Da chuteira ao fuzil: atirador de elite concilia carreira de policial militar e jogador de futebol
22 de maio de 2012 4min de leitura
22 de maio de 2012 4min de leitura
Rio de Janeiro – A rotina de Felipe Marques de Queiroz, 30 anos, precisa da mistura disposição e energia para que o rapaz consiga cumprir uma dupla jornada. Conhecido como jogador-atirador do São Cristóvão de Futebol e Regatas, o carioca divide o seu tempo entre a atividade de lateral-esquerdo no time da zona norte do Rio de Janeiro e de atirador de elite no GAM (Grupamento Aeromarítimo) da Polícia Militar. As duas profissões exigem dele muita concentração e disciplina.
Nosso tripulante-jogador fez sua última jogada, sua última missão!
— Um trabalho complementa o outro. Eu preciso ter precisão dentro do campo de futebol e também na rua como policial. A disciplina e o trabalho em grupo são as principais ferramentas do meu dia-a-dia. As exigências trazem benefícios para os dois lados.
O desejo de ser policial nasceu dentro de casa. O pai do jogador é sargento reformado da PM e sempre deu força para o cabo investir na carreira. Ele conta que sabia que enfrentaria dificuldades, mas que nunca lhe faltou coragem.
— Meu pai me apoiou muito e eu sempre tive vontade de ser policial. Ele dizia que o trabalho era difícil, que eu enfrentaria vários problemas, mas que, se era o que eu gostava realmente, ele me apoiaria.
Há sete anos na corporação, o cabo Queiroz diz que o momento mais triste da carreira de policial foi a queda da aeronave da PM no morro dos Macacos, em Vila Isabel, na zona norte do Rio, em 2009.
— Eu estava saindo de serviço naquele dia e recebi a notícia de que tinha perdido três amigos que estavam no helicóptero atingido por traficantes. Um deles era amigo de curso, entrou na polícia comigo. Foi muito triste.
Já o episódio mais difícil pelo qual passou foi um tiroteio perto da favela da Matriz, no Méier, também na zona norte, em que o cabo teve de ficar horas escondido no esgoto
— Fui encurralado por traficantes perto da entrada da favela da Matriz, no Méier. Isso aconteceu três dias antes de eu me apresentar no Grupamento Aéreo Móvel para fazer o curso. Eu estava de serviço, de moto, com mais quatro companheiros, quando fui surpreendido por um grupo de traficantes.Tive que ficar deitado na caixa de esgoto, no meio da rua, sem poder sair até acabar o tiroteio.
Coração dividido
O coração do jogador-atirador se divide quando surgem propostas para jogar futebol fora do Rio. A paixão pelas duas carreiras não deixa o policial desistir das atividades.
— Largar a polícia eu não largo. O futebol também não. Jogarei até quando for velhinho, nas peladas de fim de semana. Se tiver que jogar fora do Rio, vou optar pelos remédios da corporação, como a licença não remunerada. Quero me aposentar na PM.
Como PM, ele trabalha de segunda a sexta-feira, das 7h às 14h. Como jogador, ele treina de segunda a sábado, das 15h às 20h. E depois deste dia longo de atividades, ele ainda complementa o preparo físico com um treinador particular em uma academia da Barra da Tijuca, na zona oeste.
— Eu tomo suplementos alimentares para manter o meu condicionamento físico sempre bom, tenho um treino diferenciado no São Cristóvão e ainda faço exercícios com um preparador particular.
A trajetória como atleta não para nos gramados. Depois de já ter defendido o Resende e o Boa Vista no futebol, ele participou de uma competição de surfe da PM e do Corpo de Bombeiros do Estado do Rio e foi campeão.
— Um dia ainda quero me dedicar ao surfe.
Ex-morador da Rocinha ajudou no combate ao tráfico
O cabo Queiroz nasceu na favela da Rocinha, em São Conrado, na zona sul da capital fluminense. Saiu de lá depois dos 20 anos, quando decidiu entrar para a PM. Sabia que enfrentaria problemas como policial e morador de uma comunidade comandada pelo tráfico de drogas.
Em novembro do ano passado, durante a ocupação da polícia na favela, ele estava de férias. A dedicação ao trabalho fez como que o atirador de elite abandonasse os dias de folga e se colocasse à disposição da corporação. Conhecedor da comunidade, ele não quis estar fora daquele momento histórico da saída de traficantes da Rocinha.
— Eu estava acompanhando de fora os preparativos para a ocupação e resolvi interromper as minhas férias. Pensei: quero estar lá neste momento histórico de combate ao tráfico que existia há anos na comunidade. E hoje, eu tenho a oportunidade de poder ter participado de uma história diferente e marcante da Polícia Militar.
O cabo Queiroz também participou da ocupação da polícia no Complexo do Alemão, na zona norte, em novembro de 2010. Ele já passou pelo BPChoque (Batalhão de Choque), pelo Grupamento Tático de Motocicletas e pelo Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais).
Fonte: Evelyn Moraes/R7.
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