Águia de São José dos Campos resgata vítimas picadas por abelhas em Paraibuna
05 de julho de 2016 7min de leitura
05 de julho de 2016 7min de leitura
São Paulo – Na tarde do dia 02 de julho (sábado), a equipe de voo do Águia 11, da Base de Radiopatrulha Aérea de São José dos Campos, foi acionada para apoiar o Corpo de Bombeiros no atendimento de uma ocorrência de Salvamento Terrestre no Morro do Remédio no município de Paraibuna, interior de São Paulo.
Duas pessoas que faziam uma trilha em uma área de mata no Morro do Remédio foram atacadas por abelhas. Uma vítima entrou em choque anafilático devido às picadas de abelhas. O salvamento durou aproximadamente 8 horas e foi realizado em duas etapas, sendo a vítima de maior gravidade retirada com o auxilio da aeronave e a segunda vítima por uma equipe terrestre que foi montada por bombeiros, tripulantes e guias da região.
Graças ao empenho de todos os envolvidos, inclusive da segunda vítima, que deu o primeiro atendimento ao seu amigo e acionou o Corpo de Bombeiros, a missão foi cumprida com sucesso!
Segue abaixo o relato de Luiz Antonio Gambá (Extremos.com.br) sobre o ocorrido durante a trilha no Morro do Remédio em Paraibuna:
“Eu e um amigo, Pedro de Toledo Piza, estávamos de quadriciclo em uma trilha de acesso ao Morro do Remédio, descemos dos quadriciclos a fim de visitar um mirante e no retorno, ainda a pé, fomos atacados por um grande enxame de abelhas africanizadas. O zunido da colônia era ensurdecedor e começamos a sofrer ferroadas por todo o corpo. Sabendo que o Pedro era alérgico às abelhas, me coloquei na frente dele a fim de desviar a atenção do enxame – apesar do esforço, as abelhas se concentraram mais no Pedro do que em mim.
Em casos graves de ataques de abelhas, as pessoas se desesperam, as ferroadas são doloridas e a colônia pode perseguir uma pessoa por bastante tempo. Da mesma forma, o Pedro já desesperado com tantas picadas se jogou de um barranco a fim de se livrar dos animais e eu fiz o mesmo a fim de tentar acudi-lo.
Foram muitas picadas, muita dor e um certo pânico pela insistência das abelhas em nos rodear. Sempre carrego na minha mochila equipamentos de segurança e de primeiros socorros e pensei em como poderia utilizar meus equipamentos para dispersar o enxame. No meu kit de primeiros socorros carrego um sinalizador de fumaça e um sinalizador de fogo, ao disparar o sinalizador de fumaça as abelhas começaram a se dispersar, mas só nos livramos delas quando acendi o sinalizador de fogo em folhas verdes da mata, que gerou mais fumaça.
Após ter me livrado das abelhas, fui checar o estado do Pedro, ele estava bastante debilitado, com a adrenalina baixa, teve náuseas, vômitos, desmaios e convulsões. Ministrei um antialérgico americano que tinha no meu kit e chamei por socorro pelo telefone via satélite (SPOT Global Phone) e pelo SPOT GEN3, já que na área os telefones não tinham sinal de rede.
Neste intervalo, durante a árdua espera que ocorre em qualquer resgate, preparei a injeção de epinefrina, caso o Pedro piorasse o quadro de reação alérgica às toxinas das abelhas. Ele havia sido ferroado por em média 300 abelhas e eu por 200.
Em ligação ao Corpo de Bombeiros passei a coordenada geográfica de onde estávamos e expliquei a situação em que eu e o Pedro nos encontrávamos. Depois de 30 minutos um helicóptero do águia sobrevoou a região e certeiramente nos achou. Eu também havia pendurado uma jaqueta laranja na copa de uma árvore para facilitar o nosso encontro com o resgate. A prioridade era o Pedro e com bastante agilidade e competência dos bombeiros ele foi içado pelo helicóptero até uma estrada próxima do local onde estávamos. Quando percebi que o Pedro estava em segurança, senti todo o peso da minha debilidade e desmaiei.
As próximas partes deste relato é a coletânea do que ouvi por parte dos meus “resgatistas”.
