BAv/BMRS: como é a preparação dos policiais militares que sonham em atuar nos ares
27 de agosto de 2019 4min de leitura
27 de agosto de 2019 4min de leitura
Rio Grande do Sul – O Batalhão de Aviação da Brigada Militar (BM), ao lado do Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, 10 policiais militares olhavam para o alto. Observavam o voo do Koala AW119 Kx, helicóptero usado para resgates, buscas e transportes.
Com a aeronave a 20 metros do chão, desembarcariam, na sequência, dois tripulantes operacionais, numa manobra ágil de rapel. Em comum, além dos cabelos raspados e as olheiras profundas – uma evidência do treinamento extenuante –, os alunos que acompanhavam a demonstração compartilham o sonho de desempenhar o mesmo papel.
Caso os 10 consigam completar o treinamento, a BM passará a contar com o dobro de tripulantes operacionais no RS. A maior parte do curso é realizada no Litoral Norte, mas, ao longo da última semana, os policiais fizeram atividades na Capital.
Tiveram instruções de como realizar resgates em altura, embarque e desembarque, operação de imageador térmico, atendimento pré-hospitalar, imobilização e içamento de vítima.
A simulação que acompanhavam na tarde da última quinta-feira (22/08) é uma mostra das atividades para as quais precisam estar preparados.
O rapel tático, por exemplo, pode ser usado para desembarcar em áreas de difícil acesso, como rodovias ou mata fechada, onde o helicóptero não pode pousar.
Para chegar lá os alunos precisarão passar por sete semanas de treinamentos exaustivos.
— O operador pode, no mesmo dia, fazer salvamento no mar, atender assalto a banco,abordar veículo roubado. Por isso, é um curso extremamente duro, difícil, exigente. Nós não temos meio operador aerotático.
“Sou muito bom de altura, mas não sou bom atirador”. Não existe. Em assalto a banco, às vezes, ficamos três ou quatro dias dentro do mato.
Tem de estar preparado. Por isso, é testado em todas as situações à exaustão — explica o tenente-coronel Danúbio Augusto Lisboa, comandante do Batalhão Aéreo.
Não é por acaso que o soldado Luís Alberto Muniz Costa, 29 anos, de Santana do Livramento, na Fronteira Oeste, perdeu cinco quilos nas primeiras semanas.
Para alcançar o sonho, depois de uma seleção rigorosa, percorreu mais de 600 quilômetros até Capão da Canoa.
Na segunda semana, com temperaturas pouco atrativas para permanecer imerso na água gelada, viu três colegas abandonarem o curso.
Na Capital, a recompensa veio com o primeiro voo. O soldado nunca havia entrado em um helicóptero.
— É um curso difícil, tanto que alguns colegas ficaram para trás. Todo dia é uma surpresa. São situações que precisam simular a realidade — descreve o policial, que está na expectativa para o chamado “tiro embarcado”, quando os alunos aprenderão a atirar de fuzil com a aeronave em movimento.
O disparo no alto é diferente do feito no solo. O operador permanece com um dos pés para fora da aeronave, trepidando, em meio a barulho e estresse.
Precisa estar em contato com o piloto para não correr o risco de acertar a aeronave. É usado, em geral, para proteção das tropas que estão no chão.
Estar em voo, com as portas abertas, parte do corpo para fora da aeronave, portando um fuzil 556, precisa se tornar algo normal para o tripulante.
— O helicóptero tem de ser uma coisa natural para ele. Não pode se preocupar com barulho, com o vento — afirma o tenente-coronel.
As buscas a assaltantes de banco estão entre os casos mais rotineiros atendidos pelos operadores aerotáticos. Nessas situações, a aeronave é enviada para o local para dar apoio às tropas que estão no chão.
O mesmo policial que faz esse tipo de operação é o que, no verão, resgata pessoas no mar, durante a Operação Golfinho.
— Ele nunca sabe o que vai acontecer. Tem de estar preparado. Por isso, todos nós temos uma malinha em cima do armário — afirma o subcomandante do Batalhão Aéreo, tenente-coronel Luiz Henrique Genro.
O operador aerotático, selecionado por meio de concurso, é um policial militar que desempenha todas as atividades dentro da aeronave, exceto pilotar.
Estão entre as funções auxiliar pessoas no embarque e desembarque (autoridades, médicos, enfermeiros, feridos), fazer salvamento aquático, imobilizar e remover vítimas.
O tripulante precisa estar preparado para perseguições policiais e abordagens em locais de difícil acesso.
Posicionado junto a uma das portas da aeronave, também representa os olhos do piloto. Precisa orientá-lo, por exemplo, se há alguém no local onde precisa pousar.
Desde o dia 5 de agosto, o grupo treina, na Capital e no Litoral Norte, para ser habilitado como operador aerotático.
A maior parte do curso ocorre no Centro de Formação Aeropolicial (CFAer) da BM em Capão da Canoa. Serão sete semanas de preparação.
Em geral, por conta da dificuldade das provas, nem todos concluem o curso. Nesta edição, 38 se candidataram no início, mas somente 10 estão em treino atualmente, O último concurso para a função havia sido aberto em 2012.
Após a formatura, que deve ser realizada na segunda quinzena de setembro, os tripulantes habilitados serão encaminhados para unidades na Capital ou Caxias do Sul.
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