NÁDIA TEBICHERANE

Quarta-feira à tarde. Os bombeiros saíram exaustos da favela que ainda ardia em chamas. O céu estava cinza, o dia estava cinza… Os caminhões retornavam ao quartel. A menor unidade dos bombeiros, uma UR 25, foi a última a deixar a área do incêndio. As ruas ainda estavam cheias de gente. Pessoas que não sabiam pra onde ir, o que fazer. Uma grande desolação. Já no final da grande avenida, uma jovem franzina, grávida e muito assustada fez sinal para a viatura e foi caminhando para o meio da rua.

O tenente e o capitão pararam o veículo e sem trocar palavras caminharam em direção à jovem. Muito fraca ela murmurou:

– Meu filho vai nascer…

O capitão segura a moça no colo enquanto sente o líquido quente da bolsa estourada molhar suas roupas. Rapidamente, ele a acomoda numa das macas na parte de trás da viatura. Olha bem pra ela e pergunta:

– Qual é o seu nome?

– Joana – ela respondeu num fio de voz.

– Joana, meu nome é Ismael. Você estava na favela que incendiou?

Ela gesticulou positivamente com a cabeça e de repente gritou, empalidecendo.

O capitão Ismael fechou os olhos e buscou no seu espírito e na sua fé o equilíbrio necessário para lidar com aquela situação. Examinou a moça e viu que o bebê já estava bem baixo. Segurou as mãos dela e disse:

– Joana, eu vou fazer o seu parto. Você precisa me ajudar. Na próxima contração faça bastante força.Seu filho está quase nascendo.

De olhos fechados ela respondeu:

– Vou fazer. Obrigada.

Enquanto falavam, o tenente tentava controlar uma pequena multidão que ia circulando a viatura.

Alguns minutos depois, Joana suava frio e reunia forças para uma nova contração. A onda de dor intensa percorreu seu corpo e ela pediu a Deus que fosse a última, pois não agüentaria mais uma. Ismael viu a cabeça da criança sair e com todo cuidado foi ajudando na passagem do pequeno corpo que era expulso em meio a sangue, água e dor.

Quando o bebê finalmente chorou, todas as pessoas aplaudiram, gritaram, deram vivas… Ismael olhava emocionado aqueles rostos, aqueles olhos…Aquelas pessoas tinham visto suas casas, seus pertences e várias vidas serem levadas pelo fogo. Ainda assim, estavam ali sorrindo, aplaudindo como se estivessem assistindo a um lindo espetáculo.

Era o milagre eterno que ainda tem o poder de encher de esperanças o mundo, os corações…Era o show da vida que não pode nunca parar…