As origens do resgate aeromédico e como surgiu em São Paulo
09 de maio de 2010 10min de leitura
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1. Histórico do resgate aeromédico
A utilização das aeronaves em missão de resgate aeromédico não é coisa tão recente como se pensa. Em 1870 durante a Guerra franco-prussiana, são relatados os primeiros casos de transporte aeromédico, onde 160 feridos foram resgatados por balões de ar quente.
Durante a Primeira Guerra Mundial, os rudimentares aviões existentes já eram utilizados para transportar médicos, equipamentos e remédios, o transporte de doentes e feridos estava limitado somente aos casos extremos, já que a acomodação disponível era muito restrita. Em 1920 foram utilizadas aeronaves na campanha das Ilhas Somália.
Com a ocorrência da Segunda Guerra Mundial, a tecnologia aeronáutica já estava em grande desenvolvimento, com o aumento do espaço interno dos aviões, os americanos desenvolveram um verdadeiro hospital aéreo.
Apesar deste avanço, só era possível atender os doentes e feridos ou transportá-los para os grandes centros de atendimento, a partir de bases ou aeroportos improvisados. Estima-se que foram assistidos mais de um milhão de soldados pelos diversos serviços de resgate e transporte aeromédico durante a Segunda Guerra Mundial (Canetti et al, 1994).
Em 1946, Arthur Yong (Bells Helicopters Company) idealizou um helicóptero com motor convencional à explosão, movido a gasolina (modelo 47), o qual recebeu a primeira licença para operar nos EUA. Entretanto, em 1950 durante a guerra da Coréia, o uso do helicóptero obteve seu maior sucesso transportando mais de 20.000 militares feridos (Smith, 1962). Na guerra do Vietnã este número aumentou para mais de 370.000 soldados.
Apesar do aumento do potencial balístico dos armamentos, o decréscimo nas taxas de mortalidade em 5,8% nos feridos de guerra na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), 2,4% na Guerra da Coréia (1950-1953) e 1,7% no Vietnã (1964-1975), pode ser explicado pela rapidez no atendimento médico.
Nos EUA, em 1972, a National Highway Transport Safety Administration (NHTSA) publicou o trabalho “Helicopters and Emergency Medical Services: NHUSA Experiente to Date”, documentando o resultado de vários projetos de resgate aeromédico por helicópteros. A partir deste artigo, este tipo de transporte foi bastante difundido e incorporado a vários serviços de emergência (Emergency Medical Services – EMS).
Em 1973 no Anthony’s Hospital, na Cidade de Denver, foi iniciado com sucesso o primeiro serviço aeromédico associado a um centro de trauma. Desde então o uso de helicópteros aumentou consideravelmente.
Até hoje os esquadrões de saúde das forças armadas americanas trabalham de forma similar, porém com equipamentos mais sofisticados.
No Brasil, o serviço de busca e salvamento foi oficialmente criado em dezembro de 1950, pela Força Aérea Brasileira com o nome de Search and Rescue (SAR).
A Polícia Militar do Estado de São Paulo iniciou o emprego de aeronaves através do GRPAe, a partir de 15 de agosto de 1984 e o Projeto Resgate teve início em São Paulo no ano de 1989, no Rio de Janeiro desde 1988 e em Minas Gerais desde 1986 (Rodrigues, 1987).
2. Histórico do resgate no Estado de São Paulo
O primeiro serviço de socorro médico de urgência, provido pelo Estado, na cidade de São Paulo, remonta a 1893, quando médicos do serviço legal da Polícia Civil do Estado passaram a atender as emergências da cidade. Com o crescimento da cidade, em 1924, criou-se o Posto Médico da Assistência Policial. Em 1950, o governo do Estado passa para o município a responsabilidade do atendimento de urgência, que assume o Pronto-Socorro de pacientes e que tinha como retaguarda alguns hospitais.
Como existiam pronto-socorros isolados, sem retaguarda hospitalar percebeu-se a necessidade de um sistema de remoção de pacientes para internação. Em 1956, foi instalado o primeiro PABX para atender às necessidades de remoção dos pronto-socorros municipais e também as solicitações da população em situações de urgência e emergência.
