O rompimento da Barragem 1 da Vale, em Brumadinho, na Grande BH, se mostrou um teste para a prontidão de bombeiros e policiais. A maior tragédia socioambiental do Brasil, com cerca de 300 mortos, também exigiu que uma ferramenta fosse utilizada ao limite: os 28 helicópteros Esquilo B2 e B3 que voaram por mais de um mês para lançar os resgatistas no meio do rejeito e para içar e transportar os restos mortais de centenas de vítimas. Essa prova de fogo fez com que as aeronaves da Helibras fossem elevadas a um status de reconhecimento internacional.

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Para a fabricante do Sul de Minas Gerais, sediada em Itajubá, representou também aquecimento de mercado depois de anos de resultados muito ruins, encomendas e empregos.

A Helibras se mostrou a empresa mineira com a mais otimista previsão de resultados neste ano entre as que participaram da LAAD Defence & Security, a maior feira de defesa e segurança pública da América Latina, ocorrida na última semana.

E o desempenho dos helicópteros fabricados e personalizados em Itajubá em Brumadinho foi decisivo nessa posição, de acordo com o presidente da empresa e head of country da Airbus no Brasil, Richard Marelli. “Era uma operação de guerra (em Brumadinho). Mas foi onde as aeronaves se mostraram essenciais.

Mostramos também como ter um acompanhamento com uma empresa de perto, com a manutenção em seu país, em português, faz toda a diferença.

 Isso nos trouxe muita confiança”, disse Marelli, presidente da única fabricante de helicópteros da América Latina.

O executivo conta que, no ano passado, por exemplo, foram vendidas duas unidades para os bombeiros de Minas Gerais e uma para o Rio de Janeiro.

Após a tragédia de Brumadinho e com a resposta que as aeronaves permitiram dar, já são cinco vendas neste ano e uma carta de intenções assinada pelo governo do Rio de Janeiro para a aquisição de mais quatro helicópteros. “Com isso, aparecem os problemas bons. A gente recebe a encomenda e precisa entregá-la.

Em Itajubá, nós temos 500 funcionários na fábrica. Mas cada um deles terá que acionar e coordenar outros três terceirizados, chegando a 1.500 trabalhadores em Minas Gerais e em São José dos Campos (SP)”, afirma o presidente da Helibras.

O céu de brigadeiro em que a Helibras navega ocorre também na área da defesa, com vários projetos sendo desenvolvidos em conjunto com as Forças Armadas.

É sabido nos bastidores do meio militar que o Exército se interessa por helicópteros de ataque ao solo, mas o executivo da empresa brasileira diz não poder revelar quais são os projetos por motivos de sigilo.

“Estamos muito orgulhosos, pois vamos entregar o primeiro (Super Cougar/Puma) H225M para a Marinha (aeronave de múltiplos propósitos, desde apoio na frente a logística), que foi desenvolvido 100% no Brasil e é o único do mundo equipado com o sistema de mísseis exclusivo do tipo Exocet”, afirma o presidente da companhia.

Manutenção

Quem esteve dentro da operação de apoio às aeronaves dos bombeiros militares e policiais militares que atuaram em Brumadinho foi o responsável por suporte e serviços da Helibras, Alessandro Branco.

“Foi um dos momentos de maior comoção e orgulho da minha vida. Quando, logo após a tragédia, reunimos os engenheiros e mecânicos na fábrica e perguntamos quem se dispunha a ajudar, em BH, na manutenção dessas aeronaves, as mãos começaram a se erguer naturalmente. Eram mineiros se voluntariando para ajudar mineiros”, disse Branco, visivelmente emocionado.

Mas o desafio foi grande, uma vez que não se tem notícias de uma ação de mais de um mês com dezenas de helicópteros atuando por mais de 8 horas seguidas, ao mesmo tempo, numa área de atuação reduzida e sem nenhum registro de acidente, como ocorreu na Operação Brumadinho.

“Assim que os bombeiros e policiais pousavam, nossas equipes começavam a atuar, na noite e madrugada, para que as aeronaves estivessem prontas para decolar ao raiar do sol. Conseguimos organizar um fluxo de peças e equipamentos que eram precisos com a Europa (sede da Airbus, empresa parte da Helibras) e até mesmo com outros clientes que entraram nessa rede de solidariedade”, conta.

Produtos em destaque

Uma das empresas mineiras que vêm conseguindo bons resultados e apostam em mais negócios, sobretudo no exterior, é a H&F Indústria de Equipamentos, baseada em Nova Serrana, no Centro-Oeste de Minas Gerais. Fundada em 1999, a fábrica é detentora das marcas Forhonor, que confecciona equipamentos, vestimentas e uniformes táticos, e a Airstep Army, de botas e coturnos.

De acordo com o diretor da empresa, Henrique Martins Ferreira, já são quatro países que recebem os artigos produzidos em Nova Serrana: Estados Unidos, Argentina, Uruguai e Chile.

“Se o ritmo continuar, a intenção é levar para um novo mercado estrangeiro os nossos artigos a cada ano. E aqui na feira (LAAD) tivemos interessados em negócios vindos do Peru, da França, dos Emirados Árabes e de países da África”, afirma.

A H&F completa duas décadas de fundação neste ano e, segundo o seu diretor, um dos motivos que levaram a essa grande busca por qualidade é justamente o país ter se voltado mais para o setor da segurança e poder investir mais nisso.

“Estamos muito otimistas. O Brasil passa por um momento de recuperação e o nosso setor tem sentido isso. A busca das pessoas, não apenas operadores da segurança pública, mas também o público em geral interessado nesse setor tático tem sido muito grande”, afirma.

De acordo com Ferreira, a própria feira LAAD neste ano se mostrou com público muito superior ao dos últimos anos. “Deu para ver isso muito bem já depois do discurso de abertura do nosso vice-presidente, o general Hamilton Mourão.

Quem conhece essa feira há tanto tempo como nós pode também perceber que o volume de pessoas interessadas, nos corredores e nos estandes, aumentou consideravelmente”, afirma.

Outra grande indústria presente na LAAD foi a Iveco, do grupo Fiat, que fornece carros de batalha para as Forças Armadas, mas até o fechamento desta edição a empresa não informou se obteve sucesso em suas exposições, negócios e encomendas na feira.