A profissão de quem escolheu trabalhar nas alturas
23 de agosto de 2016 9min de leitura
23 de agosto de 2016 9min de leitura
O que leva uma pessoa a escolher trabalhar nas alturas? Os entrevistados responderam “paixão por voar” e essa paixão vem de muito cedo. Uns se apaixonaram desde os seis anos de idade, outros já trazem a paixão no sangue.
O Bruno Henning de Jesus, de 19 anos, procurou a escola de aviação civil Flyasa para ajudá-lo a chegar mais perto do sonho de ser piloto. “Eu não sabia muito da profissão e achava que era um negócio muito distante, muito difícil. Então, resolvi pesquisar para saber por quais meios eu iria conseguir ingressar no mercado. Vi que precisava começar fazendo o curso básico e depois de piloto comercial e assim prosseguir uma carreira de acordo com a minha intenção”, explicou.
Antes da aviação, Bruno queria ser jogador de futebol. Mas, após participar de um voo comercial e entrar no avião o interesse dele cresceu. “Hoje não me vejo em outra profissão. Depois que eu entrei para a aviação o gosto só foi aumentando”.
Por ser um curso caro, o piloto e instrutor de voo Rolffe Erbe explicou ao Circuito Mato Grosso que o primeiro desafio dos alunos é a questão financeira. “É o fator que mais derruba. A pessoa até sonha em ser piloto, mas a questão financeira acaba atrapalhando”. Dois anos de estudo podem custar R$ 70 mil.
Erbe contou que o mercado da aviação está acompanhando a crise e que por isso há pilotos sobrando. “Esse dinheiro pode não gerar um reembolso de imediato e como não estão acontecendo contratações, a pessoa não sente firmeza em investir”. Para atrair mais alunos, a escola procura criar promoções.
E como em todas as profissões, o diferencial é fator primordial na hora de disputar uma vaga no mercado de trabalho. Segundo Erbe, o inglês é exigência básica e que às vezes determina quem será contratado. “Se entre dois profissionais um falar inglês básico e o outro fluente, as chances do que fala fluente ser contratado é, sem dúvida, maior”, disse.
Por isso o Bruno, que almeja ser piloto de linha aérea, pretende passar um tempo nos Estados Unidos para melhorar o idioma. “Pretendo voltar com uma bagagem melhor do que fui. Sei que a situação no mercado é difícil e a gente tem que estar bem preparado para as oportunidades que surgirem”.
Atuando em Cuiabá há seis anos, a escola de aviação civil Flyasa é considerada o maior centro privado de formação de piloto comercial, instrutor de voo e agente aeroportuário do Centro-Oeste, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Transportando quem luta pela vida
Na área há mais de dez anos, Fábio Oliveira trabalha há quatro anos como copiloto em uma empresa de táxi aéreo que faz voos executivos para o transporte de pessoas que estão na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e precisam ser transferidas para outros Estados.
“No começo a gente fica bem apreensivo e sente bastante pela situação dos pacientes, mas com o tempo temos que nos habituar para que aquela situação não atrapalhe você durante o voo”, contou Fábio.
Em entrevista ao Circuito Mato Grosso, o copiloto explicou que sua rotina é tranquila apesar das situações adversas que passou durante esses quatro anos. “Tem muitos casos em que você leva, por exemplo, mães com recém-nascidos. Isso queira ou não afeta muito o psicológico. Acho que qualquer ser humano que tenha um pouco de afeto um pelo o outro vai sentir um pouco de angústia, mas com o tempo acabamos lidando melhor com isso”.
Seguindo os passos do pai que já tem mais de 40 anos de aviação, Fábio disse que o gosto pela profissão vem de sangue. “O gostar de voar tem que estar no sangue da pessoa. Desde novo sempre gostei de avião, sempre gostei da profissão em si e isso me levou a escolher esse ramo. Hoje eu não trocaria por nada”.
Voando uma média de 15 a 20 voos durante os plantões, o copiloto conta que a infraestrutura precária dos aeroportos no Brasil acaba atrapalhando a aviação. “A gente deixa de atender muita gente porque muitos lugares não tem pista homologada, não tem acesso e isso atrapalha demais. A saúde no Estado é muito precária e esse serviço que fazemos acaba colaborando e ajudando muita gente”, destacou.
Como piloto, Fábio aconselha quem quer entrar na profissão a começar a se preparar agora, pois há projeções positivas para o próximo ano no campo de contratações. “O que a gente houve falar é que ano que vem (2017) várias empresas de aviação vão contratar profissionais. A demanda por novos pilotos vai ser grande, então o momento é agora. Tem que se preparar enquanto está ruim porque quando melhorar você já vai estar pronto”.
As mulheres na aviação
Quando tinha seis anos de idade, Camilla de Mello Pereira viajou pela primeira vez de avião e sozinha. Encantada com a viagem, ela logo pediu para conhecer a cabine do avião e decidiu que seria piloto. E em 2016, com 23 anos, ela viu o sonho de criança se tornando realidade ao se formar em aviação.
“Minha família nunca levou a sério dizendo que logo ia passar essa conversa, ai quando eu comecei o curso foi que o pessoal entendeu que era isso mesmo que eu queria e deu certo”, contou Camilla. Agora ela se prepara para trabalhar como piloto privado e depois dará início a uma nova realização em busca da carteira de piloto comercial.
