SÃO LUÍS  – Policiais do Grupo Tático Aéreo no Maranhão descobriram 70 mil pés de maconha e 32 mil mudas dentro da reserva indígena do Alto Turiaçu, no município de Centro do Guilherme, às margens do rio Gurupi, na fronteira do Maranhão com o Pará. A área, de 5.300 km quadrados, quase do tamanho de Brasília, deveria ter plantação de mandioca e batata. Mas, além da maconha, um sobrevoo indicou a existência de um gigantesco garimpo ilegal e exploração ilegal de madeira

– A região é usada pelos traficantes por ser de mata fechada, de dificil acesso, e ser uma área indígena, o que dificulta o acesso da polícia – diz Aluísio Mendes, secretário-adjunto estadual de Inteligência e Assuntos Estratégicos da Secretaria de Segurança Pública do Maranhão.

Centro do Guilherme fica a 452 km de São Luís. A droga estava sendo plantada em uma área de 10 quilômetros quadrados. Só com uso de helicóptero é possível chegar à região. A identificação dos plantios de maconha aconteceu durante a Operação Bloqueio, que os policiais estão desenvolvendo ao longo da BR-316, trecho que vai do município de Bacabal até Boa Vista do Gurupi, na divisa com o Pará.

– Esperamos coibir os assaltos a ônibus, a cargas e outras ações criminosas que acontecem nessa região – explicou Aluísio Mendes.

Ao todo foram cinco dias de trabalho dentro da mata fechada. Com o apoio de dois helicópteros e 20 homens do GTA os pés de maconha foram arrancados e queimados. Os traficantes escolheram áreas de difícil acesso – é impossível chegar ao local de carro – e plantaram diversas roças, cerca de 13 com média de 5 mil a 7 mil pés de maconha em cada uma, ocupando uma parte de grande área da reserva indígena.

Em algumas plantações os policiais foram obrigados a descer de rapel; outras estavam interligadas por trilhas, o que possibilitou acesso por terra. Os locais escolhidos para o plantio possuem água em abundância, o que facilita a irrigação, uma condição indispensável para o desenvolvimento da maconha nessa situação.

– Essa é uma área historicamente conhecida pela produção de maconha que foi bastante combatida no período de 2001 a 2004. Desde então, ficou esquecida e os traficantes voltaram a agir, especialmente nos municípios de Centro do Guilherme, Centro Novo, São João do Caru e Maracaçumé – informou o secretário Aluísio Mendes.

O secretário disse que o plantio encontrado é classificado como ‘safrinha fora da época’, que abastece o mercado enquanto a grande safra não chega.

– O período mesmo da safra acontece entre janeiro a junho, durante as chuvas. Os plantios da entressafra dependem de irrigação manual, o que é fácil nessa região – afirmou.

Ele disse que atualmente o Maranhão é apontado como um dos principais produtores da droga no Nordeste, que tem como destino os estados do Pará, Goiás, Tocantins e o Distrito Federal. O transporte é efetuado pela rodovia Belém-Brasília.

Os traficantes do polígono da maconha de Pernambuco migraram para a Terra Indígena Alto Turiaçu,  que possui 5.300 km² de área, além de outras duas reservas indígenas, a Awá e a Caru. Essas terras formam um conjunto contíguo, completado pela Reserva Biológica do Gurupi, que se situa no oeste do Maranhão e está sob constante pressão da exploração madeireira ilegal, atividade que continua sendo desenvolvida abertamente.

O Maranhão está ainda sendo algo de madeireiras e serrarias que atuavam no Pará. Com o fechamento do cerco em Paragominas, no Pará, onde o governo passou a atuar com rigor contra o desmatamento da Floresta Amazônica, madeireiras e serrarias se mudaram para cidades maranhenses. Quatro municípios estão no alvo da polícia: Amarante, Buriticupu, Centro do Guilherme e Zé Doca.

Para explorar ilegalmente as poucas áreas remanescentes de floresta amazônica no Maranhão, infratores ambientais têm usado serrarias portáteis, mais fáceis de montar e desmontar, e que permitem se embrenhar na mata e produzir madeira serrada no próprio local. Porém, algumas tradicionais madeireiras continuam com as portas abertas, como é possível verificar na cidade de Centro do Guilherme.

As cidades onde atuam as madeireiras ficam a cerca de 30 km das aldeias indígenas. É das terras indígenas que a madeira é cortada ilegalmente. De 36 madeireiras que atuam nos quatro municípios, 34 utilizam madeira extraída irregularmente das reservas.

-O madeireiro desafia o poder público. O que temos observado é uma dificuldade muito grande de fiscalização e ela não é feita de forma contínua – diz o procurador Alexandre Soares, do Ministério Público Federal.

Segundo o delegado da Polícia Federal Luiz André Almeida, está sendo investigada a extração ilegal de madeira da Amazônia para abastecer a indústria moveleira na América do Norte, Europa e nos países asiáticos. O delegado afirma que importadoras estão sendo investigadas pela PF.

Não há ainda informações se os índios estão envolvidos com os traficantes e madeireiros. As reservas indígenas no Maranhão somam cerca de 16 mil quilômetros quadrados e são o que resta da Floresta Amazônica no estado.

Os policiais vão investigar também a exploração de um garimpo dentro da reserva, detectada durante o sobrevoo aos plantios de maconha.

– Uma grande área está aberta, com infraestrutura e muitos homens trabalhando no local. Vamos comunicar os problemas detectados à Funai, órgão responsável pela área indígena e também à Polícia Federal – informou.

Ele acredita que o garimpo está voltado para exploração de ouro.

-Já existem outros exploradores nessa região, mas pelo que observamos, esse garimpo é algo recente, precisa ser investigado – disse Mendes.

O Grupo Tático Aéreo (GTA) vai ganhar mais um helicóptero para reforçar suas operações. A estimativa é de que a nova aeronave seja entregue até julho de 2010. O helicóptero – da marca Bell Huey II, de médio porte, capaz de transportar até 15 pessoas – vai possibilitar a cobertura policial nos municípios mais distantes, podendo também ser utilizada em ações conjuntas entre as forças estaduais e federais de segurança.

A compra é resultado de um convênio assinado pelo governo do Maranhão com o Ministério da Justiça, por meio do Programa Nacional de Segurança com Cidadania (Pronasci). Atualmente, o GTA opera com dois helicópteros Esquilo 2 e dois aviões.

A equipe é formada por 12 pilotos de helicóptero e de avião e três mecânicos aeronáuticos, além de 20 integrantes. No total, são 40 policiais capacitados em operações especiais.


Fonte : O Globo