Não pude ser resgatado pelo helicóptero porque o sol já havia se colocado, tive que esperar o resgate em solo, tentei andar para facilitar o resgate, mas tive sucesso somente nos 15 primeiros metros. Desmaiei novamente e estava muito fraco. Fui colocado em uma maca rígida e os bombeiros e policiais me carregaram até a estrada de acesso onde o Pedro também havia sido levado. Fomos encaminhados ao Hospital da Vila Industrial de São José dos Campos, onde recebi cuidados e medicação.
Como o Pedro havia sido mais picado que eu, eu mesmo removi cerca de 60 ferrões de seu rosto, os braços foram inteiramente picados e a cabeça também. Removi muitos ferrões do meu corpo e minha namorada Fernanda removeu outros 30 ferrões somente da minha cabeça.
Apesar de ser um animal tão pequeno, as abelhas apresentam vantagem na força do enxame. O ataque é coordenado e certeiro, não há muitas opções de defesa.
Felizmente, os equipamentos que sempre carrego comigo salvaram duas vidas. Não gostaria de pensar no que poderia ter acontecido caso não tivesse bons equipamentos e alguns medicamentos estratégicos para esta situação.
Há dois ano fiz um curso de primeiros socorros na WFR NOLS WMI e desde então encaro com mais seriedade qualquer atividade ao ar livre. Muitas vezes pode parecer incômodo carregar mais peso, ter mais volume na mochila e ter que escolher entre mais uma jaqueta fleece ou um peso a mais do kit de primeiros socorros, GPS, telefone satelital entre outros equipamentos, mas é isso que faz a diferença em momentos críticos.
Alguns equipamentos de segurança são vistos como caros, mas nada se compara ao valor de uma vida, ao valor da responsabilidade em levar e trazer de volta amigos e familiares em segurança de atividades outdoor! Algumas pessoas calculam as vantagens em adquirir alguns equipamentos com o seguinte raciocínio: “Isso custa relativamente caro, mas vou usar muito, então compro. Isso custa relativamente caro, mas vou usar pouco, então não compensa e não compro!” O raciocínio para aquisição de equipamentos de segurança não pode se encaixar no pensamento acima. Fique feliz em adquirir um equipamento relativamente caro e nunca usá-lo, mas caso precise, você terá pagado um valor irrisório frente ao problema que você vai conseguir se livrar!”
“Aos que leem esse relato, deixo um conselho: Nunca, nunca subestimem estar ao ar livre, respeito e postura em meio á natureza é fundamental, inclusive aos pequenos animais. Invista recursos em equipamentos de segurança, planeje suas atividades e questione as pessoas que te acompanham sobre suas implicações de saúde como fiz e já tinha conhecimento da situação do meu amigo. Avise as pessoas de contato aonde vai, por onde, e que horas estará de volta. Faça suas atividades com pessoas treinadas e de confiança. Atividade esportiva outdoor não combina com drogas, bebidas, distração e despreparo. Seja responsável por si e pelos que te acompanham.
Finalizando por aqui, quero expressar meu mais sincero agradecimento as pessoas que nos socorreram. Nosso muito obrigado ao amigo Ten. Cel. Valdir Pavão do COBOM SP, aos pilotos, médico Dr. Diego Blanco e tripulantes do Helicóptero Águia da Base PM de São José dos Campos (CPI-1) CB PM Jackson e SD PM Ferreira, aos nobres bombeiros da Base Sul do 11º GB em São José dos Campos, à querida família do Sr. Vicente do Aniba e aos amigos Paraibunenses Rafael Preto e Miguelzinho.
Já em casa, Pedro pretende voltar a fazer outras atividades outdoor com Gambá, pois tem a confiança nítida que seu amigo empenhou todos os esforços necessários para salvar a sua vida: “O Gambá teve presença de espírito, coragem e companheirismo. Soube raciocinar e fazer a coisa certa na hora certa. A cadeia de ações no momento do pânico foi rigorosamente obedecida e ele agiu como um bombeiro militar. Foi direto, claro, sério, lúcido e responsável. Posso dizer que não tenho receio nenhum de voltar a sair com ele e que farei os mesmos treinamentos dele para um dia, se preciso, saber auxiliar alguém em situação de risco. Ganhei mais um irmão que me deu uma nova data de aniversário.” afirmou Pedro Piza.
Com informações de Extremos, com textos de Fernanda Abra e Luiz Antonio Gambá.
Enviar comentário