A moça de Uberlândia-Minas Gerais, que veio para Mato Grosso estudar, contou que no começo as pessoas perguntavam se ela estava se preparando para ser comissária. “Eu falava que não, que era para ser piloto. Tinha gente que dizia que não teria coragem de voar comigo, ouvi várias piadinhas, mas nada que me desmotivasse”.
A procura de mulheres pelo curso de piloto, segundo Rolffe Erbe da Flyasa Escola de Aviação Civil, ainda é pequena. “Em uma sala com 40 alunos há geralmente quatro mulheres. Dessas, apenas uma chega até o final do curso. É um número baixo ainda, mas não há restrição que impeça a mulher de entrar na profissão”.
O piloto aposentado Jose Jalmar Vargas, 73 anos, tirou a carteira há 50 anos e disse que as mulheres vêm ganhando espaço na aviação. “Já tem várias brasileiras em comando de aviões no Brasil. A mulher está atingindo os níveis de igualdade e superando algumas barreiras. A profissão é muito machista, mas, mesmo assim, elas estão conseguindo fazer o curso e se formar”.
Piloto Agrícola em Mato Grosso
Mato Grosso tem como principal atividade a agricultura e a procura por pilotos para atuar no campo cresceu. Segundo o piloto aposentado José Jalmar Vargas, da Escola de Aviação Civil Aerovag, existem 300 aeronaves agrícolas em Mato Grosso.
A procura por esses profissionais continua acontecendo, apesar da baixa contratação no mercado de trabalho. O instrutor da Aerovag, Thiago Fontes, explicou que diferente da linha aérea que precisa de passageiros, a agrícola depende apenas da agricultura. “Como a agricultura é um setor que não para no Brasil, a demanda só aumenta. Esse ano o crescimento foi menor, mas continuou expandindo”, explicou.
O piloto agrícola tem uma rotina diferente. Ele é contratado por safra e precisa ficar, na maioria das vezes, seis meses nas propriedades e isso acaba distanciando do convívio com familiares e amigos. Para Rolffe Erbe, esse seria o fator que leva os pilotos a desistirem dessa área. “Tudo é questão de perfil. Um piloto agrícola ganha bem, porém ele deixa de ter conforto, por isso alguns pilotos desistem da carreira de piloto agrícola”.
Considerada uma aviação mais arriscada a profissão acaba registrando um número expressivo de acidentes. Um dos fatores, segundo Erbe, seria o pouco tempo para se tomar uma atitude antes que a aeronave caia. “Geralmente quando algo acontece nessas aeronaves o piloto não tem tempo para buscar uma pista adequada para pouso, pois o voo é rente ao chão, diferente do piloto que voa em uma aeronave a 30 mil pés. Neste caso ele tem mais tempo para pensar e agir”, finalizou.
CIOPAer em ação
O Tenente Coronel da Polícia Militar, Comandante Henrique Santos, é piloto há 16 anos. Em 2004 ele se tornou Comandante no Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer-MT) e há um ano e meio se tornou gestor. Com 22 pilotos e sete aeronaves, Henrique contou ao Circuito Mato Grosso um pouco sobre o seu comando nesses anos.
“Para ser piloto do Ciopaer, o profissional tem que ser ou policial militar, bombeiro ou policial civil. Internamente é aberto um edital de concurso para o qual oficiais e delegados podem se inscrever e, se aprovados, fazem o curso de piloto de aviação civil. Só depois, já com a carteira de piloto privado é que ele vai receber um treinamento interno, que dura em torno de dois meses, para se tornar copiloto. E após voar por 700 horas ele pode ser Comandante de uma aeronave do Ciopaer”.
Ser piloto do Cipoaer é viver sobre dois riscos constantes. “Decolar um avião ou helicóptero já é correr risco. O piloto aqui tem o risco da aviação civil associado ao risco da profissão de policial que é muito grande. Quando juntamos as duas atividades em uma só, acabamos tendo uma carga de estresse muito grande”, explicou Henrique.
Dentre os riscos estão às perseguições, os pousos em locais públicos (ruas, campo de futebol, entre outros), voos em baixa altura e resgastes em locais de difícil acesso que acabam tornando a atividade mais perigosa. “A gente vive em preocupação constante. Cada vez que um avião ou helicóptero nosso levanta voo há uma tensão. Logicamente que nós queremos cumprir a nossa missão, mas também queremos que as aeronaves decolem, realizem a missão e retornem”.
As ações do Ciopaer resultaram em diminuição no número de homicídios em Cuiabá e Várzea Grande e na recuperação de veículos roubados, segundo o comandante. “Com as atividades que estamos implementando estamos tendo resultados imediatos. Em 2015 nós recuperamos 36 veículos roubados. Este ano (2016), só nos seis primeiros meses nós já recuperamos 60. Quase que 10 veículos por mês”.
Esses resultados acabaram incluindo o Centro em uma nova operação. O comandante contou que agora o Ciopaer ajudará a atender as ocorrências de roubos e furtos também. “Vamos mudar o foco e atender essas ocorrências para diminuir esses números também”.
Fonte: Circuito Mato Grosso
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