Embraer e Helibras: jogo de xadrez no mercado de helicópteros brasileiro
27 de janeiro de 2013 5min de leitura
27 de janeiro de 2013 5min de leitura
Apesar de ser o quarto anúncio recente de que um fabricante de helicóptero irá abrir uma linha de produção no Brasil, não há como negar que o anúncio da “joint venture” Embraer/AgustaWestland no mercado de helicópteros é um movimento de peso no tabuleiro. Veja a repercussão na notícia pela análise de mercado da Embraer (jornal Valor Econômico) e da Helibrás (jornal Brasil Econômico).
Embraer amplia atuação para reduzir risco
A criação de uma joint venture entre a Embraer e a companhia de helicópteros AgustaWestland, controlada pelo grupo italiano Finmceccanica, anunciada recentemente, é mais uma demonstração do plano estratégico de diversificação de atividades da fabricante brasileira.
O acordo entre a fabricante brasileira e a AgustaWestland, segundo informou a Embraer, pode levar à produção dos helicópteros da marca italiana no país, tanto para o mercado comercial quanto militar no Brasil e na América Latina.
Segundo uma fonte ouvida pelo Valor, um dos focos da nova empresa são os mercados militar e de segurança pública, hoje dominado pela Helibras, fabricante de helicópteros no Brasil e controlada pelo grupo francês Eurocopter.
Entre os negócios que chamam a atenção dos fabricantes de helicópteros atualmente é a concorrência da Marinha brasileira, que prevê a aquisição de 24 helicópteros multimissão para substituir a sua frota de Esquilo até 2015. Segundo o Valor apurou, a Marinha já enviou os pedidos de proposta para as empresas interessadas.
Há 35 anos no Brasil, a Helibras detém a liderança em todos os mercados onde atua, sendo 80% no segmento de segurança pública, 66% no militar e 48% no mercado civil. O presidente da empresa, Eduardo Marson, disse que não teme a concorrência, pois não é fácil chegar ao estágio em que se encontra a Helibras hoje, com mais de 700 helicópteros produzidos no Brasil, inclusive com alto valor agregado, como o modelo EC 725, que está sendo fornecido para as Forças Armadas.
“Competição é competição, mas esperamos que as regras sejam válidas para todos. O valor agregado dos nossos helicópteros é medido pelo BNDES “, afirmou Marson, referindo-se ao projeto de nacionalização do 725.
A decisão da Embraer de entrar no mercado de helicópteros, segundo o executivo, não afeta os planos da Helibras de continuar investindo no Brasil e muito menos de prosseguir com o projeto de um centro de engenharia que vai permitir ao país projetar um helicóptero nos próximos seis anos.
A Helibras investiu R$ 420 milhões na construção de uma nova fábrica em Itajubá (MG) para atender à produção de helicópteros para as Forças Armadas Brasileiras e também para a modernização da frota de helicópteros do Exército. O número de funcionários será multiplicado por quatro e em 2015 chegará a mil.
Questionada sobre a escolha da AgustaWestland para fazer uma parceria na área de helicópteros, a Embraer informou que “está sempre avaliando oportunidades na indústria aeronáutica que incluam também a transferência de tecnologia, e entende que há oportunidades no Brasil e na América Latina para os produtos AW”.
A empresa comentou ainda que considera a AgustaWestland uma parceira confiável, com uma série moderna e abrangente de produtos, tecnologia e soluções para atender às diversas exigências de toda a região.
Helibras já reage ao anúncio da Embraer de fabricar helicópteros
A possibilidade de a Embraer tornar-se fabricante de helicópteros brasileira pode ser uma pulga atrás da orelha, mas não afeta os planos da Helibras — até agora a única indústria da América Latina nesse mercado — de manter sua estratégia de conseguir projetar o primeiro helicóptero no Brasil e comemorar 35 anos de atuação no país com grande expectativa de crescimento de produção e de novas contratações.
“Nós já fabricamos 700 helicópteros e temos desenvolvido tecnologia para ampliar cada vez mais a participação do produto nacional em nossas aeronaves. Não se consegue isso de uma hora para outra”, comemora Eduardo Marson Ferreira, presidente da Helibras, em entrevista exclusiva ao BRASIL ECONÔMICO.
Caso seja consolidado, o acordo da Embraer com a Agusta traz para dentro do Brasil uma concorrência global, já que as quatro maiores fabricantes mundiais de helicópteros são justamente a franco-alemã Eurocopter (dona de 75% da Helibras), a italiana Agusta, a Sikorsky (EUA) e a Bell (EUA). “Acho que seria o caso de perguntarmos: qual outro país tem duas fabricantes de helicópteros em um mesmo local?”, questiona Marson, ponderando que um cenário assim deve trazer aumento de concorrência por mão-de-obra, fornecedores e tecnologia — e não apenas de produção e venda —, algo que, até então, só tem sido viável no mercado americano, o maior do mundo, especialmente na área militar.
Considerando a alta expectativa de crescimento da demanda brasileira, alguns especialistas acreditam que haja espaço para esse tipo de concorrência, caso ela realmente se concretize. Não é a primeira vez que a Agusta sugere investir em uma linha de fabricação brasileira, mas só agora passa a contar com uma parceria de peso como esta da Embraer.
No entender do presidente da Helibras, contudo, talvez seja preciso olhar com mais atenção o comunicado distribuído pela fabricante brasileira de aviões. “O texto fala especialmente em um acordo de marketing. Penso que essa seria a prioridade da parceria”, diz.
Com uma nova fábrica inaugurada em Itajubá (MG) em outubro — que envolveu o investimento de US$ 430 milhões —, a Helibras começa a cumprir um grande acordo para fornecer 50 aeronaves para as Forças Armadas Brasileiras. A previsão de Marson é de que, a partir do ano que vem, grande parte dessa encomenda seja entregue, num processo que deve terminar em 2017. Por enquanto, ele conta, já saíram da fábrica cinco helicópteros.
Foi justamente a criação da Estratégia Nacional de Defesa pelo governo brasileiro, em 2008, um dos principais fatores que impulsionaram a parceria entre a Helibras e a Eurocopter. Atualmente, 11% do valor agregado nos modelos entregues às Forças Armadas são nacionais, ou seja, composto por peças e componentes fabricados por indústrias brasileiras. Mas, até 2017, as aeronaves militares estarão sendo entregues com 50% de índice de nacionalização, segundo Marson.
A Helibras também produz um dos modelos de maior comercialização, o Esquilo, hoje com 48% de peças e componentes brasileiros. “Na versão policial do Esquilo já alcançamos mais de 50% de nacionalização”, diz. Todo esse crescimento já permitiu que a empresa ampliasse de 260 para 750 o número de seus funcionários. Até o ano que vem, eles devem somar 950.
Fonte: Valor Econômico (via clipping Exército) e Brasil Econômico
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