ANDRÉ LUIZ PAES

É interessante perceber que quando se emprega o termo “sustentável”, ainda hoje, muitas pessoas entendem como relacionado apenas ao meio ambiente, preservação de florestas, mananciais etc…, esquecendo-se o princípio básico do contexto dessa palavra para consigo mesmo.

Comecemos pela simples conceito sobre a “prática do desenvolvimento sustentável”:

“[…] É o desenvolvimento necessário, em quantidade e qualidade, compatíveis com a dignidade humana, renovação dos recursos naturais e respeito ao meio ambiente, a fim de preservar as condições de vida e de desenvolvimento das futuras gerações.” 1

Observe apenas a primeira parte desta definição – desenvolvimento e dignidade humana.

Assim, Sustentabilidade aplica-se diretamente à realidade de cada um de nós na prática do dia-a-dia. Se não chamava a atenção há poucos meses atrás, sustentável ou insustentável passou a ter um significado cada vez maior aos paulistanos (não estamos considerando os estados brasileiros que já passam por esta dificuldade) quando no início de 2014 especulava-se uma possível falta d’água pelo Estado.

Acabou sendo a realidade de municípios ao longo do ano passado – alguns ficaram dois, três, quatro e até seis meses sem água em suas residências e empresas, ocasionando problemas sociais impensáveis para a realidade paulista do século XXI: acúmulo de sujeira, aumento de pragas, doenças, desempregos e até roubo de água; um verdadeiro caos social nas localidades que sentiram (e ainda sentem) a problemática da falta do líquido da vida. Com isso, a mudança de hábitos foi inevitável e, provavelmente duradoura, se não para sempre.

Agora para 2015 vivenciamos momentos de expectativa após o período das chuvas e saber como São Paulo passará o período de estiagem, entre abril e setembro com níveis de reservatório abaixo da média regular, ainda é uma incógnita, mas, Sustentabilidade refere-se a esta capacidade de se manter não apenas um serviço, um negócio, mas abrange a própria sobrevivência da sociedade – nos perguntemos se “o fato de vivermos em sociedade, da forma como estamos habituados – água, energia, transporte etc…” será sustentável daqui a alguns anos?

Cada vez mais a sociedade questiona se “à custa de que” um produto ou serviço de um ente (Público ou Privado) vale à pena existir, em detrimento de um ambiente onde se possa viver? Entre resultados e conseqüências do serviço prestado, há lucro ou prejuízo socioambiental para a população?

Vamos a um exemplo prático ligado aos interesses diretos de qualquer Organização de Aviação de Segurança Pública – OASP: qual o balanço entre salvar vidas (numa ocorrência policial ou resgate aeromédico) produzindo resíduos de combustível lançado no ar (pela queima em voo), ou ainda sobre o descarte desse resíduo perigoso de forma inadequada ao meio ambiente, contribuindo para a degradação ambiental?

Daí, diversas são as possibilidades. Algumas pessoas afirmam que o “fim está próximo”, outras – cientistas, religiosos, especuladores ou simplesmente você conversando com alguém na sua casa ou com amigos, divergem, assentem ou simplesmente comentam sobre o que está acontecendo no mundo!

Seguindo nesta seqüência lógica, gostaria de trazer você, profissional de segurança pública – piloto de aviação, mecânico ou abastecedor, bem como os demais servidores públicos envolvidos nesse teatro de operações a refletir sobre suas ações frente à sua parte de contribuição ao que estamos vivendo nos dias de hoje – afinal, deve ser de seu interesse também, não acha!?

É bastante lógico pensarmos “no Governo como o Ente responsável pela mudança de atitude” no que se refere à Sustentabilidade, mas, esta postura de Mudança Organizacional só ocorrerá se cada indivíduo (primeiramente em si) começá-la, ora por consciência ora por força de Lei.

Em São Paulo a história começa mais ou menos assim:

Desde Outubro de 2010 tem sido apresentado e cobrado por Órgãos Federais a adaptação dos usuários do Aeroporto Campo de Marte à Lei Federal 12.305 (política Nacional de Resíduos Sólidos), objetivando instruir os concessionários (locatários dos hangares) quanto à divulgação e conscientização da legislação referente às disposições relativas ao Meio Ambiente.

Esta necessidade de regularização e obtenção de Licença de Operação Ambiental (LOA), desde então está fazendo com que tanto Entes Públicos quanto Privados, sejam inseridos, definitivamente, no tema “Sustentabilidade”.

Por conseqüência, tal situação pode (e deve!) ser considerada positiva, pois as possibilidades que o “termo Sustentável” agrega à Instituição que o pratica trás inúmeros benefícios: tanto econômicos, sociais, políticos e de imagem.

No mais, queremos explorar nos próximos artigos, não apenas a responsabilidade social, mas também as responsabilidades penais e civis que estão aplicadas desde 2006 – para o Estado de São Paulo; e em todo território nacional a partir de 2010, no que concerne ao interesse e responsabilidade das OASP, inclusive do seu próprio funcionamento, enquanto consumidor/gerador de resíduos perigosos.

Desta forma, é possível aplicar a qualquer OASP um salto de qualidade de nível internacional, com as necessárias adaptações frente às exigências de cumprimento aos dispositivos legais referentes às instalações físicas, o exercício de boas práticas (reciclagem, reuso e redução) dos combustíveis aeronáuticos, responsabilidades atinentes ao Passivo Ambiental e mudança de postura organizacional para que se alinhe aos anseios agora não mais da sociedade paulista ou brasileira apenas, e sim mundial.


Autor: André Luiz Paes é Capitão da Polícia Militar de São Paulo e piloto de helicóptero. Trabalha atualmente no Grupamento de Radiopatrulha Aérea.