Brasil – Colisões entre aeronaves e fauna, principalmente aves, conhecido no Brasil como risco de fauna, são o tipo de incidente mais repetitivo na aviação mundial e representa hoje uma das maiores preocupações para o setor aéreo. Eventos desta natureza já vitimaram mais de 470 pessoas e custam aproximadamente US$ 3 bilhões anualmente.

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No Brasil, estima-se que o prejuízo financeiro anual, entre 2011 e 2016, tenha sido superior a US$ 65 milhões. Uma das grandes dificuldades para atuar na mitigação deste problema é a baixa porcentagem de colisões reportadas. Segundo o Tenente-coronel da Reserva Henrique Rubens Balta de Oliveira, “apenas 31,71% das colisões são reportadas ao Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), órgão responsável por gerenciar o banco de dados nacional de eventos envolvendo aeronaves e fauna”.

Informação proveniente dos reportes de colisão é um dos pilares para o gerenciamento do risco de fauna. O conjunto de dados oriundos dos reportes fornece as espécies envolvidas nas colisões, a época do ano e o horário do dia com maior ocorrência de colisões, o local onde o evento aconteceu (dentro ou fora do aeródromo), custos e tempo de indisponibilidade de aeronaves provocados por colisões com fauna, dentre outros aspectos.

A coleta de dados no aeródromo e seu entorno, realizada por equipe capacitada em gerenciamento de risco de fauna, é outra ferramenta chave no processo de mitigação deste risco. É por meio da coleta de dados padronizada e continua que são identificadas as espécies-problema, bem como os fatores contribuintes para o uso e permanência na área do aeródromo e entorno.

De posse desse conjunto de informações é possível elaborar o Programa de Gerenciamento de Risco de Fauna (PGRF). O PGRF é o documento que estabelece procedimentos incorporados à rotina operacional do aeródromo, cuja finalidade é reduzir progressivamente o risco de colisão entre aeronaves e animais.

Diante da complexidade do tema e das dificuldades enfrentadas, principalmente pelos aeródromos militares, na elaboração e execução de PGRF, a Assessoria de Gerenciamento de Risco de Fauna (AGRF) do CENIPA elaborou o Manual de Gerenciamento de Risco de Fauna (MCA 3-8, Portaria CENIPA nº 111/DOP-AGRF, de 4 de dezembro de 2017).

Imagem: shutterstock.com

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A finalidade do Manual de Gerenciamento de Risco de Fauna é orientar a prática de processos fundamentais para reduzir colisões com maior severidade, principalmente, aquelas que possam causar acidentes aeronáuticos.

Manual define metodologias e procedimentos de mitigação, integrados às organizações em operação no aeródromo, preferencialmente, dentro do escopo de um PGRF. Além disso, orienta operadores de aeródromos, de aeronaves (tripulantes e mantenedores) e de controle de tráfego aéreo na realização de ações mitigadoras integradas de gerenciamento de risco de fauna, conforme realidade organizacional e melhor custo-benefício.

Segundo o 2º Tenente Biólogo Weber Galvão Novaes, chefe da AGRF, “o Manual passa a ser valiosa ferramenta para o gerenciamento de risco de fauna no Brasil, fornecendo informações fundamentais aos diferentes atores responsáveis pela implementação de medidas que reduzam o conflito entre aviação e fauna”.

O Manual traz ainda ferramentas inéditas que contribuirão para a redução de exposição de aeronaves militares à colisões com aves”, afirma o Tenente-coronel da Reserva Rubens Balta de Oliveira. “Trata-se do uso de informações relativas à presença de fauna integradas ao planejamento das missões, que permitirá à tripulação adotar medidas que reduzam a probabilidade de colisões, principalmente aquelas com maior severidade”.

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