Nesta época era realizada uma triagem e, dependendo da ocorrência, enviava-se uma ambulância, sem equipamentos específicos, para o local do chamado e tripulada por equipe sem habilidades para o atendimento extra- hospitalar, que além de desenvolverem suas atividades no plantão do pronto-socorro, cumpriam uma escala para eventuais saídas (AZEVEDO, 2002).
Este serviço, ao longo dos anos, passou por uma série de mudanças, sendo criada uma Central de Comunicações (CECOM). Esta Central controlava as vagas hospitalares, recebia as solicitações de serviços de emergência feitas pela população, através de ligações telefônicas pagas, e encaminhava para o pronto-socorro ou hospital mais próximo (AZEVEDO, 2002).
Em março de 1980, a Central passou a atender, por telefone, através dos dígitos 192, tornando-se o órgão centralizador do processo de comunicação. Em 1986, com acordo firmado entre o Governo Municipal e Federação dos Municípios Canadenses (Toronto), foi possível priorizar a organização do Sistema de Emergência Pré-Hospitalar, com incremento do serviço de comunicação de emergência, treinamento de pessoal e planejamento do atendimento em casos de catástrofes e acidentes de grandes proporções.
Até a década de 80, a ausência de diretrizes nacionais para a área de emergência, particularmente de APH (atendimeto pré-hospitalar), fez com que alguns estados criassem seus serviços, sem uma linha de orientação e de normatização. Surgiram assim, diferentes modelos no setor público e privado, em sua maioria com deficiências técnicas (BRASIL, 2001a).
O surgimento do Atendimento Pré-Hostitalar
O marco inicial do APH em São Paulo foi em 1981, quando um grupo de médicos do Pronto Socorro do Hospital das Clínicas, preocupados com o número crescente de vítimas com traumas sendo atendidos no ambiente de pronto-socorro, decidiram desenvolver um grupo de estudos, visando a melhoria do atendimento pré-hospitalar às vítimas de acidentes. Resultou assim, na criação da Comissão de Recursos Assistenciais de Pronto Socorro — CRAPS, com a participação de inúmeros órgãos ligados ao atendimento de vítimas, Corpo de Bombeiros, Polícia Militar e Secretarias de Saúde.
Em 15 de setembro de 1983, o então Secretário do Estado da Saúde Dr. João Yunes, oficializou o CRAPS para a Grande São Paulo, sob a coordenação do Dr. Roberto Yukihiro Morimoto (Resolução SS 47), cujos objetivos principais seriam regionalizar o atendimento aos pacientes politraumatizados na Grande São Paulo, estudar e propor um padrão mínimo de pronto-socorro e de ambulâncias.
Em 1986, a Polícia Militar do Estado de São Paulo enviou um grupo composto por cinco Oficiais do Corpo de Bombeiros à Cidade de Chicago, nos EUA, onde realizaram um Curso de Técnico em Emergências Médicas. Após o encerramento do curso, foi proposta uma reformulação na instrução de primeiros socorros ministrada ao efetivo do Corpo de Bombeiros e ampliação dos serviços de Salvamento e Resgate com pessoal especializado para o atendimento e transporte das vítimas de acidentes.
Em 13 de julho de 1988, o então Secretário do Estado da Saúde, Professor Dr. José Aristodemo Pinotti, constituiu o GEPRO/EMERGÊNCIA (Grupo Especial de Programas de Emergência), cujo objetivo era o de desenvolver, implementar e fiscalizar o programa de emergência do Estado.
A criação do Sistema de Atendimento Médico de Urgência – SAMU
Em 22 de maio de 1989, através da resolução conjunta SS-SSP 042 de 22/05/89, assinada entre a Secretaria de Estado da Saúde (Sistema de Atendimento Médico de Urgência – SAMU –SP) e a Secretaria da Segurança Pública, através do Corpo de Bombeiros e Grupamento de Radiopatrulha Aéreo (GRPAe), teve origem o Projeto Resgate.
Foram então traçados os objetivos a serem alcançados, a definição das missões de cada membro integrante do sistema, as responsabilidades sobre o atendimento pré-hospitalar, centro de comunicações, protocolos de procedimentos e de atendimento.
