MARCUS VINICIUS BARACHO DE SOUSA

gestaoPercebemos que as OASP se desenvolveram em seus respectivos Estados, cada uma com sua história e característica. Considerando a semelhança que todas têm, quando falamos de Aviação de Segurança Pública, é possível que tenham vivido dificuldades parecidas em sua jornada de crescimento, problemas de gestão, recursos, amadurecimento de processos produtivos, formação de pessoas e muitos outros.

Não tenho a intenção de formatar algo do tipo “como montar uma OASP”, respeito muito o esforço de cada gestor e ao meu ver as OASP, pelo Brasil, têm desenvolvido um grande trabalho, considerando a atenção e apoio que recebem. O que desejo é apresentar uma sugestão, com base na experiência e observação.

O Gestor de uma OASP pode enfrentar alguns problemas na hora de oferecer seu serviço, não tenha dúvida que o produto final de sua atividade é a missão aérea de segurança pública, e tudo que for realizado na sua Organização deve estar relacionado a atingir esse objetivo.

Primeira dica: a estrutura de uma OASP seja composta de Gestão de Pessoas (cuida de tudo que se refira à força de trabalho, as pessoas que trabalham na OASP), Operações (faz a gestão dos processos produtivos da OASP) e Logística (tudo e todo o recurso, que for necessário para que a OASP funcione: finanças, informática, viaturas, aeronaves, manutenção, equipamentos, EPI…). Está formado o Estado Maior do Gestor de uma OASP, suficiente para o bom desempenho das atividades.

Segunda dica: declare a missão da OASP , tipo….”Realizar Missões Aéreas de Segurança Pública para preservação da vida e da ordem…”, apenas um exemplo, cada OASP deve identificar a razão de sua existência e trabalhar para que sua missão seja cumprida todos os dias, a cada decolagem e pouso.

Terceira dicamonte anualmente um Planejamento Estratégico, e deixe que todos os integrantes da OASP tenham ciência dele. Não se pode exigir da força de trabalho uma postura alinhada aos planos estabelecidos, se nada lhes foi explicado. Chamamos isso de gestão participativa, onde todos passam a entender para quê estão trabalhando, passando a agregar valor ao esforço de cada um, por mais simples que seja a função a desempenhar. Todos são importantes e não só os que aparecem nos noticiários.

Quarta dica: defina metas para cada um dos três setores (Gestão de Pessoas, Logística, Operações), relacionadas ao que foi planejado. Cada setor diluirá tais metas ao nível individual, para cada membro da força de trabalho, fazendo o acompanhamento bimestral ao longo do ano, para orientações e ajustes necessários ao sucesso dos planos.

Quinta dica: defina bem todos os processos produtivos da sua OASP, assim fica mais fácil tomar decisões quanto à capacitação técnica dos funcionários, aquisição de equipamentos, previsão de custos. Uma OASP pode atuar no policiamento, bombeiros, defesa civil, apoio a autoridades, operações especiais, aeromédico e outros, são vários os processos, sendo que a Organização pode ter sido criada para atuar em todos ou apenas em alguns deles. Definir sua área de atuação vai evitar não conformidades nos investimentos para o desenvolvimento organizacional..

Sexta dicaidentifique seus usuários (clientes), não se pode banalizar a aplicação das aeronaves de segurança pública, normalmente o apoio aéreo vem potencializar uma atividade que já existe e não substituí-la ou competir com ela. Como exemplo citamos a redução dos índices criminais de uma região, esse resultado pode ocorrer de forma mais eficiente se o emprego da aeronave for realizado em conjunto com as unidades de policiamento e não com cada um atuando separadamente. Procure seus usuários, converse com eles e identifique suas necessidades, para definir o melhor emprego e potencializar as atividades de segurança pública, quem ganha com isso é a sociedade.

Sétima dicadimensione sua força de trabalho, não tenha dúvida que o maior patrimônio de sua OASP são as pessoas, mas é comum dar mais valor às máquinas, principalmente na atividade aérea. Uma aeronave pode ser adquirida da noite para o dia, a formação de um ser humano, leva anos. Procure envolver as pessoas em mais de uma função, além da operacional, exemplo, o tripulante que também é abastecedor ou mecânico de voo, o fiscal de pátio que também trabalha com recursos humanos ou material e assim vai. Envolver os integrantes da OASP em mais de uma atividade, faz com que entendam como funcionam todos os setores e valoriza o funcionário que vê o resultado do trabalho que desempenhou na administração, refletir na atividade fim (no voo). Diz o ditado…”se você deseja 10 anos de prosperidade cultive árvores, se deseja 100 anos de prosperidade cultive gente.”

Oitava dica: defina um índice de padronização da frota da OASP, quanto mais padronizada for a sua frota, maior a sua capacidade de se manter disponível para atuar nas missões aéreas de segurança pública de sua região. Ter uma aeronave de cada modelo limita a atuação da Organização, dificultando a formação de pessoas, gestão de manutenção e definição dos processos produtivos que vão variar conforme o modelo do equipamento. Ao meu ver uma OASP deve ter pelo menos 70% da frota composta por aeronaves do mesmo modelo, deixando os 30% restantes para aquisição de aeronaves de outros modelos, mais específicos conforme as necessidades operacionais que se apresentem.

Nona dica: defina o valor da hora de voo da OASP, considere todas as despesas: combustível, seguro das aeronaves e dos hangares, manutenção das aeronaves e dos motores, salário da força de trabalho, despesas com material de escritório, informática, contratos de serviços, energia, água, telefonia. Como as OASP são públicas, existe uma tendência de não considerar o valor das horas de voo. Não importa quanto custe a hora de voo de uma OASP, se é caro ou barato (isso nunca será), o que interessa é como essa hora de voo é empregada em favor da sociedade. Sabendo o valor das coisas, o funcionário pensa mais e aplica melhor os recursos que lhe são confiados. Agregue qualidade ao voo, busque excelência da missão aérea de segurança pública.

Décima dica: defina indicadores para o controle da gestão da OASP, isso facilita a identificação de não conformidades nos diversos setores, antecipando problemas que vão comprometer a operacionalidade. A periodicidade de acompanhamento desses indicadores pode variar conforme as necessidades de cada Organização. Essa prática permite verificar o quanto a OASP consegue se diferenciar no setor em que atua, além de demonstrar a preocupação do Gestor com boas práticas e valorização do investimento público.

Bons voos e boa gestão.


O Autor: MARCUS V. BARACHO DE SOUSA é Capitão da PMESP, atualmente trabalha no Grupamento de Radiopatrulha Aérea. Formado pela APMBB em 1996 e bacharel em Direito, participou entre 1999 e 2000 da comissão de criação dos procedimentos operacionais padrão da PMESP. O autor possui Curso de Comandante de Operações e Piloto Policial, 2001; Curso de Gestão pela Qualidade, 2002; Curso Modelo de Gestão da Fundação Nacional da Qualidade, 2010; trabalhou na Seção de Doutrina do GRPAe desde 2002, coordenando treinamento, criação, atualização de POP e PAP; Foi relator dos Relatórios de Gestão do GRPAe para os prêmios Polícia Militar da Qualidade, ciclos 2003, 2005 a 2009, onde o GRPAe conquistou os certificados bronze e prata.