Santa Catarina – A região Oeste de Santa Catarina conta com dois serviços essenciais no quesito salvar vidas. O Sara, que atua em parceria com o SaerFron, da Polícia Civil de Santa Catarina e, desde junho de 2018, também conta com a atuação da equipe do Arcanjo 4 do Corpo de Bombeiros e Samu.

 Foto: Bia Piva/Diário do Iguaçu


Foto: Bia Piva/Diário do Iguaçu

Quando se trata de saúde, o tempo é fundamental para salvar uma vida. Por isso, quanto mais rápido o atendimento, mais chances de sobrevivência e recuperação os pacientes têm.

E a região Oeste, nos seus mais de 300km de território, distante 500km de hospitais especializados e de alta complexidade em cirurgias infantis, unidade de queimados e outros tratamentos, tem no deslocamento e acesso a essas unidades um grande desafio.

Nesse sentido, nos últimos anos a região Oeste passou a contar com dois serviços que se complementam e constantemente renovam sua importância no dia a dia de quem mais precisa de ajuda para sobreviver: o Serviço de Atendimento e Resgate Aeromédico (Sara) – onde uma equipe de médicos e enfermeiros do Samu atua em conjunto com a equipe da aeronave do Serviço Aeropolicial de Fronteira (SaerFron) – e, mais recentemente, com o avião Arcanjo 4 do Corpo de Bombeiros de Santa Catarina, composta por uma tripulação do CBMSC, mais médicos e enfermeiros.

Atuando em conjunto, as equipes do Sara/SaerFron e do Arcanjo do Corpo de Bombeiros e Samu têm uma coisa em comum: voar para salvar vidas. Conheça um pouco mais do trabalho de cada uma dessas equipes.

Arcanjo 4 – Corpo de Bombeiros/Samu

O tenente Leonardo Ecco é o comandante do 1º Pelotão da 3ª Companhia do Batalhão de Operações Aéreas (BOA) do Corpo de Bombeiros e também é o co-piloto da aeronave Arcanjo 4 – modelo Cessna.

A unidade, que antes tinha bases apenas em Florianópolis e Blumenau, começou a atuar em 2015 em SC e passou a operar definitivamente em Chapecó em junho de 2018 com equipe composta por tripulação de Bombeiros Militares, mais médico e enfermeiro do Samu.

Em seis meses de atividade no Oeste, a unidade fez mais de 50 atendimentos com transporte de pacientes por todo estado, também no RS e PR.

“Desde que o Bombeiro começou com as operações aéreas, em 2015, a região Oeste também era atendida, mas depois da ativação da base aqui percebemos que muitas demandas que sempre existiam nem chegavam para a base de Florianópolis.O início da operação da base no Oeste gerou muito mais demanda aqui”, conta.

Segundo o tenente, desde que o Bombeiro de SC iniciou suas operações com a aeronave, o maior fluxo de voos era justamente do interior para o litoral. “Mostrando o quanto foi acertada a vinda da base para cá”, pontua.

Capacidade de voar mesmo com chuva

O diferencial da aeronave asa fixa é a autonomia de voo de cinco horas, com velocidade que chega a 200km/h e alcance estimado de 1 mil quilômetros. Com isso, consegue cobrir todo o território catarinense e boa parte dos estados do sul em um único voo.

Outro fator que contribui para atuação da aeronave na região é a distribuição de aeródromos com pistas com tamanho adequado que permitem o pouso da aeronave em várias cidades da região. Em algumas delas, inclusive, as operações feitas por instrumentos permitem pousos e decolagens do arcanjo mesmo em condições climáticas restritas como chuva e neblina.

Estrutura

Ao todo, a aeronave comporta o transporte de até seis pessoas: piloto e co-piloto e quatro passageiros. Em caso de transporte de pacientes, as configurações no interior da aeronave podem ser alteradas para o transporte de paciente em maca ou incubadora (em caso de recém-nascidos), médico e enfermeiro, além de equipamentos para suporte a vida.

“A logística do transporte com uso das aeronaves é uma forma de otimizar recursos públicos, aumentando a sobrevida humana e favorecendo, inclusive, a disponibilização de leitos da UTI nos hospitais do estado”, destaca o Bombeiro, reforçando que o transporte por vias aéreas oferece mais conforto e segurança ao paciente e equipe médica, permitindo que as equipes em solo estejam disponíveis para outros atendimentos.

Principais atuações

O Arcanjo tem como missão o atendimento secundário em casos de atendimentos médicos, mas também pode ser empregado em outras missões, como o apoio à SC Transplantes.

“É um tipo de operação que não tem margem de tempo, porque alguns órgãos têm poucas horas para serem retirados e reimplantados. O coração, por exemplo, tem somente quatro horas”, destaca. Por isso, a distância e a falta de logística, muitas vezes, atrapalha a doação mesmo em casos onde há doadores disponíveis. “Ter a aeronave aqui próximo facilita bastante”, diz.

Entre as missões já realizadas pela unidade de Chapecó, está o transporte de paciente para tratamento em São Paulo, a transferência de catarinense que sofreu acidente no RS, além do transporte de um cão de busca e resgate do Corpo de Bombeiros até o litoral catarinense, para ajudar em buscas a pessoa desaparecida e inúmeras outras transferências, que acontecem quase diariamente.

Defesa Civil

Além do aeromédico, o Arcanjo 4 também tem dentro de seu rol de atividades o apoio operacional para deslocamento de tropas dos Bombeiros ou ainda da Defesa Civil.

“SC é um estado com grande índice de desastres ambientais. E às vezes as condições meteorológicas impediam a chegada de equipes de apoio até aqui. Com a base na região, facilita o transporte de material, de equipe, busca com cães”, explica.

