Ceará – O dia a dia dos servidores da Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer), vinculada à Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), é repleto de emoção. Afinal, para viver na linha tênue entre a vida e a morte, salvando a vida de pessoas e enfrentando situações de perigo, é preciso muita perspicácia e sangue frio.

Muitas são as missões que marcaram a vida daqueles que viveram esses momentos. Porém, uma em especial a equipe formada pelo major Hélio, delegado Alves, sargento Jorge e o cabo Galvão lembram pela extrema tensão.

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Na ocasião, a equipe foi acionada para um resgate a um afogamento no Titanzinho. Lá, tudo foi realizado conforme os procedimentos e as vítimas foram socorridas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

Sobrevoando a cidade para retornar à base, com pouco combustível, uma inesperada ocorrência na serra da Pacatuba. Um acidente de parapente deixou uma pessoa presa no matagal e, quando moradores da redondeza tentaram ajudar, todos foram atacados por um enxame de abelhas. “O sargento Jorge, que ainda estava com traje de banho pois vínhamos de um afogamento, precisou fazer o rapel para resgatar as vítimas, confiando apenas na presença da aeronave para dispersar as abelhas”, conta o delegado Alves. No processo, o cabo Galvão permaneceu na aeronave dando as orientações necessárias.

A vítima foi socorrida e colocada na maca. Enquanto isso, o nível de combustível baixava cada vez mais e foi preciso levar a vítima direto para a Ciopaer, para de lá ser encaminhada ao Instituto Doutor José Frota. “Dentre as questões a serem ressaltadas, destacamos o imprevisível, algo constante no nosso trabalho. Saímos de uma missão direto para outra e no limite do combustível.

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Já tínhamos conversado que, se não conseguíssemos tirar a vítima dentro de cinco minutos, teríamos que ir embora. O Jorge conseguiu fazer procedimento e voltamos com a luz acesa. O manual de voo permite voar no máximo 18 minutos com ela assim e voamos cerca de seis minutos. Não é um procedimento normal, pois foi uma situação extrema, tivemos que optar entre colocar a operação em risco e salvar a vítima”, conta o major Hélio.

“Às vezes as decisões precisam ser tomadas rapidamente. Muitas vezes parte da equipe se isenta dos riscos, mas, nesse caso, todos corriam o mesmo risco, pelas condições de vento, ambiente. Eu era um dos tripulantes que ainda estava começando.

O Galvão, que era mais experiente, conduziu a minha conduta”, relata o sargento Jorge. “O cenário era muito hostil, todos nós fomos picados por abelhas, o local era cheio de pedras, terra íngreme. Graças a Deus soubemos conduzir, mas em um piscar de olhos algo podia sair errado. Essa é nossa rotina, temos que acreditar em Deus que a cada ocorrência sejamos abençoados”, disse o cabo Galvão.

Outras missões

Rciop4O imprevisto é mesmo algo constante na Ciopaer. Às vezes, mesmo uma missão que pareça mais simples acaba trazendo sérios riscos. No caso, a equipe foi designada a colocar a coroa no topo da estátua de Nossa Senhora de Fátima, no Crato.

“O que seria apenas uma missão de carga externa se revestiu em algo totalmente diferente. A população foi toda para o local, criando um clima de espetáculo, tínhamos que colocar a coroa num local preciso, a estrutura não havia sido planejada para isso. O vento não era favorável, estava anoitecendo, e como a coroa tinha muitas pontas, ela facilmente encaixava nos andaimes e isso poderia puxar a aeronave para baixo, criando um risco muito grande”, relata o delegado Alves.

O major Hélio também relata um resgate na Pedra da Rajada, na Serra de Maranguape, quando um grupo de jovens subiu até o topo e uma garota teve um ataque cardíaco lá. “A informação que tínhamos é que se não a trouxéssemos no helicóptero ela iria morrer lá. Foi uma missão difícil pois era muito próximo às pedras e muito vento. O tripulante viu que ela estava caída ao solo, desembarcou, prestou os primeiros socorros, a reanimou, e foi trazida para aqui e ela foi medicada”, conta.

O sargento Jorge relembra uma ocorrência durante um assalto a banco no município de Catarina. “Foi muita tensão, e pela primeira vez eu vi a aeronave perfurada por uma bala. Ficamos todos vulneráveis pelo perigo”, conta. “Para quem está do lado de fora, é sempre bonito, é uma coisa cinematográfica, a aeronave voando baixo, os policiais na porta pronto para atirar, mas quem está ali dentro precisa manter um grau de tranquilidade grande. É muita técnica, muita concentração. Quando acertamos lá, a gente nem vibra, pois se começarmos a comemorar, a coisa sai do controle”, diz o major Hélio.

Rotina de risco

Rciop1Engana-se quem pensa que cada missão bem sucedida é comemorada como uma vitória pelos servidores da Ciopaer. Afinal, a vida de adrenalina já virou algo comum para cada um. “Para mim, é como se fosse um dia normal. Eu só fico preocupado em não dar errado. Se der certo, é o normal da gente, se falharmos, é o diferencial”, disse o cabo Galvão.

“Eu percebo que nós não temos dimensão. Salvamos pessoas da morte, livramos de ferragens, resgatamos de serra, e a missão acaba quando entregamos a vítima no hospital. Às vezes as vítimas vêm nos visitar depois e percebemos que a vida delas foi transformada. Uma morte numa família causa uma modificação muito grande. Sabemos que temos um grau de
risco muito grande, mas a cada dia temos uma missão diferente. Nós voltamos, fazemos um briefing para aprender mais para ocorrências futuras, mas só percebemos depois a dimensão do que fizemos”, disse o major Hélio.

“Essa sensação de euforia, de dever cumprido, ela acontece, mas é minimizada pela adrenalina, a preocupação com o caso. Nas missões mais arriscadas, sempre fazemos esse briefing, mas a ficha só cai mesmo quando soubemos do resultado por um meio externo, a imprensa ou alguma vítima socorrida”, diz o delegado Alves.

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Fotos: Tiago Stille