SUZANA FONSECA

Em frente ao helicóptero Águia da Polícia Militar (PM), na Base do Grupamento de Radiopatrulha Aérea de Praia Grande (GRPAe), 30 cabeças perfiladas se dividem em dois grupos.

Olhos e ouvidos estão atentos às instruções. A primeira turma do curso de Tripulante Operacional a se formar na Cidade tem até o dia 18 de dezembro para se tornar os “Olhos do Águia”.

Os 30 “aspiras” da primeira turma do curso de Tripulante Operacional a se formar em Praia Grande se preparam em aulas teóricas, em frente ao helicóptero Águia da PM, com olhos e ouvidos atentos às instruções

A cada um dos “aspiras”, depois de formado, caberá indicar ao piloto como chegar às ocorrências de forma mais rápida e segura. Também competirá a eles, do alto, auxiliar a PM nas operações, assim como ocorreu nos confrontos da polícia do Rio de Janeiro com os traficantes dos morros na última semana, quando foram usadas aeronaves.

“A demanda do uso do helicóptero Águia tem aumentado muito nesses anos”, destaca o coordenador do curso, capitão PM Adriani José de Souza. “O planejamento do Comando da Polícia Militar é expandir a utilização de helicópteros no Estado e cada grande região, que chamamos de CPI – Comando de Policiamento do Interior – deverá ter um”, completa Adriani, que também é comandante de aeronave.

Os tripulantes formados em Praia Grande irão atuar nas bases inauguradas em 2009 e este ano, no Interior do Estado –Presidente Prudente, Sorocaba, São José do Rio Preto e Piracicaba. A escolha da base de Praia Grande para o curso – antes ministrado na Capital – se deu por conta do tamanho de sua estrutura. “Não existe, no Estado, uma base com uma estrutura física tão grande quanto a do Litoral”, afirma Adriani.

A base de São Paulo só é maior porque possui dois hangares, enquanto a de Praia Grande tem um. A proximidade do mar e da serra também auxilia na parte prática, assim como a estrutura urbana de policiamento.

COMPETÊNCIA

“O bom tripulante é aquele que transmite segurança e confiança para o piloto”

A bordo do helicóptero, o tripulante tem duas funções: atua como navegador e observador. Como navegador, auxilia o comandante da aeronave no deslocamento do Águia até o local da ocorrência. Como observador, é o segurança da aeronave e fica sempre à esquerda, no banco de trás. “Quando o Águia está em uma ocorrência policial, vai sempre fazer curva para a esquerda, porque, no banco de trás, à esquerda, está o segurança da aeronave, o observador”, contao coordenador do curso.

“Ele vai passar todas as informações, como: “o indivíduo entrou no mato, se escondeu”. É o observador que determina, orienta o piloto para onde a aeronave tem que se deslocar”.

Os aspiras também aprendem o que se chama de fraseologia operacional padrão: falar pouco e informar muito. “Não podemos ficar conversando na cabine. Uma coisa muito importante no tripulante é ele não poluir a comunicação dentro da aeronave. Porque se ele fala frases desnecessárias, a fonia fica poluída, e trabalhamos com quatro rádios dentro do helicóptero”, pondera Adriani. “Quem está na cabine tem que falar pouco, para poder ouvir o policial que fica embaixo; temos que dar prioridade para a fonia dele.

“O bom piloto é aquele que faz exatamente o que a gente pede para ele fazer”

E o pouco que o tripulante fala tem que representar muito”, diz o coordenador. Os alunos ainda estão em sala de aula, aprendendo a teoria, informa Adriani. “Quem ministra essa aula é um tripulante experiente. Precisa ter experiência mínima de dez anos de voo”. O tripulante em questão é Edmar Félix Ambrósio, que já atuou em Praia Grande.

De acordo com Edmar, o grupo, cuja média de idade é 25 anos, está bem preparado fisicamente e coeso. “Ensinamos a parte prática de lidar com armamentos e equipamentos de salvamento e algumas técnicas de policiamento aéreo”, relata o tripulante instrutor. Após aprender a teoria, os 30 “aspiras” deverão ir para a prática: posicionar a aeronave, executar a retirada de vítimas de um local de difícil acesso e navegar no policiamento urbano. “Todas essas etapas serão avaliadas”, adverte Adriani. “Temos que avaliar o desempenho técnico deles”.

