Cuidado com o lado negro da força: os dilemas éticos da missão aeromédica
27 de agosto de 2014 5min de leitura
27 de agosto de 2014 5min de leitura
“O medo, a raiva e a agressividade, são eles o lado negro da força” avisou Yoda para Luke Skywalker em “Guerra nas Estrelas Episódio VI: O retorno de Jedi.” “Uma vez iniciado no caminho sombrio, para sempre ele dominará o seu destino.”
A figura central em Guerra nas Estrelas é “a força,” uma entidade com uma natureza dual — um lado bom e um mau. O labo bom da força se manifesta quando aqueles que tem fé suficiente pedem pelo melhoramento de todos. Já o seu lado negro é mais rápido, sedutor e pode levar as pessoas a fazer o mal.
É fácil encontrar várias semelhanças entre os filmes Guerra nas Estrelas e a atual escassez de pilotos que as operadoras de helicópteros para serviços de emergência médica têm enfrentado. A enorme falta de pilotos de helicóptero qualificados tem criado dilemas éticos para todos aqueles envolvidos com os Serviços de Helicópteros de Emergência Médica (HEMS).
Em setembro de 2003, líderes da indústria aeromédica se reuniram em Salt Lake City, em Utah, nos EUA, para discutir as questões que os programas de voos médicos enfrentavam. Eles identificaram diversos fatores que ameaçavam a indústria e um dos principais temas foi o advento da escassez de pilotos.
“Os programas para serviços de helicópteros de emergência médica podem vir a encarar uma falta significante de pilotos treinados adequadamente,” escreveu Frank Thomas, médico, e os seus colegas do Dobee Group na Revista Air Medical, em 2003.
O grupo também havia comentado sobre a necessidade de haver uma reserva de pilotos qualificados e treinados. Mais de uma década depois, esta visão do Conselho se concretizou.
Hoje, existe uma grave escassez de pilotos qualificados. Além disso, o problema continua em grande parte por resolver e, consequentemente, tem feito a liderança do HEMS encarar desafios éticos.
Há uma força sombria crescendo por toda a comunidade de jovens pilotos e ela está criando um dilema ético para todo mundo. Os últimos relatórios revelam um fato alarmante. Os aprendizes Padawans de helicóptero, desejosos por uma carreira na aviação, estão sucumbindo ao “lado negro” e usando métodos não aprovados para obter resultados.
Inúmeras entrevistas recentes com pilotos e aviadores de HEMS confirmam que há uma crescente tendência de pilotos de helicópteros, com menos de 40 anos de idade, “limitar os seus diários de bordo” para atender às exigências mínimas do HEMS. Isto cria um dilema ético para o candidato e para os colegas pilotos.
Muitos pilotos qualificados, que têm investido o seu tempo e dinheiro para cumprir as horas exigidas, estão alegando que estas últimas situações representam casos de “heroísmo roubado”. No entando, ninguém quer “dedurar o seu colega” e, assim, muitos optam por permanecer calados.
O que é heroísmo roubado e como isto se relaciona com o HEMS?
Muitos dos pilotos qualificados em HEMS iniciaram suas carreiras como militares. A Lei do Heroísmo Roubado (Stolen Valor Act) de 2013 considera ilegal fazer alegações militares com a intenção de obter dinheiro, propriedades ou outros benefícios tangíveis. Tomar liberdades com a experiência de voo militar e produzir diários de bordo pessoais, que satisfaçam as exigências do HEMS, é um caminho perigoso para pilotos e operadoras.
Um caso recente ilustra esta situação. O piloto instrutor de uma companhia (mantêm-se anônima) revelou, “Como que alguém pode ter tantas horas de voo e ampla experiência com menos de 40 anos de idade? É muito bom para ser verdade.”
De fato, depois de checar o histórico oficial do Exército de voos do candidato, ficou claro que este Padawan havia sucumbido ao lado negro. O piloto estava mais de 700 horas aquém das qualificações mínimas do HEMS. Posteriormente, ele foi dado a oportunidade de se superar em algum outro lugar.
Muitos outros pilotos militares estão se apresentando e identificando esta situação como uma tendência crescente. Esta falta de pilotos de helicópteros qualificados tem criado dilemas éticos tanto para os pilotos quanto para os seus caros colegas. Tenha cuidado com o lado negro; ele é mais rápido e mais sedutor; porém, a longo prazo, ele destrói tudo que toca.
Tem-se escrito muito sobre as pressões que os gestores sofrem para “preservar a viabilidade econônima” do HEMS. A tomada de decisões éticas torna-se um desafio quando precisa-se encarar a difícil tarefa de contratar pilotos qualificados. Orientações podem ser encontradas em artigos como “Worldwide Competition Strategies between Ethical and Unethical Practices” e “Why Managers Bend Company Rules“. Gestores, investidores e partes interessadas devem tomar cuidado com os perigos que vêm junto com a preocupação da eficiência econômica no lugar da responsabilidade social.
Quando estiver diante de um candidato com menos de 40 anos de idade alegando ter mais de 1,500 horas como piloto em comando (PIC) de asa rotativa, lembre-se de Yoda: “Se você escolher o camilho rápido e fácil, você se tornará um agente do mal.”
Obviamente, a escassez de pilotos está testando tanto os candidatos como as lideranças da indústria. O Air Medical Congress que ocorreu em 2003 foi direto ao ponto ao declarar que “cada parte possui uma parte da verdade sobre a questão da segurança rodeando os pilotos qualificados”. O que pode ser feito, então, com a escassez?
Uma solução para a crise ética seria a adaptação das exigências mínimas para o mercado atual. É fora da realidade manter — quanto mais crescer — HEMS e esperar encontrar pilotos qualificados com 1,500 horas PIC de asa rotativa e 2,000 no total. As partes interessadas e os líderes empresariais precisam encontrar um forma de mudar as regras ou desenvolver uma reserva de pilotos qualificados.
A operadora Silver State Helicopters desenvolveu um grande conceito, mas foi mal administrada. É preciso haver um esforço imediato para o desenvolvimento de uma reserva de pilotos qualificados. Se a Silver State Helicopters tivesse sido administrada corretamente, ela teria sido igualada ao programa de formação de pilotos de helicóptero do Exército.
As lideranças empresariais devem colaborar e desenvolver uma maneira de estabelecer um grande programa de formação e recrutamento semelhante à missão original da Silver State Helicopters de desenvolver pilotos de helicóptero qualificados. Mudem as exigências mínimas ou desenvolvam uma reserva de candidatos qualificados.
Até que essas ações aconteçam, nós vamos ter que continuar encarando esta crise ética quando procurarmos por pilotos de HEMS qualificados.
Fonte: MultiBriefs/ Reportagem: Michael P. Koval
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