Imagine-se uma força na qual 20% do seu efetivo foi morto, ou ferido, física ou psicologicamente, por causas não naturais em um período de tempo. Estamos falando de qual força e guerra? EUA, Rússia? I Guerra Mundial? II Guerra Mundial? Coréia? Vietnã? Iraque? Kwuait?

Nenhuma dessas, falamos da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, e a “guerra” não foi declarada, mas está fazendo baixas em proporções superiores às citadas, desde 1994. A PM foi empurrada para esta Guerra, nunca quis ou procurou por ela.

A situação das mortes e ferimentos de policiais militares no Rio de Janeiro é muito mais grave do que parece.

Geralmente, quando divulgam os números, são contabilizados apenas aqueles em efetivo serviço, ou seja, fardados e armados tirando serviço no momento, e apenas do ano em questão, comparados com o efetivo do ano avaliado. Mas o fenômeno das baixas, soma de mortos mais feridos, é muito maior, pois existem os que estão de folga, mas morrem e são feridos devido a sua condição de policial militar, podendo ser identificado por um criminoso que prendeu e voltou às ruas, ou pelo cabelo curto e barba feita que deve usar, carteira que tem que portar, e pelo instinto de reconhecimento mútuo entre policial e bandido, entre o bem e o mal.

Quando tabulamos os dados das baixas por causas não naturais, adotamos a mesma metodologia norte-americana, que inclui qualquer tipo de morte e ferido por causa não natural, chegamos aos impressionantes números da Tabela 1.

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Note-se que estamos contando o Estado do Rio de Janeiro todo, o que merece uma explicação à parte.

Existem áreas do RJ que tem níveis baixos de violência, e consequentemente número de baixas reduzido ou praticamente nulo, representadas pelo interior do Estado; mas estamos contando esse efetivo também para efeito de cálculos, o que num refinamento óbvio, permite, infelizmente, pelo menos dobrar nossas taxas, pois o denominador vai à metade e o numerador quase não é reduzido. Se refinarmos mais ainda, e reduzirmos o Universo para unidades como 3º, 9º, 16º, 20º, 22º BPM e algumas UPP, teremos taxas de baixas proporcionais mais perversas ainda.

Em vermelho temos os mortos, em amarelo os feridos e em laranja as baixas, somatório de mortos mais feridos.

Cabe ressaltar que se os números chocam, a dimensão da tragédia humana é ainda muitas vezes maior, pois estamos falando de milhares de policiais, pais, chefes de família, filhos, esposas, que deixam de voltar para seus lares como saíram, pois ou são mortos, ou retornam feridos, mutilados, incapacitados para uma vida normal, quer pessoal, quer profissional.

Em 26 anos, entre 1994 e 2019, a PMERJ teve 3.588 mortos e 16.633 feridos, por causas não naturais, totalizando 20.221 baixas, considerando um efetivo de 112.000 homens que serviram na PMERJ.

Como não há comparação com polícias no planeta, recorremos ao Exército Brasileiro na II Guerra Mundial e as Forças Armadas dos EUA em várias guerras no século XX, que apresentam dados confiáveis, e chegamos às comparações trágicas da Tabela 2 abaixo.

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Em números absolutos, os números da PMERJ são menores que o dos EUA, mas quando comparamos as taxas de mortos, feridos e baixas, a análise permite dizer que foi mais arriscado estar na PMERJ nos últimos 26 anos do que servindo na FEB ou nas forças armadas norte-americanas em qualquer guerra do século XX, incluindo as I e II Guerras Mundiais.

Como exemplos extremos, a chance de ser ferido aqui foi mais de setecentas e sete vezes (707,56) superior a de ter servido durante a Guerra do Golfo Pérsico (Kuwait), e a de ser morto foi mais de três vezes (3,36) a de ter servido durante a Guerra da Coréia, e três vezes (3,27) a de ter servido durante a Guerra do Vietnã.

Numa guerra na qual a superioridade de informações, a fusão de dados, a consciência situacional, a superioridade tecnológica, aérea e a bélica, e os meios de proteção, foram totais, como a do Golfo Pérsico, pela libertação do Kuwait, vemos as taxas de qualquer tipo de baixa cair drasticamente, pois tropas muito superiores enfrentam um inimigo tão inferior que em tal confronto quase não há danos para o lado vencedor. Se o confronto deveria ser esporádico com as Polícias, mais raras ainda deveriam ser as baixas, pois elas só poderiam atuar em condições de superioridade total, tais quais as da Guerra do Golfo.

A exposição de policiais militares a ambientes hostis, em inferioridade:

  • De informações(ausência de dados e informações em quantidade e qualidade sobre criminosos, armas, munições, rádios, locais e horários de deslocamento e homizio);
  • Bélica(armas e munições velhas e insuficientes, miras mecânicas ultrapassadas, ausência de armamento orgânico nos veículos terrestres e aéreos);
  • Tecnológica(rádios e acessórios insuficientes, ausência e/ou insuficiência de celulares, redes e acessos a internet precários e insuficientes, carência de aeronaves de observação e apoio de fogo, veículos aéreos e terrestres remotamente pilotados ausentes, sistemas computacionais precários e obsoletos); e
  • De proteção(blindagem de instalações, veículos, e pessoal), cria, gera e mantém essa dura realidade na PMERJ.

A superioridade aérea é o grau de dominância aérea entre uma força sobre outra que permite a condução de operações pelo dominante, em terra, mar e ar, num tempo e local, sem interferência proibitiva de forças adversárias.

No teatro de operações da Guerra Urbana do Rio de Janeiro, a presença de aeronaves das Polícias, permite um apoio de informações e de fogo, para os melhores infantes urbanos do mundo, os policiais militares e civis do Rio de Janeiro, alimentando e municiando a tropa desdobrada no terreno com dados e informações preciosos sobre o posicionamento, tipos e quantidades de armas, deslocamentos e emboscadas dos narcoguerrilheiros, e em alguns casos atirando para salvar vidas de policiais e cidadãos inocentes.

Ou a Sociedade, o Ministério Público, o Legislativo, o Judiciário, as Forças Armadas, e a Mídia, nos ajudam a vencer este confronto, ou se corre o risco deste narcotráfico espalhar-se pelo Rio de Janeiro e Brasil, e aí podemos não ter mais como derrotar esses inimigos da sociedade, que até o momento tem massacrado praticamente só a PM, que luta diuturnamente quase que sozinha.

Vivemos dias difíceis com certeza, em um ambiente de guerra assimétrica urbana, com letalidades absurdas que geram nos policiais sequelas físicas e psíquicas gravíssimas, e isso tudo tem um custo muito alto para todos nós.

O uso e a presença de aeronaves nas operações policiais é fundamental, e precisamos das asas rotativas acima dos melhores, que estão no chão, defendendo, servindo e protegendo a sociedade, 24/7/365, enfrentando o mal para construir uma cidade, um estado e um país melhores.