boletín Epidemiologico. 2011. 6-1727-31.
3. Dranger E, Remington Perdidos de vida perdida (APVP): uma medida que resume a mortalidade prematura para avaliar a saúde das comunidades. Instituto de Política de Saúde Pública de Wisconsin. 2004; 5: 7.
4. Comitê do Colégio Americano de Cirurgiões sobre Trauma. Suporte Avançado de Vida em Trauma, ATLS. 9ª ed., 2016 Jornal de Trauma e Cirurgia de Tratamento Agudo. 74 (5): 13636, maio de 2013. https://doi.org/10.1097/TA.0b013e31828b82f5.
5. Abbasi H, Bolandparvaz S, M Yadollahi, Anvar M, Farahgol Z. Distribuição do tempo de mortalidade hospitalar relacionada a lesão em um centro de referência de trauma no sul do Irã (2010-2015). Medicina (Baltimore). 2017; 96: e6871.
6. Alarhayem AQ, Myers JG, Dent D, et al. O tempo é o inimigo: a mortalidade em pacientes traumatizados com hemorragia por lesão no tronco ocorre muito antes da “hora de ouro”. Sou J Surg. 2016; 212: 1101–1105.
7. Neira J, Tisminetsky G. Atención Inicial de Pacientes Traumatizados. Buenos Aires,
Argentina: Fundação Pedro Luis Rivero; 2010.
8. Edwin AM. Instituto Nacional de Estadística y Censos. Censo Nacional de Población, Hogares y Viviendas 2010. Serie B. Buenos Aires, Argentina: Instituto Nacional de Estadística y Censos; 2012.
9. Estadisticas y Censos, Buenos Aires Ciudad. Distribuição percentual da população em relação à
cobertura medica segun comuna. Ciudad de Buenos Aires. Anos 2006/2016, 2016.
10. http://www.buenosaires.gob.ar/noticias/sistema-de-atencion-medica-de-emergencia. Acessado site oficial do governo da Cidade Autônoma de Buenos Aires.
11. Brown JB, Gestring ML, Guyette FX, et al. O transporte de helicóptero melhora a sobrevivência
após a lesão na ausência de uma vantagem de economia de tempo. Cirurgia. 2016; 159: 947-959.
12. Dharap SB, Kamath S, Kumar V. O tempo pré-hospitalar afeta a sobrevida de pacientes com trauma importante, onde não há cuidados pré-hospitalares? J Postgrad Med. 2017; 63: 169–175.
13. Cardoso RG, Francischini CF, Ribera JM, Vanzetto R, Fraga GP. Resgate médico emergencial de helicóptero para os traumatizados: experiência na região metropolitana de Campinas, Brasil. Rev Col Bras Cir. 2014; 41: 236–244.
14. Abe T, Takahashi O, Saito D, Tokuda Y, Daly MJ, et al. Associação entre helicóptero com médico versus serviços médicos de emergência terrestre e sobrevivência de adultos com grande trauma no Japão. 2010. Cuidados Críticos. 2014 9 de Jul; 18 (4): R146. https://doi.org/10.1186/cc13981.
15. Wilson S, Gangathimmaiah V. O manejo pré-hospitalar dos médicos afeta o desfecho em grandes traumas? Uma revisão sistemática. J Trauma Acute Care Surg. 2017; 83: 965–974.
16. Zalstein S, Cameron PA. Serviços médicos emergenciais de helicóptero: seu papel no atendimento integrado ao trauma. Aust NZJ Surg. 1997; 67: 593-598.
17. Weerheijm DV, Wieringa MH, Biert J, Hoogerwerf N. Optimizar o tempo de transporte de um acidente para o hospital: quando conduzir e quando voar? ISRN Emerg Med. 2012; 2012: 1–5.
18. Wilson A, Cross F. Helicopters. JR Soc Med. 1992, 85: 1.
Enviar comentário