Portugal – Os quatro helicópteros Kamov que este ano não deverão estar disponíveis durante a fase Charlie – a mais crítica para os fogos florestais e que começa já na quarta-feira – podem comprometer a resposta aos incêndios.

“É preocupante. O dispositivo de combate, o maior já preparado, foi pensado para fazer face às necessidades detectadas no terreno”, explica o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP), Jaime Soares. “Se em vez de 49 aeronaves disponíveis temos 45, há meios a menos”, avisa, explicando que os meios aéreos estão preparados para atuar em zonas específicas, nomeadamente as de difícil acesso por via terrestre.

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Kamov ‘não são confiáveis’

A questão, considera ainda Jaime Soares, não é os Kamov não estarem operacionais, mas a própria redução dos meios complementares. “Não sabemos se o único Kamov que resta irá ou não funcionar depois de uma operação. São meios pouco confiáveis, que exigem uma grande especialização e que têm custos de manutenção elevadíssimos. E estiveram mais de 1.200 horas parados”, refere.

O responsável vai mais longe, defendendo que estes helicópteros, comprados pelo Estado português à Rússia há oito anos, deveriam ser trocados por outros, com a mesma capacidade mas mais rápidos. E que não tenham custos de manutenção “tão exagerados”.

Aliás, e segundo noticiou o SOL no início deste mês, foram mais de 200 as desconformidades detectadas nos Kamov, numa auditoria realizada pela empresa vencedora da licitação para a sua manutenção. Fontes do setor estimaram então que ter as aeronaves funcionando em condições de segurança custaria quatro milhões de euros.

Num ano em que a GNR registou já quase nove mil ocorrências de incêndio (8.955, mais 4.574, que em período homólogo de 2014), “todos os meios fazem falta”, sublinha o responsável da LBP. Continua por esclarecer, porém, se os Kamov estarão operacionais a tempo.

Caso isso não aconteça, o Ministério da Administração Interna (MAI) admite recorrer a meios externos. O MAI “está empenhado na eventual contratação de meios adicionais considerados, do ponto de vista operacional, necessários para substituir os que estiverem em falta”, anunciou no Parlamento, na quarta-feira, a ministra Anabela Rodrigues.

O MAI já tinha admitido a possibilidade de nenhum dos meios avariados estar operacional ainda este Verão, tendo aberto um inquérito:  “O MAI está empenhado no apuramento total das responsabilidades através do inquérito que foi determinado à Inspecção-geral da Administração Interna (IGAI)”, insistiu a ministra.

Cabe agora à Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC), que adjudicou recentemente a manutenção dos seus meios aéreos à Everjets, “recuperar as aeronaves para que possam integrar o mais rapidamente possível o dispositivo de combate a incêndios florestais”, acrescentou ainda Anabela Rodrigues.

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Proteção Civil tranquila

Ao SOL, fonte oficial da ANPC assegura que a falta destes helicópteros não colocará em risco a defesa contra os incêndios este Verão. “A ‘geometria flexível’ que caracteriza o Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais (DECIF) dá-nos confiança e tranquilidade quanto à capacidade de respondermos com eficiência e eficácia às exigências das situações operacionais”, garante.

Em termos de meios aéreos, o DECIF contempla este ano, tanto para ataque inicial como ampliado (quando o fogo já se propagou), seis aviões bombardeiros médios, dois bombardeiros pesados (Canadair), 28 helicópteros bombardeiros ligeiros (Esquilo), oito helicópteros bombardeiros médios (Bell 212 ou equivalente) e um helicóptero bombardeiro pesado Kamov (uma vez que quatro não estão operacionais). Destes meios aéreos, são propriedade do Estado os Kamov e os Ecureil, sendo os demais alugados.

Fonte da ANPC sublinha que os meios aéreos não são a única linha de combate aos incêndios: “Há toda uma outra panóplia de meios, sejam terrestres sejam outras aeronaves, que concorrem e capacitam o DECIF para poder dar uma resposta cabal às exigências do combate aos incêndios florestai”.

Fonte: SOL, por Sonia Balasteiro.