Serviço de Atendimento e Resgate Aeromédico (Sara/SaerFron)

O helicóptero da Polícia Civil, com o Serviço Aeropolicial de Fronteira (SaerFron) iniciou suas operações na região Oeste no ano de 2014 – vindo por meio do projeto Estratégia Nacional de Fronteira (Enafron), para auxiliar nas ações de combate a crimes transfronteirços e é gerido pela Polícia Civil de SC.

Em dezembro de 2015, uma parceria entre a Prefeitura de Chapecó e a Polícia Civil do Estado deu início a um projeto pioneiro e que tem sido referência em todo o país: o Serviço de Atendimento e Resgate Aeromédico (Sara) completou três anos de atividade com mais de 900 missões cumpridas.

Os delegados e coordenadores do SaerFron, Albert Silveira e Ricardo Casagrande, destacam que o uso do helicóptero é um diferencial, já que a aeronave é capaz de chegar em locais de difícil acesso, com espaços reduzidos ou até mesmo em ruas e estradas, graças a perícia da tripulação, treinada para esse tipo de situação em atendimento de ocorrências policiais. Isso permite a rápida chegada de socorro médico especializado, iniciando o atendimento à vítima ainda no local do acidente ou da necessidade de intervenção.

Pouso em locais restritos

Um dos pousos que chamou a atenção dos chapecoenses pela perícia do piloto foi no atendimento a crianças –  estudantes de uma creche, no bairro Efapi, que foi invadida por um veículo conduzido por um motorista embriagado. Várias ficaram feridas e o piloto, Marco Aurélio Severino, conseguiu pousar em uma rua muito estreita em meio a edificações e árvores.

“A tripulação operacional auxilia os pilotos no pouso, indicando as distâncias. Mas o pouso também depende muito da perícia e da técnica do piloto”, explicam os delegados, lembrando que é possível a tripulação fazer a descida por rapel ou a baixa altura.

Atendimento médico no local

Dentro da aeronave do SaerFron, quando usadas em ocorrências médicas, além de piloto e co-piloto estão um médico e enfermeiro e vários equipamentos para auxiliar na intervenção médica aos pacientes. Esses profissionais dão o primeiro e emergencial atendimento a vítimas de acidentes, ou pacientes em situação crítica.

O coordenador do Sara, o médico Alexssandro Rosa, destaca que “o atendimento rápido, além de ajudar a preservar a vida contribui para a diminuição das sequelas pós tratamento. Os benefícios são evidentes para o paciente e para o poder público”, diz.

O reflexo desse atendimento imediato é o aumento das chances de sobrevivência de pacientes, também a economia do Estado nos gastos com internação, reduzindo o tempo em que o paciente precisa ficar hospitalizado, ajudando a diminuir a superlotação das unidades. O médico explica que cada dia a menos de internação em uma UTI, o estado poupa, em média, R$ 5 mil.

Atuação

Focado no atendimento primário e com capacidade de pousar em locais variados, o helicóptero facilita o resgate de pacientes vítimas e acidentes de trânsito, ainda a transferência de pacientes entre os hospitais da região com destino a unidades de referência (como o Hospital Regional do Oeste, em Chapecó, e o Hospital Regional São Paulo, de Xanxerê, referência no atendimento cardiológico). Também podendo atuar no suporte a transporte de órgãos para doação.

Serviços são gratuitos

Tanto os atendimentos feitos pelo Sara/SaerFron quanto pela aeronave Arcanjo são feitos gratuitamente e ambos são regulados pela Secretaria de Saúde, por meio do Samu.

Seja no atendimento a acidentes de trânsito, pessoas em condições críticas, gestantes em situação de risco, pacientes infartados, ou no transporte de pacientes que necessitam atendimentos especializados em outras regiões de SC ou até mesmo em estados vizinhos.

Regulação

Para os atendimentos do Sara, o acionamento pode ser feito tanto pelo Corpo de Bombeiros, Polícias e pelo Samu. É feita uma avaliação para verificar a necessidade do acionamento da aeronave e a situação do paciente, se tem condições de voo e local para pouso.  E todos os atendimentos são feitos pelo SUS.  A mesma situação ocorre nos casos atendidos pelo Arcanjo.

“Hoje, SC é referência para o Brasil no transporte aeromédico com asa fixa. Todo serviço feito gratuitamente, algo que em muitas regiões do país nem mesmo a rede privada oferece”, destaca.

Ecco conta ainda que muitos dos pacientes nunca tiveram a oportunidade de andar de avião, e justamente em um momento delicado da vida tem essa chance. “Tem gente que se emociona, principalmente as crianças. É uma mistura de ansiedade e também tem um encantamento pelo voo”, revela.

Sem distâncias para salvar vidas

Com o helicóptero o maior tempo de voo, em condições adequadas, gira em torno de 25 minutos (trajeto entre as cidades da fronteira catarinense e a cidade de Chapecó). Por terra, esse deslocamento levaria ao menos 2h.

Já com o Arcanjo, uma viagem de Chapecó a Florianópolis leva em torno de 1h40. Se fosse feito pela estrada, com ambulâncias, parada para abastecimento e troca de veículos, não aconteceria em menos de 9h.

“Nós fazemos o atendimento primário e em locais onde o avião não conseguira pousar. Já eles (o Arcanjo), vão para distâncias maiores, onde o helicóptero teria mais dificuldade em fazer o trajeto, e também situações em que há maior facilidade no transporte com o avião. São serviços complementares”, destacam os coordenadores do Saer.

“A quantidade de vidas salvas comprova que as ferramentas são extremamente úteis para a região, mais distante e com municípios menores, sem condições de dar maior suporte”, enfatizam.

“Quem está ganhando é o cidadão, é para ele que serviço público deve estar focado”, complementa o comandante da base do Arcanjo de Chapecó.