FADIGA III: Carga de trabalho e ritmo biológico circadiano
03 de junho de 2016 3min de leitura
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Major PM OSCAR FERREIRA DO CARMO
Grupamento de Radiopatrulha Aérea/PMESP
CARGA DE TRABALHO
Denota-se relevância à carga de trabalho na ocorrência da fadiga do piloto, pois sua a jornada, em geral, começa muito antes da decolagem com a preparação da aeronave e o planejamento e, normalmente, termina bem depois do pouso (Kanashiro, 2005).
Ademais, as atividades administrativas e operacionais não propriamente de voo são comuns em organizações militares e policiais e sobrecarregam o piloto física e mentalmente.
Mesmo as tarefas monótonas em voo ou em outras atividades podem proporcionar a fadiga por uma carência de estímulos (Kanashiro, 2005). Testes entediantes de longa duração (30 ou 40 minutos), especialmente com alguma privação do sono, demonstram uma queda no desempenho, logo após 5 ou 10 minutos do início do teste (Balkin, 2011).
Kube (2010) considera inevitável que os aviadores estejam imersos em variadas e adversas condições de trabalho que provocam perda progressiva da saúde, prejudica a qualidade de vida e a segurança de voo.
RITMO BIOLÓGICO CIRCADIANO
Os ritmos biológicos mais conhecidos são os circadianos – em torno de um dia ou 24 horas (Mena-Barreto, 2004). A organização temporal dos seres vivos, especialmente do homem, possibilita sua adaptação a fatores recorrentes ambientais (Cippola-Neto, Menna-Barreto, Marques, Afeche & Silva, 1996). No ser humano reconhece-se que o componente circadiano do ciclo vigília-sono é gerado por um relógio biológico que funciona no núcleo supraquiasmático (NSQ) do hipotálamo (Fig. 1) (Mello, Minati & Santana, 2008), localizado na base do cérebro, acima do cruzamento dos nervos óticos, o quiasma ótico.
O NSQ recebe informação visual direta e tem sensibilidade à luminosidade, gerando maior atividade elétrica durante o dia. Na realidade, o dia biológico do homem é um pouco maior que 24 horas (ICAO, 2011). Os ritmos circadianos mantêm-se mesmo sem marcadores externos ou pistas temporais, como luminosidade, temperatura, sons etc. (Fernandes, 2006).
O ritmo endógeno da temperatura corporal (Figura 2) deve ser o mesmo do desempenho físico e também de outros ritmos fisiológicos, como o cortisol e a melatonina (Mello et al., 2008).
A melatonina (Figura 2), secretada pela glândula pineal, é sensível à luminosidade ambiental, tem seu pico de secreção, normalmente das 21 às 7 horas e induz o sono. Acredita-se que a melatonina possa controlar quase todos os ritmos circadianos (Cippola-Neto et al., 1996; Fernandes, 2006; Mello et al., 2008).
O cortisol (Figura 2) é o principal glicocorticoide secretado pelas glândulas adrenais em maior proporção durante o dia, afeta o metabolismo da glicose, das proteínas e dos ácidos graxos (Guyton & Hall, 1996; Mello et al., 2008). O cortisol parece contribuir para a fadiga, quando influencia na síntese excessiva de proteínas, aumentando a oferta de aminoácidos. Um desequilíbrio na produção/utilização de aminoácidos pode desandar a liberação de neurotransmissores (Kube, 2010).
Também sujeita ao ritmo circadiano, a temperatura corporal apresenta uma curva negativa importante na madrugada e no início da tarde (Mena-Barreto, 2004). A interação entre a pressão homeostática do sono e sua variação circadiana que resulta em dois picos de sonolência em 24 horas, ocorrendo por volta de 3 a 5 horas da manhã e no começo da tarde, das 12 até 15 horas. Se houver alguma restrição ao sono à noite, será muito difícil manter-se acordado à tarde (Moreno, 2004; ICAO, 2011).
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