Aviação Policial – Quanto custa equipá-la
09 de abril de 2016 11min de leitura
Equipar um helicóptero policial com os recursos necessários às vezes pode ser tão caro quanto obter a própria aeronave. Jim Winchester analisa o que está envolvido na preparação de tais aeronaves para deixá-las adequadas às suas finalidades.
Os helicópteros policiais evoluíram de aeronaves militares com apenas rádios para tipos multifuncionais que são capazes de operar e comunicar-se com as agências de segurança pública através de voz e dados. Já se foram os dias em que um simples ‘Polícia’ escrito ao lado de um Bell 206 o tornasse pronto para a aviação policial.
Hoje em dia, há uma grande variedade de helicópteros, usados desde no transporte de utilidade pública até em operações de grande desempenho tecnológico, equipados de forma personalizada. Portanto, é difícil generalizar os seus interiores. Algumas agências de polícia mantêm helicópteros para o uso VIP, tais como a alemã Bundespolizei com Super Pumas, ou para o transporte de tropas, como os Mi-8s da polícia polonesa. Outros podem ser convertidos para o uso de transporte aéreo de pessoas feridas ou mesmo para o combate a incêndios, como visto com alguns Bell 212 dos departamentos de xerifes dos EUA.
CUSTOS PERSONALIZADOS
A imagem comum de helicóptero policial é, no entanto, de um monomotor ou bimotor leve para a patrulha ou vigilância, apoiando as unidades em solo na busca por criminais e na perseguição de veículos. Para estas funções, a adoção do equipamento adequado pode custar tanto quanto a fuselagem básica.
Como por exemplo, um Eurocopter AS350 B2 do Departamento de Segurança Pública (DPS) do Texas, EUA, que custou $1.5 milhões de dólares em 2008 com o mesmo valor sendo gasto em equipamentos, incluindo o Sistema Eletrônico de Instrumentos de Voo (EFIS), uma câmera de processamento de imagens termais (a unidade custou cerca de $180,000), um sistema de mapeamento, cerca de seis rádios policiais, dois rádios para aviação e um telefone via satélite. Os equipamentos nos AS350 do LAPD incluem proteção balística contra calibres 7.62mm. Uma das maiores agências de segurança pública – com 15 helicópteros e 8 aeronaves de asa fixa – o DPS possui um orçamento significante (cerca de $10.6 milhões em 2012) só para cobrir a divisão de aeronaves.
A Metro Aviation de Shreveport, em Louisiana, EUA, serve fornece atualmente os acabamentos para o DPS, enquanto a REBTech provê seu sistema de filtragem Shadows para padronizar o óculos de visão noturna (NVG) do cockpit do AS350, com verdadeiras cores de instrumento e melhor visibilidade com relação à luz do dia.
O peso cumulativo dos equipamentos internos e externos geralmente faz com que as aeronaves bimotor sejam as escolhidas. Uma forma de diminuir o peso é substituindo os diretórios de ruas e mapas por software, trabalhando em prol de cockpits sem papel. Nas aeronaves pouco espaçosas, como a família Robinson, montagens de iPad tornam-se uma adição popular e, de forma cada vez mais crescente, os softwares certificados para aviação estão disponíveis para as tabelas comerciais.
MAIS MODELOS MODESTOS
No ponto mais baixo da escala de asas rotativas para a aviação policial, o modelo policial Robinson R66 de $1.185 milhões (preço em 2015) está cerca de $330,000 mais caro e 68kg mais pesado do que um modelo Turbine padrão, mesmo antes de adicionar outros equipamentos opcionais que variam de luzes azuis intermitentes de 1.3kg custando $1,500, um sistema de anúncio público e sirene de 10.6kg a $3,100 e um sistema de navegação de 9.5 kg (preço sob consulta).
Comprado em 2010 por $2.7 milhões de dólares e registrado adequadamente como C-GAOL, o EC120B do Serviço Policial de Winnipeg, Canadá, é uma aeronave bem equipada, com a maior parte de seus recursos necessária para um helicóptero policial, incluindo um refletor SX-16 Nightsun, um sensor de visão frontal infravermelha (FLIR Ultra 8500), rádios policiais, GPS e um sistema de transmissão de imagens MRC Strata que permite que o helicóptero transmita vídeos aéreos ao vivo para a polícia ou supervisores do Corpo de Bombeiros em solo.
Um sistema de endereço público (às vezes chamado sky shouting) com uma sirene opcional é o equipamento padrão, mas deve ser usado de maneira sobressalente e cautelosa em ambientes urbanos. Não trata-se apenas de uma questão de distúrbio sonoro – em junho de 2015 foi relatado que a tripulação do C-GAOL transmitiu uma conversa de dentro do cockpit um tanto duvidosa na região de Winnipeg, levando a uma investigação interna e pedidos de desculpa das forças policiais.
