FAB e Polícia Federal empregam VANTs em ação conjunta
26 de maio de 2013 6min de leitura
A Força Aérea Brasileira (FAB) e a Polícia Federal (PF) utilizam pela primeira vez em ação conjunta aeronaves remotamente controladas, conhecidas como VANTs (veículos aéreos não tripulados). Durante a sétima edição da Operação Ágata, a FAB opera duas aeronaves e a PF mais duas, a partir de São Miguel do Iguaçu, no extremo oeste do Paraná.
“O trabalho integrado amplia nosso raio de ação e permite um monitoramento ininterrupto, de dia e noite, em pontos de interesse”, explica o Comandante do Esquadrão Hórus, Tenente-Coronel Aviador Donald Gramkow. Além das ações de inteligência, os VANT`s também apóiam tropas do Exército que se deslocam na região sul. “Se suspeitos usam um caminho alternativo para fugir de uma barreira de fiscalização, por exemplo, nossas câmeras registram e temos condições de acionar o policiamento no solo”, afirma o Cel Gramkow.
Cada aeronave é pilotada de um centro de controle no solo que funciona em contêineres. O pequeno shelter repleto de telas de computadores em rede é dividido por pilotos e operadores de sensores. Câmeras de alta definição podem mostrar em imagens coloridas detalhes de um alvo observado. No modo infravermelho, as imagens em preto e branco permitem identificar pessoas à noite ou escondidas sob a copa de árvores. Pela primeira vez, a FAB também emprega um imageador radar, que pode mapear uma região mesmo com o céu encoberto por nuvens. Todas as imagens captadas pelo VANT durante a Operação Ágata são transmitidas em tempo real ao Centro de Comando das Operações Aéreas, em Brasília.
O VANT da FAB, que pode ser empregado em qualquer ponto do país, tem peso máximo de decolagem de 450 kg, voa por até 16 horas seguidas e tem raio de alcance de até 250 km. Pode voar a uma altitude de até 5.500 metros.
A sétima edição da Operação Ágata reúne as Forças Armadas e mais de 20 órgãos governamentais ao longo de quase 17 mil km de fronteira com dez países sul-americanos.
Apreensão de drogas na fronteira com o Paraguai
Em uma ação inédita, os drones (veículos aéreos não tripulados – ou vants, na sigla em português) da Força Aérea Brasileira e da Polícia Federal começaram a voar juntos para reprimir crimes na fronteira do Paraná com o Paraguai. A operação na base da PF em São Miguel do Iguaçu, a 40 km de Foz de Iguaçu, de onde partiram dois drones da FAB e um da PF para vasculhar a fronteira.
Na terça-feira (22), quando os drones começaram a operar conjuntamente pela primeira vez, os militares e os policiais dividiram o espaço aéreo sobre o Lago de Itaipu, cercando completamente a área. A ação resultou na apreensão de cerca de 200 kg de maconha, segundo o chefe do Centro de Inteligência e Análise Estratégica da PF, Disney Rossetti.
A PF não diz se a droga estava em uma embarcação ou em um carro, pois não fornece informações sobre investigações em andamento.
A ideia é que o teste conjunto de drones da PF e da FAB possa ser expandido de forma ininterrupta nas fronteiras, em especial no Norte do país, afirma o delegado Rossetti. A ação integrada permite que “alvos”, como a polícia denomina quadrilhas sob investigação, possam ser monitorados diuturnamente. Isso porque se o drone da PF precisar voltar para a base para reabastecer, o da FAB pode “rendê-lo” e continuar seguindo os suspeitos.
“Estamos unindo forças e compartilhando conhecimento. A PF tem um know-how de agir como polícia e usamos os vants neste sentido, como arma de inteligência. O uso de vants ainda é novo para todos nós”, diz Rossetti.
O coronel Donald Gramkow, comandante do Esquadrão Hórus, a tropa da FAB que voa com os drones no Brasil, destaca a união das instituições. “Os vants têm finalidades diferentes e nós também possuímos conhecimentos e empregos diferentes. Somos militares de uma força armada, formados para a guerra. Eles são policiais, possuem uma formação de inteligência. Como estamos atuando há mais tempo, nossos pilotos, que são pilotos de caça e outros aviões também, já adquiriram uma técnica que pode ser compartilhada sobre como atuar com segurança.” Gramkow diz que os aviões não tripulados têm um fator surpresa. “Com o vant, a gente pode ver os suspeitos, acompanhar os criminosos, descobrir coisas sem que eles, em terra, nos vejam”, acrescenta.
Disputa
A PF e a FAB, que usam aviões de empresas concorrentes, negam que haja uma eventual disputa entre as corporações. “Não há briga nenhuma entre os vants da PF e da FAB. Isso nunca houve. A ideia do trabalho conjunto é para gerar padrões de atuação. Eles são militares, têm uma visão diferente. Nós temos uma visão policial. Eu tenho quatro pilotos formados para o vant, todos são pilotos comerciais também. Os três pilotos deles que estão aqui são pilotos de caça. Aqui é a oportunidade para nossos pilotos conversarem, trocarem experiências que podem gerar um padrão de atuação para o futuro, para os grandes eventos”, diz o coordenador do projeto vant da PF, Álvaro Marques.
Apesar de serem de empresas concorrentes, tanto os drones da PF como os da FAB são israelenses. A PF opera dois drones Heron, da Israel Aeroespace Industries (IAI), que pesam até 1.100 kg e possuem autonomia de até 36 horas. Mas como possui apenas uma central de controle em solo, que recebe as imagens captadas e retransmite para um centro de controle em Brasília, a PF não tem capacidade de colocar os dois aviões voando ao mesmo tempo.
Já a FAB opera quatro drones do modelo Hermes, da Elbit, com autonomia média de 16 horas e peso de 450 kg. Na operação, porém, apenas dois são empregados. Mecânicos e técnicos de ambas as empresas israelenses conversam e participam, nos bastidores, do teste, comparando o desempenho dos drones.
“A primeira coisa que queríamos descobrir era se, voando junto, um não interferia no outro. Os vants possuem radares e antenas para que possam transmitir as imagens, em tempo real, para nossa base de controle em solo. Com o vant da FAB e o nosso no ar, constatamos que não havia problemas, que a integração era perfeita”, diz Álvaro Marques.
“Outro teste que fizemos era para o caso de perda do link (chamado pela FAB de “enlace”), que permite que o piloto em terra veja e controle o vant. Se, por acaso, os três vants voando (os dois da FAB e um da PF) perdessem o contato com o solo ao mesmo tempo, o que podia acontecer? Como faríamos para eles voarem em segurança e pousarem sem cair ou se chocar no ar? Combinamos que cada um voltaria para a pista por um lado de uma cabeceira. E deu tudo certo”, acrescenta Marques.
Antes de ser agente da PF, Marques foi militar da Força Aérea e colega do coronel Gramkow na academia militar que forma os oficiais. “Fomos colegas e somos amigos. Aqui é de piloto para piloto, não tem competição”, afirma.
Fonte: Agência Força Aérea e G1 / Fotos: Agência Força Aérea
Enviar comentário