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O número de “pipas” ou “papagaios” nos céus das cidades, principalmente nas áreas periféricas das metrópoles e no litoral, cresce consideravelmente nos meses de férias escolares. Muitas dessas pipas utilizam “cerol” nas linhas, uma mistura de cola com vidro moído, usado com o objetivo de cortar outras pipas, porém esta prática já lesionou e matou várias pessoas, principalmente motociclistas.
Outra variável, com o mesmo potencial ofensivo do cerol, é a “linha chilena”, que utiliza quartzo moído e óxido de alumínio e tornou-se popular no Brasil devido à facilidade de comercialização.
Mesmo com a iniciativa de alguns Estados e Municípios proibindo o uso do cerol e de produtos semelhantes, esta prática ainda é comum. No âmbito Federal o Projeto de Lei n° 402/2011 ainda tramita na Câmara dos Deputados.
Na aviação, o risco também é grande, sobretudo na aviação de Segurança Pública, por suas características de voo a baixa altura, pousos e decolagens em áreas não homologadas e exposição de tripulantes, visto que grande parte dos voos é realizado com as portas abertas.
Em São Paulo, vários helicópteros da aviação civil sofreram danos resultantes do contato de componentes com linhas de pipa com “cerol”. Pás dos rotores principal e de cauda e esquis são os principais afetados, muitas vezes chegando a “condenação” e consequente substituição.
Casos mais graves ocorreram em 1997, em Brasília-DF e 1998 em Indaiatuba-SP, resultando na morte de cinco pessoas. As duas situações foram muito semelhantes, em voos de demonstração, onde, após a descida de rapel, tripulantes realizavam um deslocamento em “McGuire” e tiveram as cordas rompidas por linhas de pipa com “cerol”.
Em 1997, a aeronave modelo Bell412, transportava três Policiais Militares que caíram de uma altura aproximada de 15 metros sobre residências, falecendo no local. No fato ocorrido em 1998, a aeronave modelo AS350 transportava dois Policiais Militares que caíram no solo de uma altura aproximada de 30 metros, falecendo em seguida.
Em ambos acidentes, a comissão investigadora encaminhou as cordas para análise no CTA– Centro Técnico Aeroespacial, onde foi constatado a presença de elementos químicos pertencentes à composição de vidros comerciais, ou seja, a composição básica de “cerol” que reveste as linhas de pipa.
Também foram realizados ensaios em laboratório, onde tracionou-se a mesma corda, até atingir a carga de 120 kg. Após a estabilização desta carga, foi passada uma linha número 10 revestida com “cerol”. Em poucos segundos, verificou-se que a linha cortou a corda com muita facilidade.
Em 2001, também em São Paulo, o Comandante de aeronave quase perdeu um dedo quando mexia na janela de mau tempo e foi atingido por uma linha de pipa com “cerol”. A aeronave era pilotada pelo copiloto, que transportou o Comandante até o Campo de Marte, onde a equipe médica do GRPAe realizou o atendimento.
Algumas Recomendações de Segurança devem ser observadas por todos aeronavegantes a fim de prevenir acidentes ocasionados por linhas de pipa com cerol, tais como:
1. Realizar minuciosa varredura visual na área onde será realizada a operação, identificando, além de obstáculos, a presença de pipas na região; e 2. Em demonstrações ou treinamentos, a altura e distância a percorrer devem ser as mínimas possíveis. Quando possível não utilizar carga viva neste tipo de situação.
b) Nas demais operações aéreas:
1. Realizar voos a baixa altura somente quando indispensável para o cumprimento da missão, não devendo aceitar riscos desnecessários; 2. Quando do voo com as portas traseiras abertas, os Tripulantes, Enfermeiros, Médicos, Mecânicos, Passageiros e outros, devem permanecer com o corpo voltado para o interior da aeronave, evitando a exposição de membros (pernas, braços e principalmente a cabeça); 3. Caso seja identificado que houve a colisão com linha de pipa e esta tenha permanecido enroscada no helicóptero, a equipe deverá aguardar a parada total do rotor para o desembarque. Nestes casos, a equipe de manutenção deve ser avisada via rádio ou através de sinais para não se aproximar da aeronave até a parada total do rotor; e 4. Quando a tripulação dispuser de capacetes, utilizá-lo sempre com as viseiras abaixadas.
O Autor é Capitão da Polícia Militar de São Paulo, Piloto de Helicóptero, Oficial de Segurança de Voo e Especialista em Segurança de Aviação e Aeronavegabilidade Continuada.
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