SISTEMA DE NAVEGAÇÃO
Uma adição relativamente nova ao arsenal da aviação policial é o sistema de navegação digital. O equipamento, assim como o sistema de navegação e consciência situacional EuroAvionics EuroNav 5, inclui um sistema de aviso e alerta de terreno que mostra os terrenos seguros e não seguros.
Enquanto isto, o Skyforce Observer da Honeywell pode ser moldado para atender às necessidades das missões com, por exemplo, desde mapas aeronáuticos básicos à cobertura de nomes, números de casas e imagens de satélite. Este último recurso tem feito uma grande diferença, segundo as operadoras, permitindo que as unidades aéreas direcionem as patrulhas em solo para o endereço exato, sem necessitar de muita ‘explicação das direções’.
Outras unidades semelhantes têm adotado o Sistema de Realidade Aumentada (ARS) da Churchill Navigation. Com o equipamento pesando apenas 2.5kg, a empresa defende que o ARS é o sistema mais leve no mercado.
O problema com os ponteiros laser portáteis é de grande preocupação para os helicópteros policiais que, por natureza, são usados à noite e em áreas urbanas por um longo período de tempo, atraindo a atenção dos entediados, com ideias maliciosas e criminais que têm fácil acesso aos lasers brilhantes de alta potência.
As medidas para combater esta ameaça inclui filmes e coberturas de vidro e até mesmo vidros anti-laser. Os filmes nanocompósitos que atenuam os lasers transparentes foram testados e podem reduzir a bem intensidade no cockpit ao redor de 88%. Isto acontece refletindo um ou mais comprimentos de ondas, geralmente aqueles associados com lasers verdes. Estes filmes, ou pelo menos o adesivo que promove a fixação à transparência, estão sujeitas a deteriorar com a radiação ultravioleta e requerem substituição periódica, fazendo com que sejam uma solução relativamente cara.
Uma opção mais simples é o óculos anti-laser, embora precisem ser usados a todo tempo depois do laser ter emergido e ser categorizado. Os pilotos do EC120 do Serviço de Polícia de Edmonton, por exemplo, carregam dois pares de óculos – um para atenuar o laser de cor vermelha e o outro para lasers mais comuns, de cor verde.
AMEAÇAS CINÉTICAS
Em algumas áreas de policiamento, a ameaça é mais cinética. A Divisão de Suporte Aéreo do LAPD é um exemplo de força policial cujos AS350 são equipados com painéis de solo balísticos para proteger a tripulação contra balas de até 7.62mm calibres. O LifePort de Woodland, em Washington, oferece solo balístico e kits para assentos traseiros para o Bell 407. Feitos de fibra de polietileno de alto desempenho (HPPE) e aço balístico, os kits de proteção para assento e solo para o piloto e copiloto custam cerca de $54,000.
As políticas variam quanto ao uso de atiradores em helicópteros, mas é comum ter oficiais armados na África do Sul, América do Sul e nos EUA durante as perseguições de infratores perigosos. Para tais operações, é importante manter as armas apontadas para uma direção que não atinja o helicóptero ou a tripulação, se disparadas acidentalmente. O treinamento de oficiais para apontar as suas armas de fogo para o chão, durante o deslocamento para um local de incidente, é uma medida de segurança, assim como manter as prateleiras de armas fechadas com as trancas para baixo nas aeronaves que carregam armas para uso imediato.
A distribuição dos assentos nos helicópteros policiais é bem variada da mesma forma que o número dos tipos em serviço, mas o ponto de partida usado pela maioria das forças policiais é um piloto e um oficial de voo tático, que geralmente fica no assento esquerdo da frente.
Há também, muitas vezes, assentos para os treinadores, supervisores ou observadores, com monitores que permitem acompanhar o progresso da missão. Uma necessidade comum é o rádio em cada assento para que os ocupantes possam comunicar-se com aqueles fora da aeronave sem interferir com outros tripulantes. Bem como o controle do tráfego aéreo, o helicóptero policial pode precisar de comunicar-se com carros de patrulhamento, corpo de bombeiros, ambulâncias, outros helicópteros policiais e agências do estado, sem contar com sua própria base.
FUNÇÕES DE UTILIDADE PÚBLICA
Muitas agências de aviação policial operam helicópteros desempenhando funções como de transporte e utilidade pública para implantar esquadrões táticos especiais ou a busca de equipes. O Bell 212/412 e as séries MD 500/900 são exemplos disto, sendo que o último é geralmente equipado com pranchas ou escadas externas que levam as equipes SWAT a um local de incidente de curta distância.