Estas duas Secretarias Estaduais, de Segurança Pública e Saúde, selaram esta integração, culminando na criação da Comissão de Atendimento Médico às Emergências do Estado de São Paulo (CAMEESP), que elaborou uma proposta para o desenvolvimento do projeto piloto de atendimento pré-hospitalar denominado de “PROJETO RESGATE”.
O Serviço teve início efetivamente em 1990, com atuação na Grande São Paulo e em 14 municípios do Estado, sendo empregadas 36 Unidades de Resgate, duas Unidades de Suporte Avançado e um helicóptero. Este projeto inicial foi se expandindo por todo o Estado, aumentando o número de viaturas e de pessoal, até que em 10 de março de 1994, através do Decreto no 38.432/94, o Serviço de Resgate (Decreto Nº 58.931/13) foi consolidado e sua operacionalização atribuída exclusivamente à Polícia Militar do Estado de São Paulo, por intermédio do Corpo de Bombeiros e do Grupamento de Radiopatrulha Aérea (São Paulo, 1987; Carchedi, 1988; Martini, 1989; São Paulo, 1989b; Alves Junior, 1995; Wilke, 1995).
Também a partir de 1990, firmou-se acordo de cooperação entre a Secretaria Estadual de Saúde do Estado de São Paulo e o SAMU da França para o aprimoramento técnico das equipes e auxílio na implantação do APH em São Paulo, quando se iniciou intercâmbio e estágios técnicos de profissionais de ambos os serviços.
Em 1998, o Projeto Resgate espalhou-se para todo o Estado de São Paulo, e neste ano foram atendidas 140.000 ocorrências, com 200 viaturas de suporte básico e três de suporte avançadas sendo duas terrestres e uma aérea (GONÇALVES; RODRIGUES, 2001; OLIVEIRA PAROLIN; TEIXEIRA JR., 2002).
Nos dias de hoje
Atualmente na cidade de São Paulo existem dois serviços públicos que operacionalizam o atendimento pré-hospitalar (APH), sendo um estadual (Resgate) e outro do município (SAMU).
O acionamento do Resgate é feito pelo telefone 193, Central de Operações do Corpo de Bombeiros (COBOM), cabendo ao médico regulador e ao oficial de operações, por meio das informações recebidas, despacharem a viatura adequada. Devem também indicar o melhor recurso hospitalar para cada tipo de atendimento, de acordo com a regionalização e hierarquização dos hospitais normatizados pelo Plantão Controlador Metropolitano (PCM) da Grande São Paulo (SÃO PAULO, s.d.), que em conjunto com a Central de Vagas formam o Sistema de Regulação Metropolitano (SRM), vinculado à Coordenadoria estadual de Saúde da Região Metropolitana da Grande São Paulo.
O SAMU municipal é acionado pelo telefone 192, CECOM e se destina preferencialmente ao atendimento de pacientes clínicos, mas faz parte de um sistema federal mais abrangente.
Estes dois sistemas apresentam alguns problemas, como a falta de uma instância única de triagem e regulação de meios, para que possam garantir a integração entre o sistema de resgate (193), o sistema de atendimento pré-hospitalar da Prefeitura de São Paulo (SAMU – 192), e o Plantão Controlador Metropolitano. Também a distribuição das viaturas e recursos técnicos e de pessoal é deficiente e não integrada, o que resulta em multiplicidade em algumas regiões, deixando outras descobertas.
Atualmente, estes dois serviços já iniciaram uma aproximação operacional e técnica, apontando para uma integração futura.
Desde a implantação do resgate aeromédico no Grupamento de Radiopatrulha Aérea já foram atendidos mais de 6.500 resgates aeromédicos e transportes inter-hospitalares. O GRPAe, desde sua inauguração, em 15 de agosto de 1984, já atendeu mais de 155.000 missões e voou mais de 75.ooo horas (dados até 2009). Atualmente o GRPAe possui um efetivo de 10 médicos e 10 enfermeiros.
O serviço de resgate aeromédico, desenvolvido pelo GRPAe, visa atender todos os Municípios do Estado de São Paulo, sendo a Região Metropolitana da Capital a principal área de atuação.
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