MARCUS V. BARACHO DE SOUSA

Lembro-me de uma história que meu avô contava, sobre a época em que trabalhava numa fábrica de papel. Era sobre um evento interessante da rotina dos funcionários, que durante o almoço no refeitório da empresa, notaram a falta de guardanapo de papel e ao final da refeição, não tendo como limpar os lábios, tiveram a ideia de utilizar os rolos de papel higiênico para tal finalidade. Imagine que mais de 500 colaboradores usaram os rolos de papel higiênico, acabando com os estoques dos banheiros.

Passado o horário do almoço, ninguém mais pensou no problema e foram trabalhar. Depois de algum tempo chegou o momento de usarem os banheiros e perceberam que lá não havia mais papel higiênico, causando uma crise generalizada para quem foi e quem pretendia ir ao banheiro. Isso afetou a produção da fábrica naquele horário, que passou a produzir menos e registrou inconformidades em parte do que foi produzido.

Em meio a tanta confusão, encontraram os guardanapos de papel e “alguém” teve a ideia de utiliza-los para substituir os rolos de papel higiênico. Assim foi feito e os funcionários passaram a realizar sua higiene com os guardanapos, que por razões óbvias não eram eficientes, necessitando da aplicação de maior quantidade do produto, por usuário.

Naquele dia não se falava de outra coisa, pois, limparam os lábios com papel higiênico e a….. “vocês sabem o quê” ….com guardanapo, sendo que nem uma coisa e nem outra, ficou bem feita.

Observamos que esse simples fato afetou a vida das pessoas, na empresa, que tiveram sua capacidade produtiva comprometida, além de gerar maior custo pelo uso inadequado dos objetos em questão.

Pensando nas OASP é comum verificarmos maior preocupação com o voo e o que se relaciona direto com ele, tipo manutenção, formação técnica, combustível e outros. Os processos relacionados às práticas de apoio à produção principal acabam não recebendo a devida atenção, e quando percebemos, são eles que vão comprometer a qualidade do produto ou serviço oferecido ao cliente/usuário, no caso a Missão Aérea de Segurança Pública, ou no mínimo elevar o seu custo.

Sugiro que todas as OASP façam essa reflexão e promovam a conscientização de seus colaboradores no sentido de valorizarem os recursos que dispõem. O uso responsável e eficiente de energia elétrica, água, telefonia, materiais de escritório, informática, somados às ações focadas na responsabilidade socioambiental, irá agregar excelência ao serviço público.

Por exemplo, se em determinado momento as aeronaves das OASP salvam vidas todos os dias, contraditório é, se o dreno de combustível ou demais fluídos (óleo, lubrificantes) delas, não recebem o devido tratamento e destinação, podendo causar riscos à saúde da comunidade.

Orientem seus agentes que no uso dos recursos público, seja qual for, eles são os gestores e devem dar o exemplo. A utilização ponderada de desses itens potencializa a operacionalidade, preserva equipamentos, aumenta a segurança, promove o fluxo rápido de informações e estimula um ambiente interno saudável, além de destacar e sedimentar uma imagem positiva da Organização.

Desenvolvam também a valorização das pessoas que trabalham nos setores de apoio das OASP (finanças, RH, TI…), sem o empenho delas a logística não funciona ou é mal gerida comprometendo a qualidade da Operação Aérea de Segurança Pública. Nem todos usam macacão de voo em uma OASP, mas aqueles que não voam e fazem voar são importantes e devem receber muita atenção das lideranças.

Não há aviação sem o suporte terrestre, sem as pessoas e elementos necessários para mantê-la, ou seja, os processos de apoio, quem não considerar essa proposta poderá ter uma gestão de papel, fina e fácil de rasgar.

Bons voos com boa gestão!

O Autor: MARCUS V. BARACHO DE SOUSA é Capitão da PMESP, atualmente é Chefe da Escola de Aviação do GRPAe/SP. Formado pela APMBB em 1996 e bacharel em Direito, participou entre 1999 e 2000 da comissão de criação dos procedimentos operacionais padrão da PMESP. O autor possui Curso de Comandante de Operações e Piloto Policial, 2001; Curso de Gestão pela Qualidade, 2002; Curso Modelo de Gestão da Fundação Nacional da Qualidade, 2010; trabalhou na Seção de Doutrina do GRPAe desde 2002, coordenando treinamento, criação, atualização de POP e PAP; Foi relator dos Relatórios de Gestão do GRPAe para os prêmios Polícia Militar da Qualidade, ciclos 2003, 2005 a 2009, onde o GRPAe conquistou os certificados bronze e prata.