Um exemplo de um produto comercial é o Tyler Special Operations Platform (TSOP), que está disponível para o AS350, Bell 407 e MD 500. Desenvolvido para ser instalado e removido rapidamente, o TSOP possui importantes acessórios para a segurança dos passageiros, incluindo o cinto de segurança. Populares no Canadá, Oriente Médio, África do Sul e nos EUA, tais equipamentos não são aceitos por todos os órgãos certificadores e são encontrados na Europa apenas em aeronaves militares usadas para apoiar as missões policiais.
Entre os bimotores leves, o Bell 429 tem uma cabine espaçosa, com uma superfície plana capaz de acomodar até sete assentos mais o piloto, sendo ideal para o transporte de todo um esquadrão ou uma expedição de socorro. Algumas operadoras, tais como o Departamento de Polícia de Nova Ioque, têm escolhido a opção da porta traseira em formato de concha ao lado de portas deslizantes de 60in para acelerar a saída do esquadrão tático; apesar deste não ter sido o propósito inicial, que seria para facilitar o carregamento de macas.
Embora todos esses kits cheios de recursos decorem muitos helicópteros policiais, dentro e fora, alguns importantes equipamentos de segurança não são, para a grande surpresa, utilizados universalmente. Assentos resistentes a acidentes não são mandatórios, geralmente, ou amplamente disponíveis, apesar das travas de segurança de cinco pontos serem uma opção mais comum.
No Reino Unido, e na maioria das outras jurisdições, nem gravador de voz do cockpit nem o gravador de dados de voo são mandatórios, como destacado pelo acidente do EC135 T2 da Polícia escocesa em um pub em Glasgow, em novembro de 2013. O acidente teve como consequência o pedido para que ‘caixas pretas’ sejam colocadas em todos os tipos de aeronaves de uso público. Alguns helicópteros, como o Bell 429, coleta dados através da memória do monitor, por via de regra, mas esta não é uma solução robusta, principalmente quando há incêndio após o acidente.
ESTRATÉGIAS DE AQUISIÇÃO
Na Inglaterra, com a formação do Serviço Nacional de Aviação Policial (NPAS), uma estratégia de aquisição que almeja a harmonização e o melhor custo benefício, tem levado a compras de certos equipamentos.
Um ano atrás, o serviço escolheu sistemas de câmera EO/IR estabilizados L-3 Wescam MX-10, software para missões CarteNav AIMS-ISR, monitores HD Avalex Technologies e gravadores de vídeo digitais para os EC135 T2, dos quais sete estão atualmente em serviço.
Antigamente, as escolhas dos equipamentos teriam sido feitas a um nível regional para determinadas aeronaves. A Bond Helicópteros e a Helimedia estão trabalhando para integrar este novo pacote para os sistemas de missões. Enquanto isto, os Enterprise Control Systems e Vislink estão completando o programa de atualização das Conexões de Dados Nacionais de Aviação para o Ministério do Interior e o NPAS, incluindo estações de veículos, estação de solo e 21 conexões de dados da aviação.
O problema de bloquear obsolescência está sendo tratado pela Polícia Rodoviária da Califórnia (CHP) na sua aquisição de novos H125 da Airbus Helicopters, tentando não atingir a uniformização da frota. As aeronaves estão sendo compradas em blocos de três, que serão idênticos uns aos outros, mas incorporarão e refletirão quaisquer avanços técnicos que tenham ocorrido desde a última remessa.
O último trio, por exemplo, será equipado com o farol de busca A800 Mk II TrakkaBeam Trakka Corp, o qual possui habilidades adicionais em relação ao Mk I para conectar-se ao sistema de navegação e/ou ao sensor EO/IR. A CHP também está adicionando alguns recursos personalizados, como a taxa de variação de controles cíclicos.
Os avanços tecnológicos serão sempre atrativos para as unidades de aviação da polícia, gerando mais kits e aumentando o peso da aeronave. Como consequência, os helicópteros mais poderosos serão adquiridos e os custos de aquisição e manutenção aumentarão inevitavelmente.
Com recursos já bastante escassos, os helicópteros tendem a arriscar e a assumir mais do que as suas cota-partes em orçamentos geralmente em redução, a não ser que melhores estratégias de aquisição sejam empregadas para a obtenção do melhor custo benefício possível na compra das próprias aeronaves e dos seus equipamentos com funções cada vez mais especializadas.
Fonte: Rotorhub/ Reportagem: Jim Winchester
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