Polêmica com atendimento aeromédico no Rio Grande do Sul
02 de fevereiro de 2015 4min de leitura
02 de fevereiro de 2015 4min de leitura
Durante essa semana, diversas declarações e contradições feitas pelo Secretário de Saúde do Rio Grande do Sul criaram uma polêmica acerca do termo de cooperação técnica entre Brigada Militar e Samu estadual.
Atendimento aeromédico do governo estadual deve acabar
Secretário de Saúde diz que trabalho feito por equipe de 15 médicos e enfermeiros é “totalmente dispensável”
Após investimento de quase R$ 26 milhões na compra de dois helicópteros, o serviço de atendimento aeromédico do Estado, implantado em 2012, deverá ser desativado pelo governo estadual.
Para o secretário da Saúde, João Gabbardo, o trabalho realizado por equipe de 15 médicos e enfermeiros, por meio de um termo de cooperação entre Brigada Militar e Samu, é “totalmente dispensável”.
Coordenador do serviço, Maicon Vargas classificou a decisão um retrocesso. Ressaltou que, nos últimos 12 meses, o grupo realizou 140 atendimentos, entre eles os resgates dos praticantes de rapel em Maquiné e das vítimas do acidente com ônibus da Unesul em Glorinha, ambos neste ano, e do incêndio na boate Kiss, em 2013.
— Enquanto todos os Estados investem neste tipo de serviço, o atual governo decide voltar atrás. É lamentável. A população vai ser prejudicada, pois é um serviço que pode ajudar a salvar muitas pessoas.
Gabbardo diz que foram feitos só 24 atendimentos no último ano. Segundo Vargas, a diferença entre os números ocorre porque a secretaria considera apenas os chamados via central estadual. Conforme Gabbardo, o governo vai tentar rever o investimento de R$ 26 milhões (70% deste valor já foi pago) feito em 2014 para a compra de duas aeronaves, mas a entrega de uma delas está prevista para a próxima semana.
— Vamos definir o que vai ser feito com os helicópteros. Não teríamos feito esse investimento, teríamos transferido esses recursos para a assistência e deveríamos menos para hospitais e prefeituras — disse Gabbardo.
Com a desativação do projeto, que tem custo mensal de R$ 156 mil, a demanda deverá ser atendida pela BM, como no passado, e por empresas privadas, que também atuam na coleta de órgãos para transplantes. Vargas, ex-coordenador estadual do Samu, diz que o custo da hora será cinco vezes maior com o serviço terceirizado.
Secretário recua e diz que convênio com Samu para atendimento aeromédico será mantido
Mas a atual equipe formada por 15 profissionais será substituída por outra sem dedicação exclusiva.
O governo do Estado voltou atrás na decisão de acabar com o serviço de atendimento aeromédico, que há dois anos vem sendo realizado por meio de um termo de cooperação entre Samu e Brigada Militar. Em entrevista a ZH, o secretário de Saúde, João Gabbardo, disse que a atividade era “totalmente dispensável” e que o atendimento poderia ser feito por via “terrestre com uma eficiência melhor do que pelo serviço aéreo”.
Nesta quinta-feira, após o assunto repercutir negativamente, Gabbardo afirmou que havia sido mal interpretado e que estaria se referindo à equipe de 15 profissionais — médicos e enfermeiros do Samu — contratados pela prefeitura de Imbé, no Litoral Norte, com verba repassada pelo Estado. Segundo o secretário, o termo de cooperação com o Samu será renovado, mas o grupo deverá ser substituído por profissionais vinculados ao Estado e, ao contrário de hoje, sem dedicação integral ao serviço aeromédico.
— Vai haver cobertura e gente suficiente para fazer o trabalho. Isso não vai se refletir em prejuízo para a população — argumentou.
Ontem, Gabbardo havia dito que o acordo não seria renovado e que o atendimento voltaria a ser feito como no passado: pela BM (sem o suporte de médicos e enfermeiros) e, se necessário, por empresas privadas. O secretário reiterou que é incerto o futuro das duas aeronaves adquiridas na gestão passada, ao custo de R$ 26 milhões (70% do valor já foi pago), e que deverão ser entregues em fevereiro.
Ex-coordenador estadual do Samu e chefe da equipe que será dispensada, Maicon Vargas lamenta a decisão do governo, embora ainda não tenha sido informado oficialmente. De acordo com ele, o Estado investiu na capacitação do grupo, e trocá-lo por profissionais sem preparo específico para o atendimento aeromédico seria “temerário”.
Vargas conta que os médicos e enfermeiros estão trabalhando sem receber salários há quatro meses, devido ao atraso no repasse do Estado para as prefeituras da verba destinada ao custeio do Samu. Ele ressalta que os profissionais “foram escolhidos a dedo” pela vasta experiência e que nenhum deles possui vínculo político:
— É triste ver um serviço que está se alavancando, um trabalho feito com esforço ser desmanchado por uma questão que só pode ser pessoal. Não é justo com a gente e muito menos com a população. Uma vida não tem preço. Se tivesse sido feito apenas um atendimento em dois anos, ainda assim teria valido a pena.
Conforme Vargas, foram realizados 140 atendimentos nos últimos 12 meses, como o resgate dos praticantes de rapel em Maquiné e das vítimas do acidente com ônibus em Glorinha. Os números de atendimentos realizados são contestados pela Secretaria da Saúde, que considera apenas 24 no último ano. A pasta, no entanto, leva em conta apenas os dados registrados pela central de regulação estadual do Samu, mas seriam mais de uma as origens dos chamados.
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