SALVAMENTO

O Águia não faz só voo policial. Outra função do tripulante – que vai ser bastante desempenhada durante a Operação Verão na região – é o de lançador. Nesse caso, ele vai sentado no meio do banco de trás do helicóptero. “Num voo de salvamento, nas portas vão dois guardas-vidas do Corpo de Bombeiros, treinados por nós”, explica o coordenador do curso, capitão PM Adriani José de Souza. “O tripulante lançador é o responsável por colocar os guarda-vidas no esqui da aeronave”

ELA É A NÚMERO 1

A número 1

A “número 1” do curso de Tripulantes do Grupamento de Radiopatrulha Aérea de Praia Grande é a mais experiente do grupo. E a única mulher.

Há 14 anos na Polícia Militar, a 2º SGT PM Carla Cristina Martins da Silva Souza, de 33 anos, tem um currículo de dar inveja: entrou na corporação em 1986, pelo Corpo de Bombeiros. De lá para cá, fez o curso de Direito e, depois, Educação Física. “Agora, apareceu essa oportunidade de fazer o curso de Tripulante Operacional, para trabalhar na base de Presidente Prudente, que é a região onde moro”, conta Carla, que parece ter no sangue a vocação para a profissão que escolheu.

“A família inteira é bombeiro: meu pai, era bombeiro – hoje, está aposentado; eu casei com um bombeiro; minha irmã mais nova é bombeira e o esposo dela também; o irmão do meu marido é bombeiro.

Dá para montarmos uma guarnição”, brinca. Na avaliação da “número 1”, o curso de Tripulante Operacional representa um “avançado” dos conhecimentos que já possui.

“Ele é o apoio. Chega um momento em que o bombeiro e o policiamento pedem o apoio da aeronave”, ressalta. “Essa é mais uma forma de crescer profissionalmente. E, graças a Deus, tive a oportunidade de chegar até aqui”

TREINAMENTO COM CONHECIMENTO E SEGURANÇA

“Na vida, quanto mais se vive, mais se aprende. Na aviação, quanto mais se aprende, mais se vive”.

No Águia 03 a Tripulante Operacional e Enfermeira, Sd PM Roseli

A frase, de Alberto Bertelli, considerado um dos maiores acrobatas civis do País e bastante conhecida por pilotos e tripulantes da Polícia Militar, pode ser encontrada afixada na parede de um dos corredores da base do Grupamento de Radiopatrulha Aérea (GRPAe) de Praia Grande. E chama a atenção para dois itens fundamentais para quem trabalha no ar: conhecimento e segurança.

Por conta disso, a formação teórica do curso de tripulante operacional inclui aulas de Segurança Operacional e NavegaçãoAérea. Na primeira disciplina, são 13 horas/aula e na segunda, 14horas/aula. A importante missão de ensinar as duas disciplinas aos “aspiras” cabe ao capitão PM Alexandre Gallo Rodrigues, piloto da Base do GRPAe.

“Na Segurança Operacional, eles vão ter doutrinas e conceitos da parte que trata da prevenção de acidentes”. “Tirando a parte de técnica de policiamento aéreo e de procedimento operacional, essa é outra matéria que tem uma carga horária grande, porque envolve a área de prevenção de acidentes”, destaca o piloto.

“Esse item é muito importante para a nossa operação”. A disciplina ainda inclui a participação no I Ciclo de Palestras de Segurança Operacional, que será realizado no dia 2 de dezembro em SãoPaulo, no auditório do Parque de Material Aeronáutico( Pama).

Já a Navegação Aérea habilita os futuros tripulantes a auxiliar o piloto a levar a aeronave até o local da ocorrência, segundo Gallo Rodrigues. “Eles vão ter uma noção de toda navegação na parte de cartas, mapas e guia de rua, que é nossa principal ferramenta de navegação”. “Temos GPS na aeronave mas como nossa navegação é visual, usamos referências visuais: uma rua, uma praça, um prédio”, resume o piloto.


Fonte: matéria de SUZANA FONSECA. Edição do dia 28/11/10, fl. A-13,  do Jornal A Tribuna, de Santos.
Fotos: Adalberto Marques –  A Tribuna.