Em 2 anos, 425 voos para ações de resgate a vítimas

Quarta-feira, 30 de junho de 2010. O helicóptero Águia, da Polícia Militar, levanta voo pela primeira vez para socorrer uma pessoa que havia caído de uma altura de 20 metros, em Campinas. Aquele foi o primeiro voo do resgate aeromédico da PM da base Campinas. Passados dois anos, 425 voos foram realizados com a mesma finalidade: salvar vidas.

A base de Campinas do Grupamento de Radiopatrulha Aérea da PM, ou simplesmente Águia, é a única fora da Capital que possui o resgate aeromédico e conta com uma equipe de ponta. Os policiais militares que atuam no Águia e os médicos e enfermeiros do Grupo de Resgate de Atendimento de Urgência (Grau) que trabalham nas ocorrências não são adeptos ao título de heróis, mas é inegável a importância desses profissionais no resgate de vítimas.

Com a capacidade de levar ao local do acidente uma equipe médica com rapidez, o Águia da PM se transformou em esperança. Afinal, é este o sentimento quando o Águia aterrissa nos locais mais improváveis para realizar seus resgates. Com as estatísticas apontando para o sucesso das operações de resgate do Águia, o slogan “voando para servir” facilmente poderia ser substituído por “voando para salvar”.

Em dois anos do resgate aeromédico, completados ontem, foram centenas de vidas salvas. Pessoas que tiveram a chance de sobreviver graças ao resgate rápido e preciso. Como João Vitor, Lucas, Santino e tantos outros. Personagens do dia a dia que entraram para lista de sucesso do Águia: a de pessoas que foram salvas.

O dia 2 de julho de 2011 mudou o rumo da família Secafene. Era meio-dia quando o jovem João Vitor, com 20 anos, recebeu uma ligação de um amigo que pediu uma carona para levá-lo até uma oficina mecânica buscar sua moto. João saiu de casa, no Jardim Esmeraldina, em Campinas, e não foi preciso mais de 500 metros para sua vida mudar radicalmente. Foi atingido em cheio por uma camionete. Com uma fratura na cabeça, outra na perna, uma grave fratura na bacia e muitas escoriações pelo corpo, o jovem saudável estava no chão, à espera de socorro.

“Na hora que eu cheguei lá eu achei que tivesse perdido ele. Entrei em pânico”, se recorda o pai, José Roberto. Em seguida, surgiu o helicóptero da PM. Na época, o Águia salvava vidas havia pouco mais de um ano e ainda era pouco conhecido. “Confesso que não sabia o que aquele helicóptero estava fazendo ali. Para mim só servia para ações policiais. Mas era o resgate do meu filho que estava chegando”, diz, emocionado. Juntamente com os “anjos” que vieram do céu, uma equipe do Samu chegou e começou a luta para salvar João. “E como foi perfeito. Foi uma coisa extraordinária. Só tenho a agradecer”, resume o pai, que ainda se emociona ao se lembrar do episódio. Ele chegou ao HC da Unicamp com um diagnóstico assustador. Fêmur e bacia gravemente fraturados. Quadro de hemorragia interna. Pouco mais de um mês de sofrimento da família e muitas incertezas.

Amarrados

Na UTI, uma cena chamou atenção de José. Muitos internados ficavam amarrados, mas isso era um bom sinal porque mostrava que os pacientes em coma estavam tendo estímulos. “Eu queria ver o meu filho amarrado, porque sabia que ele estaria evoluindo. E quando vi ele com as mãos amarradas fiquei muito feliz. Parece estranho, mas ele estava reagindo”, contou. Foram 35 dias na UTI, até que em 30 de setembro João finalmente voltou para casa. Apesar disso, ele ainda não falava. Se comunicava através de gestos. Também não andava.

Em novembro, já falando algumas palavras, começou a sair da cama para iniciar as sessões de fisioterapia, no centro de referência Luci Montoro. “Começou indo na cadeira de rodas. Hoje ele já consegue ficar em pé”, conta com alegria a irmã mais nova, Priscila, de 19 anos, que, desde o acidente, dedica sua vida para cuidar do irmão. “Deus não faz nada sem nenhum propósito. Uniu muito a família, fortaleceu a todos”, contou José.

Toda essa união é sentida pelo jovem durante o tratamento. “A família é muito importante para mim”, contou João, que tem um sonho: voltar a trabalhar. Na última semana, a família Secafene fez questão de levar João para conhecer os oficiais do Águia que realizaram seu resgate. “Eu acho que ele só conseguiu estar aqui justamente por ter sido salvo pelo Águia”, diz o pai.

O jovem, que está apenas há duas semanas andando com auxílio de muletas, conheceu a base e o helicóptero.

Casal

A história do casal Aparecida Fátima Zacarias, de 45 anos, e Santino Medeiros Navarro, de 48, poderia ter um fim trágico no dia 1 de junho deste ano. Morador de Cabreúva, Santino saiu de casa na manhã daquela sexta-feira, em sua moto, rumo a Mogi Mirim, para visitar amigos. Mas a viagem foi interrompida no Km 130 da Rodovia D. Pedro I. Uma freada brusca de um caminhão à sua frente não permitiu que Santino parasse. Ele acabou batendo violentamente contra o veículo. “Graças a Deus foi o Águia que socorreu ele, porque, se não fosse, sabe Deus o que poderia ter acontecido. Não ia dar tempo de chegar ao hospital”, disse a mulher.

Ele foi levado para o HC da Unicamp com fraturas em quase todas as costelas, na clavícula, além de uma perna e um braço quebrados. Após quase um mês, Santino segue na UTI, mas está prestes a ser levado para um quarto. “Os médicos não acreditavam que ele estaria como está. Tenho muito a agradecer ao Águia”. Santino ainda passará por duas cirurgias e, apesar da gravidade dos ferimentos, não há indícios que ele terá sequelas. “Ele ainda será avaliado pelos médicos, mas tudo indica que ele ficará bem”, contou a mulher.


Fonte: Correio Popular